DITADURA NUNCA MAIS: Homenagem à memória do mipibuense José Silton Pinheiro

abril 9, 2023

José Amauri Freire – Pesquisador e membro da Comissão Norte-riograndense de Folclore A quase totalidade do povo de São José de Mipibu não conhece a tenebrosa história da morte de um mipibuense pelo aparelho repressor, durante a famigerada ditadura militar.

José Amauri Freire - Pesquisador e membro da Comissão Norte-riograndense de Folclore

A quase totalidade do povo de São José de Mipibu não conhece a tenebrosa história da morte de um mipibuense pelo aparelho repressor, durante a famigerada ditadura militar.

Já tinha ouvido muitas histórias a seu respeito, contadas por sua tia Maria Gomes e por seus primos, Dagmar, Edna, Luís e Paulo, lá pelos alpendres da comunidade de Japecanga (em São José de Mipibu).

Resolvi então pesquisar a respeito, e publico esse texto em homenagem à memória desse mipibuense, homem idealista, que perdeu sua vida na busca pelo desejo maior dos brasileiros daquela época: recuperar a tão sonhada Democracia, usurpada e destruída pelos ditadores de plantão naquele período.

JOSÉ SILTON PINHEIRO

José Silton Pinheiro, nasceu em 31 de maio de 1948, no sítio Pium de Cima, município de São José de Mipibu/RN. Era filho de Milton Gomes Pinheiro e Severina Gomes Pinheiro. Silton perdeu a mãe logo após o nascimento e passou a ser criado por sua tia Maria Gomes Pinheiro, a tia Lira, irmã de seu pai.

Silton viveu até 6 anos de idade ,no sítio onde nasceu. Depois, transferiu-se para a cidade de Monte Alegre/RN, na qual ficou até completar 10 anos de idade. A partir daí radicou-se em Natal.

Começou a militar no movimento estudantil da capital. Foi eleito presidente do Diretório do Colégio Marista de Natal, em 1965. No ano seguinte, aproximou-se do pensamento da Igreja progressista e começou a estudar no Convento de Apipucos, em Recife/PE, com o intuito de se tornar Irmão Marista.

José Silton Pinheiro, assassinado sob tortura durante a ditadura militar, é o primeiro da direita. Foto no Colégio Marista, anos 60
Foto: Petit Das Virgens

Quando ingressou na Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 1970, a sua atuação política se intensificou pela participação no movimento estudantil. No mesmo ano, tornou-se militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), atuando, inicialmente, no Nordeste e, depois, no Rio de Janeiro. Em 1972, passou a viver na clandestinidade em razão das perseguições políticas sofridas.

Foi morto, sob torturas, no dia 29 de dezembro de 1972, no Rio de Janeiro, juntamente com os seus companheiros de partido: Fernando Augusto da Fonseca, Getúlio Oliveira Cabral e José Bartolomeu de Souza.

Com relação à operação no Grajaú, que vitimou José Silton, a provável prisão anterior dos militantes e a encenação do tiroteio com a carbonização do veículo para encobrir suas mortes sob tortura ou execuções também são sustentadas pelo ex-preso político Rubens Lemos, que afirmou, em declaração prestada em 31 de janeiro de 1996, que Fernando Augusto da Fonseca (“Sandália”), José Silton Pinheiro e Getúlio de Oliveira Cabral “foram colocados, já mortos, dentro de um carro da marca Volkswagen, que foi incendiado (explodido) no Rio de Janeiro”.

Em particular, Rubens Lemos declarou que José Silton “foi assassinado pela ditadura militar” e que não houve “enfrentamento, nem tampouco reação a qualquer ordem de prisão, pois José Silton Pinheiro já estava morto”.

Soma-se a isso a análise dos registros fotográficos do local das mortes produzida pela equipe pericial da CNV, que concluiu que o carro foi carbonizado de dentro para fora, uma vez que o motor e o tanque de combustíveis estavam intactos.

Na verdade, foi montado um "teatro" para justificar a morte dos jovens revolucionários, como se tivesse ocorrida em tiroteio com os agentes da ditadura. O corpo de Silton foi encontrado totalmente carbonizado, num automóvel Volkswagem, à rua Grajaú, nº 321 - Rio de Janeiro. Foi sepultado no cemitério de Ricardo Albuquerque, em 06 de fevereiro de 1973, na cova no. 22.706, quadra 21.

Fontes: Comitê Estadual pela Verdade, Memória e Justiça RN; Memórias da Ditadura e Memorial da Resistência/SP.

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