De volta ao passado… O Parque de ‘Cachorro Quente’

                     Por Lúcia Amaral – Professora aposentada e pesquisadora das coisas de Mipibu (Texto publicado no jornal O ALERTA Nº 440 – Abril de 2014   O Parque São José,  de Manoel Ribeiro da Silva, popularmente conhecido como “Parque de Cachorro Quente”.

                    

Por Lúcia Amaral - Professora aposentada e pesquisadora das coisas de Mipibu (Texto publicado no jornal O ALERTA Nº 440 - Abril de 2014

  O Parque São José,  de Manoel Ribeiro da Silva, popularmente conhecido como “Parque de Cachorro Quente”. Seu proprietário, Manoel Ribeiro da Silva, batalhador e incansável empreendedor nesse tipo de comércio, juntamente com a sua família. Popularizou-se como “Manoel Cachorro Quente” pelo fato de ter sido ele o pioneiro a trazer para nossa cidade esta guloseima e, como consequência disso, surge o nome de fantasia do seu parque de diversão.

“Manoel Cachorro Quente”

            O parque fazia a alegria da garotada de São José de Mipibu e das cidades vizinhas. Seu Manoel estava sempre inovando e trazendo, quando podia, algo novo por mais singular que fosse e assim, seu parque ia se superando, com mais uma atração.

Filhos de Manoel Cachorro Quente sobre o veículo que transportava o seu parque

Além dos brinquedos, o parque contava com um serviço de “autofalantes” onde os apaixonados, afins ou aniversariantes do dia, ouviam uma “gravação“ (assim era anunciado) com o oferecimento de uma música de sucesso, na voz de Waldik Soriano, Núbia Lafayete, Ângela Maria, Roberto Carlos e os seguidores do yê, yê, yê ou da Jovem Guarda e até mesmo, a empolgante italianinha Rita Pavone, com os seus sucessos.

Quantas vezes nessas dedicatórias assim se ouvia: “Atenção muita atenção, alguém de camisa branca, escute esta gravação que alguém de vestido azul lhe oferece com muito amor e carinho...ou, “ de alguém para alguém, com muito amor e carinho, na voz de Teixeirinha... Coração de Luto”.       

Imagine uma festa de final de ano onde a cidade recebia um grande número de visitantes das cidades vizinhas, além dos habitantes da própria cidade (gente que não acabava mais).  Como localizar esses felizardos?... Já imaginou quantos questionamentos e procura e quantas dúvidas para aqueles que se trajavam dentro do anunciado. Serei eu, ou serás tu? Será que foi ele? Enfim...!

            Veja que simplicidade, as pessoas eram na sua maioria, simplórias e se não bastasse a declaração de amor, o convite do apaixonado(a) a dramática música do Teixeirinha “Coração de Luto”...  Hilário? Pode até ser, mas a ingenuidade não permitia que houvesse interpretação do conteúdo da referida música.  O importante era a mensagem, o recado; a música, um sucesso e eles gostavam. A relação da letra dramática com o apelo sentimental era o que menos importava.

            Na bilheteria do parque a fila só aumentava. A garotada empolgada com seus “ingressos” - comprados às vezes com muito sacrifício dos pais – só tinham olhos para a “Juju” (carrocel) para os botes (balanços). Tudo era festa, sonho, fantasia de criança e de adultos também! Havia vários tipos de carrocel: o carrossel (tradicional) com bancos de madeira, frequentado mais por rapazes e moças (namorados) uma maneira de disfarçadamente pegar na mão, levarem um papo, e até por senhores e senhoras também descontraírem.

 Praça Des. Celso Sales, onde era armado o parque de Manoel Cachorro Quente.

O carrossel de Cavalinhos, destinado as crianças que se deliciavam ao trote do cavalinho por elas escolhido. Umas sozinhas; outras, acompanhadas com seus pais que ficavam de pé ao lado, segurando seu filho quando este ainda necessitava desse cuidado. A alegria do pai ou da mãe era o reflexo da felicidade do filho.

O carrossel de cadeirinhas (Juju) também destinado às criancinhas de pouca idade, presa na parte da frente e movido manualmente através de uma manivela, sempre com muito cuidado, caso houvesse a necessidade de parar para retirar a quem estivesse enjoando ou com medo.

  Os botes, que normalmente eram utilizados por adolescentes e jovens em dupla - cada qual puxando a corda na extremidade - impulsionava o mesmo com ajuda do corpo. Havia competição uns com os outros, para ver quem  levava o seu bote mais alto, como diziam, “quem empinava mais alto”.   Era comum ver alguém pedindo para parar antes da hora, porque havia enjoado e o vômito era inevitável para desespero do seu parceiro. Imediatamente era colocada uma tábua em baixo do bote e cada vez que acontecia o atrito, o mesmo  ia perdendo sua velocidade, amortecendo e, finalmente, freando. Esse era um dos brinquedos favoritos.

            Finalmente, a Roda Gigante. Sensacional!  Esse era o brinquedo mais procurado pelos mais corajosos e afoitos. Enquanto girava, seus ocupantes ouviam várias músicas do serviço de alto falante e aproveitavam para cantarem juntos. Quando chegavam ao alto, gritavam, balançavam a cadeira, como uma maneira de mostrar que eram corajosos (um perigo).               

 Eram repreendidos pelo responsável. Mas de nada adiantava. A teimosia e a indisciplina sempre fizeram parte dos adolescentes e dos jovens, independente da época. Esse detalhe era próprio dos mais afoitos, mais levados. Na verdade, era uma “indisciplina” saudável sem maldade, com o intuito apenas de brincar, se exibir, sem faltar com o respeito àqueles que nos repreendiam.

            O parque também tinha seu atrativo na parte de lanches como pipoca, cocada, confeitos chicletes e o famoso vilão: O cigarro. Esse era o bicho; quem podia comprava uma carteira  (maço); quem não tinha esse privilégio, comprava à varejo até porque a maioria fumava escondido dos pais.

Pose de mipibuenses, após a conclusão da instalação do parque no centro da cidade

Relembrar o Parque de Manoel Cachorro Quente é uma alegria muito grande. É uma saudade gostosa de momentos maravilhosos vividos juntamente com amigos e uma oportunidade para levar às novas gerações um pouco da nossa história, das dificuldades dos nossos pais e das nossas próprias, em busca do lazer.

            Quero aproveitar a oportunidade para homenagear e agradecer a Seu Manoel (in memoram), por ter feito a alegria da garotada e por ter participado de um momento especial da vida mipibuense, sendo pioneiro desse tipo de lazer em nossa cidade.

Uma resposta para “De volta ao passado… O Parque de ‘Cachorro Quente’”

  1. Como dizia o humorista Lilico: ” Tempo bom lê.lê, não volta mais saudade.
    Como é bom recordar, como diz o autor: ” Recordar é viver a sombra do passado.
    A felicidade plena nos momentos simples, na simpliscidade de uma geração muito feliz e ordeira, que respeitava e dificilmente se envolvia em delitos. Existia respeito e muita solidariedade entre os amigos. Quem viveu esses momentos ímpares ao de relembrar e concordar. Tínhamos muito pouco, mais o suficiente pra ser muito feliz.

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