ERA UMA CASA…
Texto e fotos de Lúcia Amaral – Professora e pesquisadora … “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto não tinha nada; ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão…” Não.

Texto e fotos de Lúcia Amaral - Professora e pesquisadora
... “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto não tinha nada; ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão...”
Não. Não era uma casa engraçada; era uma casa linda na sua arquitetura, aliás, muito avançada para a época e para a cidade. Tinha teto e tinha tudo, pois tinha a tenacidade de uma família - tendo à frente o seu líder, o Dr. Mattews - vinda de outro país, outra cultura e outros costumes, fincar no Rio Grande do Norte, precisamente, em São José de Mipibu, os pilares de uma doutrina nova, até então desconhecida.

primeiro pastor da Igreja Batista Regular
Tinha o "teto" acolhedor para todos quantos quisessem participar do culto doméstico dominical, realizado todos os dias, precisamente às 8 horas por ocasião do café, com a família Mattews. Todos queriam morar ali sim, porque naquela casa surgiram as primeiras ideias, posteriormente os primeiros projetos daquela que seria a Primeira Igreja Batista Regular no o Rio Grande do Norte.

Muitos gostariam de ter morado lá, para vivenciarem o clima de amor, carinho e compreensão reinantes naquelas paredes, onde era guardada a fé de uma família cristã, decidida a executar ao pé da letra o "IDE" ensinado pelo Mestre dos Mestres.
Tinha aquela casa, paredes, teto, jardins e foi feita com muito esmero pela Missão Evangélica Americana, patrocinadora da vinda dos Missionários, incluindo aí, o Dr. Mattews, que pertencia a Sociedade Batista das Missões Nacionais.
O pioneiro dessa ação em terras potiguares foi o Pastor Carl Mattews, responsável pela fundação da Primeira Igreja Batista Regular do Rio Grande do Norte, bem como das demais Igrejas que surgiram nos municípios vizinhos, partindo dessa Igreja Mãe.

Não era uma "casa engraçada"; era uma casa onde reinava - na acepção da palavra - a mais pura demonstração de uma fé inabalável; casa que tinha os alicerces fincados no respeito aos outros credos religiosos, mesmo não recebendo de seus adeptos, a reciprocidade ao culto que professavam seus moradores.
Ali naquela casa, a Igreja Batista Regular crescia, quer nos ensaios dos hinos evangélicos que D. Adelaide (esposa do Dr. Mattews) tão bem regia ao piano, bem como no teatro infantil (do qual tive a honra de participar, pois frequentava a Igreja e era amiga de Hilém sua filha), comandado por "Jerinha" professora da Escola Dominical e responsável pelo teatro.
Muitas outras famílias acorriam às reuniões de senhoras realizadas, também, naquela casa. Todas, embaladas pelo clima de amor e fé daquela família, com os amigos que privavam do seu convívio e os visitantes desejosos de comungar daquele ambiente sadio e acolhedor, viam naquela casa não apenas uma casa com teto e paredes, mas um refúgio seguro para ouvir a pregação da Palavra do Mestre e deliciarem-se com a música sublime dos cânticos evangélicos entoados por um coral de jovens senhoras.
Hoje daquela casa apenas a doce lembrança, o sussurro do tempo e as imagens apreendidas na retina, de um fato consumado pela derrubada de suas paredes, fincadas com o amor de quem cumpriu verdadeiramente o "IDE POR TODO O MUNDO E PREGAI O EVANGELHO A TODA CRIATURA!!!"

Ao Reverendo Carl Mattews, sua mulher Adelaide Mattews e aos filhos Ricardo, Hilém, Suzy e *Carlito (filho do primeiro casamento) em nome dos meus conterrâneos, obrigada por ter honrado - com a permanência de vocês entre nós - a terra dos Moppebus!!!!


(esposa de Dr. Mattews), no interior da casa)
Maria Lúcia Amaral - com a colaboração de Maria da Cruz, secretária de D. Adelaide por cerca de 10 anos.