Valério Mesquita - Escritor (mesquita.valerio@gmail.com)

O mundo não pode ser compreendido sem se conviver com os usos, os costumes e, principalmente, o modismo musical. Certa vez, fui privado de ver os filmes do Canal clássico da SKY pelo meu filho que elegera o Rock In Rio. Daí passei a refletir sobre o tempo e suas dimensões.

Lembrei-me dos insuperáveis The Beatles dos anos 60, que encantaram o mundo e ainda hoje, 60 anos depois, as suas composições românticas são tocadas e admiradas por diferentes gerações. Daquele tempo, quais os grupos que subsistiram perenes na memória? E que canções de amor suplantaram "Help!", "She Loves You", "Love Me Do", "Hey Jude", "Let It Be", "Yesterday" e tantas outras que o milênio não apagará.

Dos grupos musicais e dançarinos do Rock In Rio, com todo o auxílio do som eletrônico, luzes candentes e cadentes, letras imbecis, exercícios aeróbicos e sensuais, hão de durar como os Beatles e suas obras primas? O carisma dos Beatles não era apenas visual, atrelado ao modismo da época. A magia era o conjunto de tudo: as letras das canções românticas simples e puras, o som mágico sem a explosão da parafernália eletrônica difusa e confusa de hoje, e, principalmente, porque os Beatles têm uma história, uma trajetória contínua e aperfeiçoada de arte, inspiração e interpretação que assinalou um tempo, antes e depois deles ninguém melhor que eles.

Saí da sala para ouvir, no quarto o CD, o nº 1, rememorativo dos principais sucessos dos jovens de Liverpool. Lá na sala, o Rock In Rio, os seus cantores, os seus gritos, a percussão exaustiva, as contorções circenses, o luxo, o lixo, as tatuagens, o nu, enfim, uma cultura musical torturada pelo indizível. Aí me lembrei do filósofo que procura, aqui e acolá, entender o mundo e seus efeitos “Bem aventurados os ruidosos desse mundo porque deles é o Reino do Caos”.

Tenho que salvar o meu filho. Quando voltei a sala ele já dormia. Bendita inocência que venceu a iniquidade.