Bandeirinhas; Um século e meio de tradição

janeiro 22, 2023

Roberto Patriota  – Jornalista e Escritor Um dos mais antigos grupos culturais, em atividade, no Rio Grande do Norte caminha com dificuldades, há décadas, apesar das adversidades e falta de apoio, vem se mantendo de pé e em pleno vigor.

 Grupo com a matriarca Dona Finha - Foto: Blog Palavra na rede

Roberto Patriota  - Jornalista e Escritor

Um dos mais antigos grupos culturais, em atividade, no Rio Grande do Norte caminha com dificuldades, há décadas, apesar das adversidades e falta de apoio, vem se mantendo de pé e em pleno vigor.

É uma tradição que caminha para um século e meio de vida, é marca maior das comemorações juninas do município de Touros/RN. As Bandeirinhas é um grupo feminino que tem sua origem no final do século XIX, e que veio se consolidar, a partir de 1910.

Desde então, se tornou estofo indelével dos festejos do São João e São Pedro, e que remete aos remotos tempos da Vila de Touros. É uma festa tradicionalmente feminina e atinge seu ponto alto na comemoração aos três santos, que a tradição tem louvor: São João, São Pedro e Santana.

Segundo depoimento de Josefa Odete de Melo, (já falecida), mais conhecida como “Dona Finha”, então dirigente da agremiação, em entrevista ao jornal Folha do Mato Grande, em julho de 1998, ela falou que, "a tradição começou, com Jane Pacheco, em fins de 1898, e que comandou o grupo até meados de1920, quando passou o bastão para Francisca Condurú, que levou os trabalhos adiante com brilhantismo e dedicação.

Dona FinhaFoto: Blog Palavra na rede

No ano de 1959, Condurú passou o grupo para Geralcina Alcina, que com dificuldades conseguiu dar continuidade a essa importante tradição, até o ano de 1982, quando se afastou por problemas de saúde. A partir daí, Dona Finha assumiu, inicialmente, a direção dessa importante agremiação cultural. 

Geralda Mourad Bandeirinhas de Touros. 
Imagem: Dione Nascimento

Finha dirigiu o grupo até 1993, passando as bandeiras para Maria Inês, que permaneceu como guardiã da tradição tourense por pouco tempo, devolvendo as bandeiras recebidas de volta para Dona Finha.

Com a morte de Dona Finha, o tradicional grupo voltou a ser conduzida por Maria Inês, depois por Francisca de Assis e, atualmente, é dirigido Maria da Paz.

O seleto time das Bandeirinhas tem uma característica bastante peculiar: homens não podem participar das comemorações, só as mulheres têm esse privilégio.

Ao longo das décadas, a tradição sofreu algumas modificações, no início, não havia forró nem bebidas alcoólicas. Só eram permitidos cantos religiosos em louvor aos três santos católicos. Hoje, além de muito forró e sanfoneiro foi permitido, bebida e comida a vontade. Embora seja uma tradição de origem religiosa, que tem louvor a santos, a Igreja Católica de Touros não participa do evento, mas, não interfere. Ao todo são três as bandeiras, uma para cada santo, daí a origem do nome.

A festa costuma atingir o seu ponto alto quando todas as devotas, em sua maioria, senhoras de idade, se atiram no rio Maceió ( que corta a cidade). Algumas despidas, para o tradicional banho de rio. O fato acontece sempre, a meia noite, no final dos ritos, culminando dessa forma a bela homenagem aos três santos populares

Rio Maceió - Touros/RN

"Grande parcela da população continua, ainda, a venerar e lembrar com cantos festivos e emoção", comentou Dona Finha, falecida em janeiro de 2020.

As bandeiras vêm perdendo muito do brilho com o passar dos anos. São vários os motivos que levaram o grupo a perder fôlego: falta de apoio financeiro, incentivo logístico e a falta de seguidoras para impulsionar a tradição e continuar caminhando em frente.

As gerações mais novas não mostram o mesmo interesse de décadas passadas nem valorizam as antigas tradições como deveriam. Apesar de tantas dificuldades e barreiras as Bandeirinhas continuam sendo a única tradição do gênero, na região do estado.

Uma resposta para “Bandeirinhas; Um século e meio de tradição”

  1. Nilo Emerenciano disse:

    Importante depoimento, necessário para registro e valorização dos nossos “autos” populares. Parabéns!!