As campanhas políticas de 1960/1965 e a energia elétrica de Paulo Afonso em São José de Mipibu
Cristóvão Ferreira Cavalcante- Mipibuense radicado no Rio de Janeiro/RJ .
Cristóvão Ferreira Cavalcante- Mipibuense radicado no Rio de Janeiro/RJ
.A campanha de 1960 foi memorável ma, também, foi uma das mais acirradas. Nela, Aluízio Alves iria imprimir um estilo que o acompanharia pela vida afora. Os lenços verdes, os galhos de árvores, os grandes comícios, a voz rouca, a peregrinação pelo interior do Estado, que ficou conhecida como “Cruzada da Esperança” e o principal trunfo de marketing político de Aluízio Alves, a legenda do Cigano Feiticeiro, em uma época em que mal se ouvia falar ainda em marketing político.
O deputado federal Aluízio Alves rompe com o partido e lança sua candidatura contra o candidato governista, Djalma Marinho, que é apoiado pelo, então, governador do Rio Grande do Norte, Dinarte Mariz.
Na campanha política, o candidato Aluizio prometia, se eleito, levar energia de Paulo Afonso a todos municípios do Rio Grande do Norte. Sua plataforma de campanha era cantada:
"... Assistência e cuidado aos agricultores, melhorar o salário dos trabalhadores. Com a energia de Paulo Afonso: Industrialização..."
Crescia a sua popularidade, com a energia de Paulo Afonso, o 'carro chefe da campanha'. Tudo foi se concretizando e Aluizio foi eleito governador, nas eleições de 3 de outubro de 1960. Na campanha de sua sucessão ao governo do estado, em 1965, o seu candidato - Monsenhor Walfredo Gurgel - sofreu grande perseguição de seus adversários políticos.
TREM DA ESPERANÇA
O Trem da Esperança, partiu de Natal lotados de correligionários da Arena Verde, parando em várias estações, durante o percurso, que tinha Nova Cruz, como destino. e, no caminho, ao retornar para Natal, o trem foi parado na Usina Estivas, por obstáculos na linha férrea. Comentou-se que o episódio foi causado pelo gerente da Usina, que era seu adversário. Esse foi mais um dos episódios que alavancou a candidatura de Walfredo Gurgel.
O Trem da Esperança, partiu de Natal lotados de correligionários da Arena Verde, parando em várias estações, durante o percurso, que tinha Nova Cruz, como destino. e, no caminho, ao retornar para Natal, o trem foi parado na Usina Estivas, por obstáculos na linha férrea. Comentou-se que o episódio foi causado pelo administrador da usina, que era seu adversário. Esse foi mais um dos episódios que alavancou a candidatura de Walfredo Gurgel.
INAUGURAÇÃO DA ENERGIA EM SÃO JOSÉ DE MIPIBU
Em plena campanha política, um dos grandes acontecimentos ocorridos em São José de Mipibu, foi a inauguração da energia elétrica vinda de Paulo Afonso, na Bahia, ocorrida do dia 17 de agosto de 1965.
Logo, ao anoitecer, os mipibuenses saíram de suas casas vendo, extasiados, ruas e praças da cidade iluminadas. Tornou-se um extraordinário feito e o mais belo espetáculo que a população de São José de Mipibu já presenciou, até àquela data.
Uma grande multidão compareceu à solenidade de inauguração. Estavam presentes, o governador do Estado, Aluízio Alves; o vice-governador Monsenhor Walfredo Gurgel (em campanha política, como candidato a governador); prefeito de São José de Mipibu, Hélio Ferreira; auxiliares governamentais; deputados; prefeitos das cidades vizinhas; representantes da Igreja; vereadores e o povo da sede do município e dos povoados.
Essas, como outras obras inauguradas nos municípios do RN, se transformavam em comícios e passeatas (na época, a legislação eleitoral permitia) da campanha política do Monsenhor Walfredo Gurgel. “O Padre” - como era conhecido-, disputava o cargo de governador com o seu conterrâneo caicoense, o senador Dinarte Mariz.
O companheiro do Monsenhor Walfredo Gurgel (PSD) era Clóvis Motta (PTB). Já a chapa adversária era, o senador Dinarte Mariz (UDN) e o vice, o médico Tarcísio Maia (UDN). Contabilizado os votos (eram cédulas em papel), foi eleita a chapa Walfredo e Clóvis Motta, com 54,94 % dos votos válidos.
Nos municípios da Grande Natal o simpatizantes os candidatos iam para os comícios em outras cidades, povoados, em ônibus, carroceria de caminhões... quando compareciam Aluizio Alves e Walfredo Gurgel.
Aluízio, inteligentemente, denominava os seus eleitores de “Gentinha”, porque seu adversário Djalma Marinho, se achava candidato da elite e dizia que eleitores de Aluízio só tinha Gentinha. Isso prejudicou a candidatura de Djalma. Uma música de autoria de Jacira Costa, animava as pessoas que acompanhavam as passeatas, noite a dentro.
Frevo da gentinha
Autor: Jacira Costa
"Eu não ligo o que falem
e não quero saber
Sou da Esperança sou demais
até morrer
Por Aluízio para o der e vier
O resto é conversa fale quem quiser
Não perca tempo, venha se divertir
Que este ano a gentinha
vai brincar até cair".
As candidaturas de Aluízio Alves e Walfredo Gurgel, tinha o apoio das “Alas-moças”, jovens que se vestiam de verde com bandeiras verdes, freneticamente gritando o nome dois dois e cantando músicas.
Alguns dias, bem antes da inauguração da energia de Paulo Afonso em São José de Mipibu, encontrei uns trabalhadores
, fazendo levantamento topográfico. Curioso, como era meu estilo, indaguei:
“- Esse serviço topográfico era obra que o Exército iria executar na rodovia BR-101?”
Na realidade, o levantamento topográfico era marcação da posição dos postes, da energia elétrica de Paulo Afonso. Pouco meses depois, começaram a chegar à cidade, caminhões trazendo os postes. A ordem era para concluir os serviços, antes da eleição para governador, entre Monsenhor Walfredo (Arena Verde) e Dinarte Mariz (Arena Vermelha).
Na minha opinião, a energia de Paulo Afonso, alavancou da campanha de Walfredo Gurgel. Até as marchinhas das campanhas, cantada pelos artistas e as 'Ala-Moças', encaixavam-se nas promessas dos candidatos da Arena Verde.
Durante a campanha o governador Aluízio Alves, foi chamado de “Cigano”. O apelido pegou de uma tal maneira, que virou música:
Cigano feiticeiro - Autora: Jacira Costa
"Cigano feiticeiro, seu feitiço meu pegou
Aqui neste lugar todos você já conquistou
Pela primeira vez que você veio ao sertão
Apresentou uma lei e conseguiu execução
Cigano feiticeiro, feiticeiro,
ai, meu Deus!
Eu faço tudo pelo governo seu
E o eleitor o que deve fazer?
É virar Cigano e votar em você.
E o adversário que o caluniou
E lhe chamou cigano, seu prestígio aumentou
Pelo voto secreto lhe daremos exposição
E a esta oligarquia quem
responde é a eleição"
Os adversários procuravam algo parar viralizar e debochar. Chegando a apelidar o candidato-sacerdote, Monsenhor Walfredo Gurgel de “Homem de saia”. Em resposta os simpatizantes do padre, criaram essa marchinha:
“Homem de saia vai continuar/ o grande governo que Aluízio vai deixar/ Deus, foi quem mandou/ esse homem de saia pra governador...”
Aluízio Alves, foi cassado como agitador de massas. No início, apoiou o Governo Militar, após o Golpe de 1964. Porém, o Cel. Paulo Salema Ribeiro, Comandante da Base Aérea de Natal, não gostava de Aluízio e fez uma ferrenha perseguição a Aluízio. Com a edição do AI-5, em dezembro de 1968, o governo militar, respaldado por aliados civis no Rio Grande do Norte, começou usar a mão pesada de um regime de exceção. Aluízio teve os direitos políticos cassados. A medida se estendeu ao irmão, Agnelo Alves, prefeito de Natal, e demais políticos que representavam “perigo” ao poder central, em Brasília.
Eu encontrei com Aluízio, em setembro de 1970, na Cinelândia, no Rio de Janeiro. Havia chegado há pouco dias a cidade e estava procurando emprego. Posteriormente, fui ao escritório dele que me recebeu e tratou muito bem. Como comecei a trabalhar na extinta Bloch Editores, o horário me ocupava e não retornei mais ao seu escritório.
Amigo Dedé, ficou perfeito!
Mérito do Jornal Alerta. Obrigado!
Toda a estratégia utilizada por Aluízio Alves, foi copiada das memoráveis campanhas do político carioca Carlos Lacerda, o que Aluízio o serviu como secretário por alguns anos no Rio de Janeiro. O velho “caminhão do povo” foi um imenso sucesso de marting para a época, fazendo o deputado Afonso Arinos afirmar que nunca havia vivido uma emoção tão fascinante.
O major Rubens Vaz, antes de ser assassinado em 1954 pelos tiros endereçados a Carlos Lacerda, havia sugerido que este amenizasse seus mordazes ataques; mas o jornalista e orador , defendeu seu estilo político agressivo insistindo que “era preciso sacudir o país”. Lacerda prestava-se admiravelmente bem a tal linha de ação. Colocando-se no meio de crises políticas, uma após a outra, muitas delas criadas pela sua própria caneta e oratória, Lacerda despertava paixões como poucos conseguiram ao longo da história republicana do Brasil.
O historiador José Honório Rodrigues escreveu que “ninguém sozinho influiu tanto no processo histórico brasileiro como Carlos Lacerda de 1945 a 1968”. Ataques políticos – uma chave para essa vasta influência – obrigaram o advogado Thomas Leonardos a concluir que Lacerda era um furação de inteligência e ação. Um outro advogado ilustre, Dario de Almeida Magalhães, ressalta que Lacerda foi “o adversário mais temido e implacável conhecido neste país, pelo menos nos últimos 60 anos”.
As colunas de jornal escritas por Lacerda, impiedosas em suas denuncias e, em geral sensacionais, revelavam os amplos interesses, diligência e inteligência de um homem cheio de ardor. Contudo, toda pessoa tem várias facetas, e as colunas de jornal tendem a esconder o homem que sentia compaixão. A visão do sofrimento, com frequência, trazia-lhe lágrimas aos olhos. Os amigos constantemente falam de como ele se preocupava em ser atencioso para com aqueles que precisavam de ajuda. Mário Lorenzo Fernandez, ex-secretário de Finanças, diz que a generosidade era a principal característica de Lacerda.
O banqueiro e político Hebert Levy menciona dois Lacerdas: “o monstro” por traz da maquina de escrever e o conversador agradável e compreensivo. Foi esse último que cheguei a conhecer, afável e interessante. As descrições de situações em que ele se encontrava metido eram temperadas com um senso de humor, regado a sátira, que eu considerava encantador. Se Lacerda em suas colunas, não mostrava nenhum comedimento ao apontar as falhas de figuras políticas, no decorrer de nossas conversas eu passava a conhecer idiossincrasias pitorescas, apresentadas às vezes com certo carinho, sobre essas figuras. Em termos de deixar passar as deficiências dos outros, Carlos chegou ao máximo ao me surpreender pedindo-me que escrevesse sua biografia.
Afonso Arinos de Melo Franco, figura proeminente na legislatura federal quando Lacerda lá se encontrava, afirmava que as atividades de Lacerda afetaram adversários e correligionários a tal ponto que “ninguém poderá se comparar ao que ele foi”. Uma coleção dos seus discursos foi publicado num volume de 800 páginas, que nos pede para ter em mente a eficácia imediata, instantânea da palavra escrita, e sobretudo falada, exercida pela poderosa inteligência e rica fluência do verbo de Carlos Lacerda na criação histórica brasileira contemporânea.
Durante a maior parte da sua carreira política no Congresso, Lacerda foi impedido de usar o rádio e a televisão porque o presidente Kubitsckek temia que as transmissões de sua oratória pudessem provocar a queda do governo. Tão combativo era o deputado novato que ganhou o cargo de líder do partido de oposição. A campanha de 1958 num velho caminhão, o Caminhão do Povo, atraiu uma enorme atenção, levando Afonso Arinos a observar: “Nunca vivi uma coisa tão estimulante, tão fantástica”. Para Lacerda a campanha de 1960 para o governo do novo Estado da Guanabara foi a mais dura de todas. O jornalista David Nasser escreveu, rude e incorretamente, que como amigo Lacerda era “horrível”; mas tinha de admitir que o candidato era honesto, inteligente e patriota, e que a natureza da luta que ele havia enfrentado num país corrupto talvez justificasse “seus excessos”.
A apertada vitória de Lacerda para o governo da Guanabara coincidiu com a esmagadora vitória de Jânio Quadros para presidente. Ninguém, nem mesmo o próprio Quadros, demonstrava tanta determinação quanto Lacerda para colocar o temperamental ex-governador de São Paulo no palácio presidencial. Lacerda atingiu aos 45 anos de idade, um novo apogeu em sua conturbada carreira política. O governador eleito e mais notável orador da República parecia estar destinado a chegar à Presidência da República. E com certeza teria sido eleito se no meio do caminho não surgisse o golpe militar de 1964.
Obrigada meu querido amigo,por sempre que nos trazer narrações de acontecimentos da nossa mui querida cidade, que costumo chamar de MEU BERÇO… Que Deus te abençoe grandemente 🙏🙏🙏 Beijos 😚😘😘 no teu coração ❤️
Essa volta ao passado, foi
sensacional. Como seria bom viver tudo isso outra vez! Simplesmente, amei. 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏Cigano feiticeiro, feiticeiro aí meu Deus… Saudades 😞😞😞
Ótima recordação, então é por isso que os bolsonaristas tem o apoio de Rogério Marinho…