Cristóvão Cavalcante – Escritor da história de São José de Mipibu e, atualmente, radicado no Rio de Janeiro

Não posso fazer uma comparação das campanhas para prefeito de São José de Mipibu, atualmente e tempos atrás. Mas, as campanhas política, anteriores a década de setenta, também eram agressivas e, até, cômicas.

A exemplo de hoje, uma "guerra" de narrativa e agressões pessoais, sem que os candidatos apresentem um plano de governo. Parecia mais alas de blocos carnavalescos, com duas representações.  Uma, liderada por Dr. Floriano Peixoto. A outra, tinha como adversário, Hélio Ferreira, que se iniciava na política.

Na campanha política para prefeito, em 1962, Fizeram uma marchinha carnavalesca em alusão ao candidato a prefeito Hélio Ferreira.

Hélio Ferreira veio do céu,
 foi o anjo que mandou, 
pra acabar com Floriano, 
que é um cão devorador.

 Olha a virada, olha a virada,
 de hoje em diante, 
Floriano não é mais nada.

Após a derrota nas eleições, Dr.Floriano "desapareceu" de São José de Mipibu e nunca mais retornou,  Aí se perpetuou no poder municipal "os Ferreira":  Hélio Ferreira e o primo Janilson Ferreira, por 21 anos seguido, como um jogo de tênis de mesa (ping pong), se alternavam na prefeitura municipal.

Anos depois retorno a minha terra, São José de Mipibu e presenciei a campanha para prefeitura entre Waldemar Veras, importado de Alexandria/RN, um "forasteiro" (hoje, essa palavra está atualizada) e Norma Ferreira, filha de um dos personagem do ping pong - Janilson Ferreira ( in memória).

Acompanhei a campanha a distância, relembrando os embates políticos de anos anteriores.

CAUSO 1

Nas campanhas municipais havia cada "figura" de candidato à vereador que não era muito diferente de hoje.

Em um comício no Bairro Novo, um candidato a vereador, discursando em cima de um caminhão, trocou o nome do Bairro Novo pelo bairro de Tancredo Neves. Um assessor do candidato, cochichou no seu ouvido: "vereador, o senhor citou o nome errado, é Bairro Novo".

O candidato a vereador,  nem perceber que o microfone estava ligado, falou: "Tudo é uma merda só". A multidão que estava no comício., caiu numa estrondosa gargalhada. No dia seguinte, a resenha se espalhou por toda a cidade.

De um modo geral, após passeatas e comícios à noite, no dia seguinte os comentários variados, chacotas davam resenha para a turma da CIT (Companhia Inimiga do Trabalho) que ficava próximo ao Cruzeiro da Matriz.

CAUSO 2

Numa campanha em São José de Mipibu dois candidatos a vereador registraram seus nomes na Justiça Eleitoral. Eram homônimos (Homônimos são palavras que têm a mesma pronúncia, às vezes, a mesma escrita) João Cabral, candidato a vereador pela comunidade rural e João Naval, que tinha residência no centro

Naquela época, a apuração dos votos era manual e ocorria na Associação Esportiva Mipibuense. Abertas as urnas, começava a separação dos votos impressos. Só dava João Cabral. Finalizando a apuração, João Naval achando que havia ganhado, comemorou a vitória.  Só que não teve um voto. O próprio João Naval se confundiu e votou no seu adversário, João Cabral, que foi o vitorioso.

As campanhas políticas, sejam municipais ou estaduais era um período de muito divertimento, com passeatas virando a noite, com comícios, regados a K-Suco - uma bebida preparada com cachaça e K-suco, na cor avermelhada, colocada em tonéis e distribuídas durante as passeatas. Em pouco tempo eram visto bêbados por todo canto... O que interessava aos eleitores era barriga cheia e diversão. Essa prática era costumeira.

Hoje, com a legislação eleitoral mudou. Não há showmícios, não pode pagar bebidas para eleitor. Isso é considerado crime eleitoral. A exemplo de hoje, havia muita intriga entre os mipibuenses, que se tornavam adversários ferrenhos.