ARTIGO; Pra não dizer que não falei do Oscar
Cefas Carvalho – Jornalista e Escritor Claro que eu iria dar meus pitacos sobre a premiação, realizada na noite deste domingo em Los Angeles, EUA.
Cefas Carvalho - Jornalista e Escritor
Claro que eu iria dar meus pitacos sobre a premiação, realizada na noite deste domingo em Los Angeles, EUA. Vamos lá:
1 - Foi a melhor leva de filmes indicados dos últimos anos, só comparável a de 2020 ("Parasita", "1917", "O irlandês", "Coringa") com pelo menos cinco filmaços acima da média que poderiam ter vencido como melhor filme e direção (e em outros anos mais fracos, o fariam): "Assassinos da lua das flores", "Anatomia de uma queda", "Zona de interesse", "Pobres criaturas" e "Oppenheimer" (o que venceu).
2 - A festa em si foi das mais bem organizadas e criativas e mostra que os organizadores estão no caminho certo em tempos de redes sociais e globalização. O apresentador Jimmy Kimmel se saiu bem, com destaque para quando leu ao vivo um twitter de Donald Trump criticando e perguntou: "Você não deveria estar preso?". A parte negativa foi quando o apresentador fez piada com os problemas antigos de Robert Downey Jr. com drogas. Hábito horroroso dos humoristas estadunidenses (e brasileiros) de fazer graça com problemas pessoais das pessoas.
3 - Por falar em Downey Jr. a vitória dele (até merecida) como ator coadjuvante por "Oppenheimer" fez parte da jornada de redenção que o Oscar gosta de celebrar, assim como a vitória da até então desconhecida Da'Vine Joy Randolph (por "Os rejeitados"), uma mulher negra fora dos padrões.
4 - As categorias técnicas ficaram divididas entre "Oppenheimer" (melhor fotografia e edição) e "pobres criaturas" (melhor direção de arte e figurino). Em um ano menos forte, "Barbie" (que é um ótimo filme e saiu só com Oscar de canção) dominaria essa faixa. Faz parte.
5 - Teve militância política. O diretor inglês Johnatan Glazer, (que é judeu) no discurso pela vitória de "Zona de interesse" como melhor Filme Internacional comparou o holocausto (tema de seu filme) a... Gaza. Ponto para Lula, portanto.
6 - A vitória de Emma Stone como atriz por "Pobres criaturas" foi merecida! Talvez o papel feminino mais complexo e desafiador do cinema dos últimos anos. Claro que se Lily Gladstone, uma mulher indígena, tivesse vencido, também seria justo e ainda haveria a força do resgate histórico. Mas a vitória de uma mulher em um papel que celebra a emancipação feminina e sexualidade livre não é pouca coisa.
7 - Cada vez mais o papo de "a academia isso e aquilo" soa irreal. Atualmente o corpo de votantes é bem vasto (vários brasileiros entre eles) e internacional, e nos últimos tempos ainda que filmes normativos tenham vencido ("Coda", "The green book") outros bem arrojados e não convencionais ("Nomadland", "Moonlight", "Parasita"), também chegaram lá. No fim das contas, Oscar, como tudo o mais, é uma mistura de negócios, arte e opinião pessoal de cada um (seja dos votantes seja dos espectadores).