Resgatando um sonho

fevereiro 16, 2025

Alex Medeiros – Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) – Texto publicado na Tribuna do Norte Desde os anos 1980 no meu retorno a Natal, quando reencontrei na casa dos meus pais, em Nova Descoberta, as revistinhas em quadrinhos que resistiram ao fim da infância, eu tomei gosto por tirar delas informações e resquícios de histórias importantes […].

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) - Texto publicado na Tribuna do Norte

Desde os anos 1980 no meu retorno a Natal, quando reencontrei na casa dos meus pais, em Nova Descoberta, as revistinhas em quadrinhos que resistiram ao fim da infância, eu tomei gosto por tirar delas informações e resquícios de histórias importantes e casos particulares que provocam algum sentimento em terceiros. E ao engordar o acervo, a partir de então, cresceu também a mania de cascaviar em suas páginas e contracapas coisas como a que segue.

Nas décadas de 1960 e 1970, as contracapas das revistas da editora Ebal eram um painel de interação da empresa com seus leitores, que nem sempre eram os jovens leitores e fãs dos seus personagens. Há alguns anos contei como achei uma carta de Câmara Cascudo agradecendo ao editor Adolfo Aizen pelas figurinhas do álbum Flores e Frutos que o velho historiador colecionava com a pequena neta Daliana na primeira metade dos anos 1970.

E folheando as revistinhas de super-heróis, cowboys, guerreiros, detetives, vampiros, vilões e monstros, achei um episódio rico em humanidade na realização do sonho de uma criança. Achei a história de uma médica exemplar.

As revistas da Ebal

Começa em março de 1954 quando na contracapa da revista Mindinho, edição 71, foi publicada uma cartinha de uma garota baiana, de 12 anos, que era uma resposta a uma enquete realizada pela Ebal: “Em sua vida, que deseja ser?”.

Lúcia Freitas Soares Azevedo dizia na missiva: “O meu maior desejo de criança é, quando crescer, tornar-me médica, empregando todos os meus esforços em benefício da humanidade sofredora”.

E continuava a baianinha: “lembrando-me principalmente dos desafortunados e pobres que não podem pagar os serviços médicos e a quem irei dedicar-me de todo o coração”. A Ebal respondeu que a carta seria relida 20 anos depois.

O tempo passou e na edição da revista Superman do mês de maio de 1970, a seção “Notícias em Quadrinhos” publicou nota recordando a carta publicada na Mindinho de 1954 e indagando o destino da menina de Feira de Santana.

A resposta veio publicada na contracapa da revista Superboy de julho de 1970 numa carta do pai de Lúcia, então com 28 anos, em que ele pedia que a Ebal fizesse chegar ao conhecimento do redator que a filha se formou em 1966.

Dizia o orgulhoso pai que a primeira parte do sonho infantil havia se realizado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia e que a filha já estava há quatro anos ajudando a aliviar o sofrimento de muitas pessoas.

“Ainda não é famosa, mas, em que pese a opinião de um pai muito coruja, acredito que em breve, pois não só se destacou como estudante, laureada da sua turma e obtendo a Medalha de Ouro Manuel Vitorino, prêmio cobiçado”.

E o tempo passou mais, muito mais, e eu fui navegar na internet em busca de notícias da Dr. Lucia Freitas Soares de Azevedo, descobrindo que seu CRM tem o número 2067 e sua dedicação à Medicina foi mais que reconhecida.

No site do CRM-BA diz que ela tem “vasta experiência e conhecimento na área, tem competência e cuidado no atendimento aos pacientes, sempre buscando proporcionar tratamento humanizado e eficaz para cada caso”.

Nas contas que fiz, ela deve ter 83 anos, localizei em 2016 uma homenagem feita a ela pela importância profissional e dedicação à missão médica. Se algum leitor souber dela ou de parentes, favor transmitir meus parabéns por aquela menina de 12 anos buscar um sonho e realizá-lo em favor de terceiros. Por isso foi destaque tão cedo numa revistinha de super-heróis.

Uma resposta para “Resgatando um sonho”

  1. Que história linda! É um verdadeiro incentivo para os jovens. Parabéns por divulgá-la