Alex Medeiros - Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) - Texto publicado na Tribuna do Norte

A novela Tieta, um dos maiores sucessos da TV Globo no horário das 20h, está de volta na programação vespertina “Vale a Pena Ver de Novo”. Antes disso, já havia chegado na plataforma Globoplay e atraído minha atenção, trazendo lembranças da exibição original há 35 anos e, principalmente, das cenas filmadas nas dunas de Natal, de Muriú, Jacumã e Genipabu. Quando estreou, em agosto de 1989, a abertura com Isadora Ribeiro foi impactante.

A suculenta modelo de 24 anos surgiu na tela com um belo e apetitoso par de seios, envolvidos e retorcidos nos efeitos especiais de Hans Donner, o então mago da tecnologia artística, e prendeu os olhares masculinos do país todas as noites na tela da TV. Lembro que por aqui, nas rodas publicitárias, dizia-se que peitos como aqueles só os da estátua do Teatro Alberto Maranhão e os de uma jovem publicitária que acabara de iniciar carreira numa das grandes agências.

Um dos maiores trabalhos do dramaturgo Aguinaldo Silva, a novela inspirada no famoso romance “Tieta do Agreste”, de Jorge Amado, contou com estrelado e volumoso elenco, praticamente utilizando todos os maiores nomes da Globo.

Em destaque Betty Faria, Yoná Magalhães, Reginaldo Faria, Arlete Salles, Ary Fontoura, Joana Fomm, Marcos Paulo, Bete Mendes, Armando Bogus, Lília Cabral, Paulo José, Claudio Corrêa e Castro, Carlos Zara e Miriam Pires.

E ainda Maria Isabel de Lizandra, Jorge Dória, José Lewgoy, Ênio Santos, Lídia Brondi, Claudia Alencar, Tássia Camargo, José Mayer, Paulo Betti, Luiza Tomé e participações especiais de Tarcísio Meira, Moraes Moreira e Pepeu Gomes.

A trilha sonora brasileira saiu em dois LPs com uma seleção de craques: Caetano, Tim Maia, Gal Costa, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Elba, Emílio Santiago e Luiz Caldas no tema central composto pelo próprio chefão Boni.

A novela teve duas outras explosões de sensualidade diárias, além de Isadora, com as cenas de Claudia Ohana (Tieta menina) e Betty Faria (Tieta mulher), sem falar de uma tenra Luciana Braga e Luiza Tomé em estado de tentação.

Tieta chegou na Globo, 8 anos depois da estrela mundial Sophia Loren vir ao Brasil tratar com Jorge Amado de um filme baseado no seu livro. Em 1980, o próprio escritor baiano esteve na casa do cineasta Carlo Ponti, lá em Roma.

A novela repetiu em mim a mesma sensação de Roque Santeiro, de 1985, tão popular quanto (ambas tiveram 65 pontos de média no Ibope). Se a primeira foi no ano do nascimento da filhota Marana, a segunda estreou no ano de Rudá.

Eu era diretor de criação da TP Publicidade, que tinha na sua carteira de clientes a Prefeitura de Ceará-Mirim, na gestão do saudoso prefeito Orione Barreto, que quando vinha a Natal abria minha porta indagando “é lei seca?”.

Era a senha para atravessarmos a rua e abrir o almoço regado à cerveja e uísque no Bar Cazarão de Themistocles. Até que um dia ele trocou a pergunta por uma convocação e disse, “amigo, vamos tomar uma e almoçar com Tieta”.

Demorei a entender, até que ele avisou que o elenco da novela estava filmando no litoral norte e que era convidado dele para almoçar no restaurante de Fernando Bezerril. Aproveitei e levei André Sudário, na época com 11 anos.

Liderados pelo diretor Paulo Ubiratan, os artistas vieram das dunas, suados, cansados e queimados. Caíram de boca nos frutos do mar e na água de coco, sob nossos olhares; o meu, especificamente, vidrado no avião Luíza Tomé.

A novela Tieta foi reprisada em 1994 e sofreu censura, quando cobriram os seios de Isadora com fitas pretas. Dois anos depois, Tieta virou filme com Sonia Braga ainda estonteante no papel que Betty Faria já tinha imortalizado.