PRESSA DE VIVER
Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa A atitude e o hábito das pessoas mudaram muito nos últimos tempos.
Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa
A atitude e o hábito das pessoas mudaram muito nos últimos tempos. Lembro-me de que quando eu era criança, as pessoas costumavam namorar antes de casar. Alguns namoros começavam na adolescência e se estendiam até que o casal atingisse a idade adulta e tivesse condições para assumir a responsabilidade de um casamento. Tanto eu como os meus contemporâneos somos testemunhas de vários namoros surgidos desta forma e culminaram em casamentos duradouros.
Hoje, tudo está diferente e uma boa parte dos jovens não sabem o que é namorar, assim como não descobriram a magia que existe na conquista. Todos têm pressa de viver as emoções da vida em apenas um minuto. Não existe paciência para se viver um romance, de modo que um casal acaba de se conhecer em uma balada e já vai morar junto, atropelando todas as fases de um romance.
Antigamente a vida se desenvolvia de forma mais lenta, sem pressa, sem atropelos e os romances poderiam surgir nas festas. Tudo começava com um olhar tímido, um convite para dançar e então começava-se um namoro. A juventude de hoje, pula a parte da conquista e, sem nenhum glamour, parte para “morar junto” sem ao menos conhecer o caráter da outra pessoa.
Esta pressa de viver a vida com tanta intensidade, tem tornado o Brasil em um recordista em separações, divórcios e fim de relacionamentos. De acordo com as estatísticas do IBGE, um a cada três casamentos termina em divórcio no Brasil. Os números ainda apontam que, nos últimos 10 anos, o divórcio cresceu 160%.
Os especialistas constatam que as causas das separações são diversas. Elas são ocasionadas pela falta de amor, traições, problemas financeiros e incompatibilidade de gênios, entre outras causas. O divórcio, neste mundo onde todos têm pressa de viver, também se transformou em algo natural. O ditado que se tornou popular nesta nova geração, determina que “para separar basta estar casado”.
De fato. No passado o processo de divórcio era mais demorado. Caso um casal decidisse dissolver seu casamento, o divórcio só seria consolidado depois que eles estivessem há, pelo menos, um ano separados.
Curioso é perceber que para tudo na vida é exigido uma preparação. Um médico, por exemplo, estuda durante cinco para se graduar em Medicina. Depois, estuda mais dois anos para fazer uma residência e mais dois para se especializar na área que deseja atuar.
Um padre só está apto a assumir uma paróquia depois de vários anos de estudo. São quatro anos estudando Filosofia, mais quatro estudando Teologia e outros quatro para fazer um curso do seu interesse. Caso deseje fazer mestrado, são outros dois anos. Para doutorado mais dois. Portanto, um -padre estuda pelo menos 16 anos, para estar preparado.
Cada atividade que alguém queira exercer na vida exige preparo, estudo, disposição em aprender, para exercer seu ofício com esmero. Ninguém inicia uma atividade sem o devido preparo. Qualquer que seja a profissão que se escolha, é exigido treinamento, estudo e muita dedicação.
Ninguém é capaz de se submeter a um tratamento dentário, por exemplo, se não conhecer a capacidade do dentista. O mesmo ocorre com os médicos. Nenhum ser humano teria coragem de se submeter à uma cirurgia cardíaca, se o médico não for devidamente capacitado.
Mas as pessoas se submetem a um casamento sem conhecer o caráter do parceiro ou da parceira. Afinal, não existe treinamento, preparo ou estudo preparatório para quem vai casar. Este é um ato ao qual os indivíduos se submetem “no escuro”. Também é inegável que pessoas mudam. Com a pressa de viver, as facilidades de se obter um divórcio e sem um manual de instrução, a maioria dos casamentos realmente está fadada ao fracasso.