Meio século de Ídolo de Pano

setembro 29, 2024

Alex Medeiros – Jornalista e Escritor ( @alexmedeiros1959) – Texto publicado na Tribuna do Norte Já escrevi aqui que 1974 foi o grande ano da dramaturgia na tela da saudosa TV Tupi, que entre fevereiro e setembro brigou ponto a ponto na guerra da audiência contra a líder TV Globo.

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor ( @alexmedeiros1959) - Texto publicado na Tribuna do Norte

Já escrevi aqui que 1974 foi o grande ano da dramaturgia na tela da saudosa TV Tupi, que entre fevereiro e setembro brigou ponto a ponto na guerra da audiência contra a líder TV Globo. Um sucesso consagrador na sequência das telenovelas Os Inocentes, O Machão, A Barba Azul e Ídolo de Pano. A última, escrita por Teixeira Filho e dirigida por Henrique Martins, foi um divisor de águas.

Diversos aspectos deram um tom de novidade nas novelas da Tupi, a começar pela produção e transmissão em cores do começo ao fim, sendo a primeira da emissora completamente colorida, depois de experimentos com o Machão e A Barba Azul. Também foi uma trama que explorou uma forte carga dramática e psicológica inserindo um protagonista carregado de distúrbios neurológicos.

Ídolo de Pano teve uma narrativa em torno da disputa de dois irmãos pelo poder de uma indústria, pela herança de uma avó e pelo amor de uma mulher. Tony Ramos (Luciano) e Denis Carvalho (Jean) roubavam a cena toda noite.

A matriarca Pauline Clermont, interpretada pela lendária Carmem Silva, comanda a maior fábrica de tecidos da América Latina e sonha com os netos tocando o negócio, onde ela já dedicou por décadas seus dias e sua energia.

Luciano é o boa praça, bom caráter, amigo dos funcionários, mas pouco dedicado ao trabalho. Jean é recém-formado em Medicina, mas de difícil temperamento que ao longo da trama vai se transformar numa esquizofrenia.

A novela introduziu duas palavras no parco vocabulário da turminha das Quintas: esquizofrenia e paranoia, os sintomas dos impulsos violentos de Jean. E as palavras foram inseridas nas peladas: “toca a bola, seu esquizofrênico”.

Na abertura, o som pauleira de guitarra dialogando no grafismo em forma de serpente, símbolo das traquinagens fratricidas de Jean. A música era “Heavy Water” do guitarrista Ray Davies com os metais da banda Button Down Brass.

Um anúncio explicava: “Uma serpente pode significar tentação, traição, ambição, maldade, o veneno que mata, o veneno que cura e até mesmo uma certa forma de amor”. E avisava das serpentes que existiam nos personagens.Ídolo de Pano foi a novela mais cara da Tupi e a primeira a lançar dois LPs, um com a trilha sonora nacional, outro com a internacional. Nas esquinas da rua Mário Lima eu cantei os hits seguindo o violão de Jorge e a escaleta de Del.

Até hoje não ouvi nenhuma interpretação do clássico de Paul McCartney, “My Love”, que se aproximasse da versão da cantora Margie Joseph. A música era tema do romance entre Jean (Denis) e René (papel de Denise Del Vecchio).

Mas o grande love que contava com a torcida dos espectadores era o de Luciano (Tony) com Andréa, personagem encarnada por Elaine Cristina em um dos seus mais empolgantes trabalhos. Era uma operária da Indústria Clermont.

Andréa namora com Jean e tem um carinho especial por Luciano, que é namorado de Luísa (Glauce Graieb), mas não morre de amores. Por sua vez, Jean trai Andréa com René e também com Alda, papel de Márcia Rita Huri.

Megalomaníaco (mais um termo que aprendi na novela), Jean tem ciúmes do irmão, preferido da avó na sucessão da empresa, e passa a criar embaraços e covardias contra Luciano. E uma coincidência alterará sua relação com Andréa.

A atriz Elaine Cristina avisa ao diretor que precisa sair do protagonismo, pois estava grávida. Henrique Martins conversa com o autor Teixeira Filho e este improvisa uma gravidez em Andréa e mais um surto esquizofrênico em Jean.

Ele abandona a namorada grávida, o irmão se solidariza com a pobre moça e depois casa-se com ela satisfazendo o desejo dos milhões de fãs da novela, que escrita em 120 capítulos, terminou com a TV Tupi estendendo para 227
Contou com os talentos de Laura Cardoso, Rildo Gonçalves, Joana Fomm, Adriano Reys, Suzana Gonçalves, Jonas Bloch, Yara Lins, Walter Foster, Ewerton de Castro. Em 1993, a Globo produziu Sonho Meu, inspirada no antigo sucesso da velha concorrente.

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