Um pouco de tudo e muito sobre quase nada
Cefas Carvalho – Jornalista e escritor Os amigos dizem, brincando, ou não, que escrevo sempre sobre os mesmos temas, que eu gravito nas minhas obsessões.
Cefas Carvalho - Jornalista e escritor
Os amigos dizem, brincando, ou não, que escrevo sempre sobre os mesmos temas, que eu gravito nas minhas obsessões. Talvez. Segundo o escritor Vargas Llosa, o escritor não escreve sobre o que quer, mas sim o que seus demônios querem que ele escreva.
O próprio Llosa durante décadas manteve em sua literatura e sua vida suas obsessões: erotismo, relações de poder, livros, sua cidade natal, Arequipa. Na reta final da vida, se tornou conservador e enveredou pela extrema-direita, apoiando Bolsonaro e Milei. Uma pena. Mas aí é assunto a se tratar em outro texto. Na verdade, o processo de mudança do liberalismo (de costumes) para o conservadorismo e também os mecanismos da extrema-direita são obsessões temáticas minha, admito.
Outras obsessões como a nostalgia dos cinquentões, uso de redes sociais, abismos geracionais ou romantismo da militância de esquerda, não estarão neste texto, para dor e delícia dos amigos queridos que brincam com isso. O que não há problema algum, afinal, há muito sobre o que escrever, posto que o Mundo está um pupurri de emoções e o Brasil ainda mais. O dinamismo dos acontecimentos e da comunicação, principalmente por zap e redes sociais (ops) faz com que cada dia seja um carrossel e que não tenhamos um minuto de tédio.
No pacote da barbárie semanal que vivemos no Brasil, vimos também o Padre Júlio Lancellotti, mais uma vez, ser vítima de discursos de ódio e de ameaças, desta vez pelo influenciador bolsonarista Paulo Sposito, defensor das armas e que ameaçou de morte o padre, que faz belo trabalho social com pessoas em situação de rua.
O ódio contra o padre Júlio nem é mais novidade, já se tornou quase uma instituição e/ou esporte da extrema direita (ops) paulistana. Assim como a aparofobia, o ódio aos pobres, não é novidade nenhuma entre a elite brasileira e grassa por essas plagas derna o descobrimento (ou invasão, como quer a narrativa decolonial).
Mas também tivemos uma sequência de competições esportivas que levam uma leveza aos dias. Para quem gosta de futebol e esportes em geral, emendamos a Copa América, a Eurocopa e em seguida as Olimpíadas de Paris. Nesta última, vivemos uma celebração do esporte, com a consagração de atletas como Simone Biles e o dream team, time de basquete norte-americano.
Tivemos ouro e brilho entre brasileiros, na verdade entre brasileiras, como Rebeca Andrade, que se tornou a maior medalhista olímpica da história do país, a judoca Beatriz Souza e a dupla de vôlei de praia Adriana e Duda. E tivemos também a demonstração sazonal de patriotismo e interesse esportivo por parte da mídia, torcedores e internautas brasileiros, que passaram sem escalas do viralatismo histórico para a mitomania, como escrevi aqui há duas semanas, encarando os demais atletas e países como inimigos e não como adversários e vendo qualquer decisão de juízes que não beneficiassem atletas do Brasil como roubo puro e simples. Num país passional como o nosso, faz parte, é claro.
E no mesmo domingo que nos encantamos com o encerramento dos jogos olímpicos, vimos também a queda do avião da VoePass (em Vinhedos/SP, quando fazia a rota Cascavel-Guarulhos) com 62 passageiros, todos perdendo a vida. Uma tragédia aérea que chocou o país e ensejou condolências, solidariedade às famílias e luto.
Salvo para a equipe de resgate que achou de bom tom bater uma foto quase festiva nos destroços para postar nas redes sociais. E dos internautas, incluindo amigos meus devidamente desamigados, que acharam por bem postar imagens dos destroços e do resgate. Redes sociais e grupos de zap se tornaram campo fértil para morbidez e falta de noção.
E acabei abordando um dos temas da qual tenho obsessão. Faz parte.