Por José Alves e colaboração de Cristóvão Cavalcante

Abel Isaías de Macêdo Sobrinho (era também conhecido por 'Abel de Zezé), era filho do casal José Isaías Filho e Antônia Martins de Oliveira. Nasceu no dia 25 de abril de 1950 e faleceu no dia 09 de setembro de 2015, com 65 anos de idade.

Teve onze irmãos: o mais velho, Geraldo Isaías de Macêdo (Geraldo de Zezé - in memoriam), Manoel Isaías de Macêdo (Manoel de Zezé - in memoriam), José Leão de Macêdo (Zezinho de Zezé - in memoriam), Francisco Canindé Macêdo (in memoriam), Antônio Isaías de Macêdo (in memoriam), Odilon Isaías de Macêdo ('Açúcar'), Maria de Lourdes Isaias de Macêdo (Lurdinha - in memoriam), Maria Isaías de Macêdo (' Milinha' - in memoriam), Maria das Graças de Macêdo ('Graça de Zezé' - in memoriam) Maria do Carmo Isaías de Macêdo (Carminha de Zezé) e Arlindo Isaías de Macêdo (Poeta - já falecido).

Sobre a vida de Abel, o pesquisador e historiador, Cristóvão Cavalcante, atualmente radicado no Rio de Janeiro, comenta: "quando criança e adolescente, Abel era determinado, irreverente, carismático e atrevido. Não baixava a cabeça e enfrentava a sua homossexualidade com resignação".

"Ele não admitia ninguém ridicularizá-lo. Com muito humor, encarava numa boa, sua opção sexual. Com o tempo e a convivência, aos poucos, os mipibuenses passaram a respeitá-lo. Naquela época, não era fácil ser gay. Ele se auto denominou de 'Miss France' (um perfume, que ainda hoje existe)". Era um bom humorista, fazia piada de todos e tudo, até dele próprio. Não conheço, ninguém, que não gostasse dessa figura mipibuense", diz.

Abel era arrojado e destemido. Nos anos 60 pareceu em São José de Mipibu, um indivíduo, tirando a maior onda. A turma que fazia parte da CIT - Companhia Inimiga do Trabalho-, passou a respeitar o cara que era usuário de maconha e se auto denominava de "Balkemoro Willian de Mococa". A turma o respeitava.

- Não mexe com esse cara, ele veio de Recife, alertava alguém da nossa turma. Balkemoro, se achava o bicho-papão. Metia medo nos mipibuenses.  Esse indivíduo achou de 'peitar' (enfrentar, desafiar, encarar) Abel. 'Caiu do cavalo' (uma expressão popular que significa não ser bem sucedido em alguma atividade, quando se tinha certeza de bons resultados), e foram para a porrada (golpe muito violento; pancada, tapa). Ao final da briga, Balkemoro ficou desmoralizado. Abel não levava desaforo, para casa. Balkemoro bateu em retirada nunca mais foi visto em Mipibu.

Cristóvão acrescenta que, "A sociedade mipibuense o respeitava e o respeito era mútuo. Abel era uma pessoa muito prestativa. Não media esforços para ajudar quem necessitava de sua ajuda".

Cristóvão relembra que, "no ano de 1969 eu, juntamente com outros rapazes, concluintes do Ginásio Estadual de São José de Mipibu, prestamos exame de seleção para ingressar na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN). Aprovados, alugamos uma casa, na Praça das Mães (na subida do bairro da Ribeira para a Cidade Alta), em Natal. A casa funcionava como uma "Republica Estudantil" (tipo de moradia compartilhada por estudantes vindo de outras cidades, onde dividem despesas e responsabilidades domésticas em um ambiente independente, visando a convivência, socialização e redução de custos com moradia durante os anos de estudos). Abel veio de Mipibu e, como voluntário, passou a ser o nosso cozinheiro, sempre respeitoso e muito solícito".

POLÍTICA

Nas eleições de 2008, Abel Isaías procurou ingressar na política do município. Ia testar sua popularidade, lançando seu nome para a uma vaga na Câmara Municipal. Dizia aos amigos: - Se eu for eleito, com o salário de vereador, vou ajudar não aos pobres, porque eu, também, sou pobre. Irei ajudar as pessoas abaixo da linha da pobreza, principalmente, os residentes nas comunidades de Caeira e Sítio Buraco".

O seu nome foi rejeitado na Convenção partidária, que homologa os nomes dos candidatos que iriam concorrer as eleições. Isso o deixou magoado e frustrado.

"Tenho certeza, se tivesse concorrido e se tivesse sido eleito, a sua intenção de ajudar o povo pobre daquelas comunidades, ele cumpriria a sua promessa de campanha, no entanto, não conseguiu se eleger", comenta Cristóvão

CARNAVALESCO

Ele era um carnavalesco nato. O bloco carnavalesco "As Puaras" tinha sempre como porta-bandeira a graça e irreverência de Abel Isaías. Desfilava como porta-bandeira do bloco com muita ousadia mostrando toda sua exuberância, pelas ruas da cidade sendo aplaudido pelo público.

Carnaval de 2012, a presença e alegria de Ramiro ('Lula mipibuense') e Abel Isaías, componente do bloco As Puaras, fazendo toda a diferença na festa do carnaval na Equipe Saúde da Família da UBS Porto Seguro

FALECIMENTO

Na tarde do dia 09 de setembro de 2015, a cidade foi surpreendida com a notícia do seu falecimento. O corpo de Abel foi velado no Centro Social Monsenhor Antonio Barros. No dia seguinte, às 10h, após a missa de corpo presente, na Igreja Matriz, o cortejo seguiu para o cemitério local, onde foi sepultado.

TROFÉU

"Em 2017, na gestão do ex-prefeito Arlindo Dantas, a Secretaria Municipal de Cultura criou o troféu “Carnavalesco Abel Isaías de Macêdo”, distinção criada para destacar os nomes inseridos na história do carnaval e figuras marcantes do carnaval de São José de Mipibu. "O homenageado naquele ano foi o carnavalesco Valdir Naval (in memoriam), criador da escola "Malandros do Samba". O troféu foi recebido do prefeito Arlindo Dantas, pelo vice-presidente da escola, Manoel dos Móveis"declarou Maria Dantas, atual Secretária de Cultura e Turismo.

Nos anos seguintes outras personalidades carnavalescas foram agraciadas com o troféu, entre elas: Zé Bonitinho (Tribo de Indios Mobralinos), Manoel dos Móveis, os blocos tradicionais do município. No Carnaval deste ano (2024), a homenageada com o troféu, foi Maria Izomar, que foi rainha de bateria da “Malandros do Samba”(atualmente extinta) .

Manoel dos Móveis representando Valdir Naval (in memoriam) recebe o troféu “Carnavalesco Abel Isaías de Macêdo”, das mãos do prefeito Arlindo Dantas

DEPOIMENTO SOBRE ABEL ISAÍAS

 Por Didi Avelino

Abel Isaías foi um dos mais doces e cativantes personagens de uma história vivida e testemunhada em São José de Mipibu e que teve seu início nos anos 70.

Tal qual um protagonista burlesco de aventuras inconsequentes, Abel era alegre, extrovertido, cativante, sedutor e, maravilhosamente, transgressor. Assim, munido das virtudes já citadas, fundou e estabeleceu seu "reinado" nas terras do Barão, onde se fez amado por "súditos" e "nobreza".

Homem "de forno e fogão", sua habilidade no preparo de cardápios especiais era notável, tanto que, no início dos anos 80, se transferiu para o Piauí, a convite de oficiais do Batalhão de Engenharia e Construção, pela sua reconhecida habilidade em cozinha. Vale salientar que, à época, o referido Batalhão havia saído de Natal para instalar-se na cidade de Picos/PI.

Aonde estivesse Abel contagiava a todos com a sua alegria e humor irreverente. Ciente do seu brilho pessoal e carinho com o qual os seus conterrâneos lhe devotavam, elegeu o Carnaval como data especial para, literalmente, desfilar sua realeza. Entre plumas e paetês, empunhando o estandarte das Puaras, tradicional troça carnavalesca de São José de Mipibu, ele fazia jus à consagração e efusivos aplausos que recebia.

De saudosa memória, Abel deixou uma legião de admiradores e amigos que, certamente, reconhecem na alegria e irreverência seu principal legado. 
A ele o meu eterno carinho".

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