As festa de Natal e Ano Novo em São José de Mipibu, nas décadas de 50 a 70

Cristóvão Cavalcante – Pesquisador e Escritor mipibuense, radicalizado no Rio de Janeiro As festa de Natal e Ano Novo em São José de Mipibu, nas décadas de 50 a 70, era uma só festa, porém para dois públicos diferentes: a elite e os “pé rapado” (indivíduo de humilde de condição social pobre).

Cristóvão Cavalcante - Pesquisador e Escritor mipibuense, radicalizado no Rio de Janeiro

As festa de Natal e Ano Novo em São José de Mipibu, nas décadas de 50 a 70, era uma só festa, porém para dois públicos diferentes: a elite e os "pé rapado" (indivíduo de humilde de condição social pobre).

Geralmente, depois do dia 20, eram montadas grandes barracas, com mesas com toalhas, cadeiras e garçons com uniformes de trabalho, que atendiam a elite. Já os botequins, frequentados pelos menos abastados, eram enfeitados com palhas de coqueiro. As comidas eram galinha caipira com macaxeira, picado de porco, (sarapatel), etc prevalecendo o espírito natalino.

Começava a montagem do parque de diversões de seu 'Manoel Cachorro Quente", com seus balanços (barcos), 'juju' (carrocel) e a roda gigante, além de bancas com jogos de azar, tiro ao alvo, argolinhas... Era a diversão dos mipibuenses.

O baile na Associação Esportiva Mipibuense era frequentado pela elite. Pra dificultar pessoas com menor pode aquisitivo, a direção do clube, exigia o uso de paletó. Havia um clube para os menos abastados - o Clube de 'Zé Bezerra' (onde , posteriormente funcionou o PA) .No prédio da oficina de Zé Corcino, era decorado para os bailes dos mais humildes.

Chegava o dia 24 de dezembro. Em São José de Mipibu, no período da tarde, já estava tudo nos 'trinques' (coisa especial, esmerada, muito elegante). No centro, tudo estava concluído. A fachada da Igreja Matiz enfeitada. No interior da igreja o presépio, montando com refinamento e esmero pelo artista plástico, Rubens Marques., atraia os olhares que ficavam maravilhado com os pequenos detalhes que ornamentava o presépio.

Na Praça Monsenhor Paiva, entre as cigarreiras de Paizinho, Janilson Abreu, Liliu e de Bastinho, eram montado um tablado onde se apresentava o pastoril, formada por moças e senhoras da sociedade. Por outro lado, no cabaré de João Mané, também se apresentava um pastoril formado por jovens humildes.

Andando na Noite de Natal, pelo centro da cidade, com uma multidão, no vai e vem, entre a igreja, barracas e parque de diversão havia um cheiro forte de abacaxi. Eram os donos de botequins que faziam refresco em garrafas.

PARQUE DE DIVERSÃO

O parque de diversão de Manoel Cachorro Quente", armado na atual Praça Desembargador Celso Sales, tinha variedades de brinquedos, entre eles, o 'Juju' (carrocel pra crianças), movido por uma manivela que fazia girar as cadeiras deixando as crianças delirantes de alegria. Havia os botes ( canoas). Nesse brinquedo, cabiam duas pessoas, uma de frente pra outra, onde cada um segurava uma corda para dar impulso. Alguns mais afoitos, desafiavam e quase de cabeça pra baixo, quando um empregado do parque acionava uma tábua com uma borracha, freando, quando os botes ultrapassavam a velocidade permitida. 

No parque havia um locutor de nome Braz. Com a voz empostada, lia os bilhetes que lhe eram entregues na Cabine de Som. Muitos desses bilhetes ofereciam "páginas musicais" para namorados(as) e paqueras, identificando pelas roupas que vestiam.

"- Fulano que está com um vestido de bolas vermelhas, receba essa linda página musical, de um alguém que muito te admira..." Aí Braz colocava a música, "Não de vá", com Jane e Herondy.

PASTORIL

No pastoril formada por jovens da sociedade, havia o cordão azul e o cordão encarnado, apresentado pelo animador Pedro Freire (in memoriam). A disputa era acirrada. Nas barracas, senhores de engenhos, comerciantes, políticos, visitantes, com suas famílias e convidados... ofertavam uma certa quantia para um dos cordões.

Pastoril (época mais recente) em São José de Mipibu

LEILÃO

Nessa época, a Festa dos Padroeiros de São José de Mipibu, Sant'Ana e São Joaquim era festejada no mês de dezembro, coincidindo com os festejos natalinos. Logo no início do mês de dezembro, o então, padre Antônio Barros, percorria, no Jeep do senhor Antônio da Silva, as fazendas, sítios e engenhos, angariando donativos (dinheiro ou prendas) para o leilão. O sacerdote conseguia bezerros, garrotes, carneiro... Os comerciantes ofertavam bebidas e as senhoras ofertavam perus frangos assados e pratos para o leilão.

Saudoso Monsenhor Antonio Barros

Enquanto isso as pessoas mais humildes se fartavam nos botequins, tomado cachaça, ponche de maracujá e abacaxi, além de cachorro quente, alfinim, cocorote, bolo pé de moleque, cestinha de castanha, rolete de cana... 

Havia bancas de jogo de azar: caipira, roleta, jogo de bozó, (dado). um sujeito de nome Tributino, com uma banca e três dedais de costureira, provocava os que se atreviam a jogar com ele, no conhecido jogo 'papinha'. Ninguém consegui ganhar. Ele era muito rápido no manuseio dos dedais.

Essa era a festa do Natal, que se prolongava até o dia 31, com a festa de Ano Novo. Neste dia havia o baile na Associação Esportiva Mipibuense, onde era exigido comparecer de paletó.

Se aproximava da meia noite, expectativa de todos, no largo da Igreja Matriz. A queima de fogos do pirotécnico, seu Lulu Davino era aguardada com ansiedade. Era um show de pirotecnia. Um arame estirado da frente do Barão com um foguetinho, acionado até em frete a igreja. Lá tinha um painel, uma girândola, que ao ser acionado disparava e se chocava com a girândola , que dava uma explosão de foguetes, queimava a tela com o "Ano velho" e, logo aparecia uma tela com o "Novo Ano", com aplausos e gritos das pessoas presentes.

Pirotécnico Lulu Davino
Girândola

Muitos se abraçavam e desejava um feliz Ano Novo. Após a missa, a festa continuava na Associação. Cada um se divirta com a mesma alegria.

Naquela época não havia meio de comunicação para comentar os fatos. Após os festejos as resenhas eram contadas nas rodas de amigos, nas cigarreiras de Teca, de Sebastião Amaral ou no Cruzeiro, no batente da Cooperativa e no velho coreto. Lá se reunia a CIT (Cia Inimiga do Trabalho). A resenha, os acontecimentos eram de fofocas, do que acontecia na noite anterior.

CAUSO

Me veio a lembrança de um causo, dessa época. Num desses bailes na Associação Esportiva Mipibuense um rapaz, vindo da capital, reservou uma mesa e ficou flertando com uma jovem da sociedade mipibuense. Essa moça nunca dava bolas para a rapaziada da CIT. Começou a namorar o cara, sarrou a vontade. A jovem feliz da vida, comentou que o rapaz, residente em Natal, havia lhe pedido em casamento.

Perguntando que profissão ele exercia, profissão? Respondeu: "- Trabalho para as mais altas autoridades do Estado. Sou "Lustrador freelancer (termo inglês para denominar o profissional autônomo). E continuou: "- Deputados, vereadores, prefeitos e até governadores, requisitam meus trabalhos. Sou um ótimo profissional um dos melhores do ramo, reconhecidamente".

"- Estou quase noiva. Ele vem nesse final de semana a São José de Mipibu, pedir minha mão em casamento", dizia a garota, empinando o nariz.

Foi um acontecimento bombástico. A resenha se espalhou: "-Fulaninha, se deu bem. Certo ela não querer nada com esses rapazes de Mipibu, comentava as amigas, na casa de costureira".

Se preparando para o casamento, foi um dia a Natal para fazer compras do enxoval. Andando pelo Grande Ponto ( onde havia o comércio), deu de cara com Lustrador freelancer, sentado num banquinho, engraxando sapatos. Nem conto a decepção e a vergonha que a jovem passou.

OUTRO CAUSO

Em outro baile, uns gaiatos desligaram o quadro de energia elétrica da Associação. O pau cantou no pedaço. Um rapaz (não citarei o nome) correu pelos fundos do terreno do clube, fugindo das brigas que se formaram.

Sem energia e na escuridão, o jovem tentou passar pela cerca de arame farpado que dava para a rua Princesa Isabel. Na pressa, ficou preso ao colarinho do paletó pelo arame. Começou a gritar: " -Me solta não fui eu quem desligou a energia. Me solta!" Outros rapazes que, também, fugiam da confusão , perceberam a cena e o livraram do arame. No dia seguinte, o episódio foi assunto na resenha da turma da Companhia Inimiga do Trabalho, no coreto.

Coreto na Praça Desembargador Celso Sales e o Parque de Diversão de "Manoel Cachorro Quente"

Uma resposta para “As festa de Natal e Ano Novo em São José de Mipibu, nas décadas de 50 a 70”

  1. Maria Jaci Rodrigues de Souza disse:

    Meu Deus 😪😪😪 Nossa… Parabéns meu querido amigo Cristóvão…você me fez viajar no tempo… Sinceramente… AMEI AMEI E AMEI!!! PARABÉNS!!! QUE DEUS TE ABENÇOE GRANDEMENTE BEIJOS NO TEU CORAÇÃO MEU AMIGO…