A SAGA DO VERANISTA POTIGUAR (1) Antigamente
Haroldo Varela A coisa mudou.
Haroldo Varela
A coisa mudou. Nosso veraneio era bem mais simples (e mais barato). A casa era mobiliada com móveis de segunda mão. Idem, a geladeira, fogão, panela, talheres, copos... era uma verdadeira colcha de retalhos. E o enxoval? Tudo roupa usada.
Nem se falava em perigo. Caco de vidro em cima do muro, era o que garantia nossa segurança.
Os dias começavam cedo. Café da manhã farto: queijos regionais, tapioca, cuscuz, ovo, bolo… E as farras não passavam do fim da tarde. Banana, laranja, manga, abacaxi… as frutas faziam parte da dieta na hora do lanche. À noite, após o jantar, nos reuníamos na varanda, jogo de baralho e... cama.
Muito banho de mar e Hipoglós (Creme para assaduras) era a nossa proteção contra o sol. Bicho de pé era sinônimo de um veraneio de sucesso. Na hora da farra, menino não podia encostar no tira gosto. Era só para quem tava bebendo. s bebidas? Vinho 'Sangue de Boi' com gelo; aguardente Pitú; cerveja em garrafa (só havia duas marcas - Brahma e Antarctic); Rum Montila. Todas faziam a alegria dos bebuns. Mas, vez por outra, alguém esnobava com uma garrafa de Wisky Balantines. Refrigerante só nos dias de festa, e nos finais de semana. Só havia refresco de Ksuco.
Nada de tecnologia. A imagem da tela da TV era péssima. Para que acompanhava alguma novela, era um martírio. Tina que rodar a antena e colocar bombril, para vê se melhorava. Para falar ao telefone (não havia , ainda celular), dependíamos do Posto Telefônico Local da Telern. Além do horário de funcionamento, e do humor da telefonista e do tamanho da fila dos que procuravam o serviço.
Como faltava energia elétrica, gelo era uma raridade. Não podia desperdiçar. A música era de boa qualidade. No grupo, sempre tinha alguém que arranhava um violão, acompanhado do "coral de desafinados", sempre presente. Tinha até a back voice quando as músicas eram de Vinicius de Morais. 'Andança' era a campeã. Todos sabiam um pedaço da música.
Havia um único banheiro da casa com chuveiro de água fria. Nem lembro como as portas aguentavam tantas batidas...toc ,toc, toc.
- Tá fazendo o quê? Abra logo essa porta, tá demorando muito...
Alguém grita: - Eita, a água acabou e a bomba está quebrada.
Redes, lençóis, toalhas, eram quase comunitárias. Rolos de filmes das máquinas fotográficas, eram para registrar as melhores cenas. Nada de retoques ou fotoshop. A ansiedade para ver as fotos era grande, pois só levava para revelação quando todo o filme era usado. E ainda corria o risco quando um desavisado abria a câmera, antes de rebobinar o filme, perdendo todas as fotos.
Quem não viveu tudo isso, estranha e pergunta:
- Vocês eram felizes?
Claro que sim, éramos, simples.
Nossa! Kkkkk
Era assim mesmo!