Ô saudade da gota (VIII)
Rosemilton Silva é Jornalista, escritor e radialista, natural de Santa Cruz/RN Homi, hoje veio uma saudade danada de ficar sentado na varanda da cabeceira da ponte, coisa da boquinha da noite, e ver Antonio da Ladeira que já passou pro Paraíso depois de anunciar o Boi de Reis em frente a bodega de Pedro de […].
Rosemilton Silva é Jornalista, escritor e radialista, natural de Santa Cruz/RN
Homi, hoje veio uma saudade danada de ficar sentado na varanda da cabeceira da ponte, coisa da boquinha da noite, e ver Antonio da Ladeira que já passou pro Paraíso depois de anunciar o Boi de Reis em frente a bodega de Pedro de Tico tomando uma Zinebra e batendo com a “macaca” no chão antes de entoar uma das cantigas do boi. E já vem voltando com o “istambu forrado” acompanhado dos brincantes que vão levantar poeira no chão batido da Rua do Rio depois de pedir licença ao dono da casa.
Perto do coreto em frente a igreja, João Bernardino juntamente com Cirilo, Mané Baltazar, Basto e Luiz estão terminando de armar o carrossel de cavalinhos movido pelo braço deles durante as diversões e contando com a música do fole de João Amâncio, diversão de primeira qualidade proporcionada pelo esforço de todos, seja empurrando o brinquedo ou animando ao som do fole de 8 baixos.
Apois num é que nesse rumo da lembrança me vem o olhar nada curioso e sem fazer fuxico, nos quintais onde sempre está um peru ou galinha separada pra “limpar as penas” e servir o jantar no dia do Natal, cevada a base de milho e engordada sem muito esforço. E aí vejo o peru abrindo a asa naquela sua dança de roda e a galinha cacarejando pra botar os últimos ovos antes de ser sacrificada e servida a cabidela num prato especial.
Apois num é que bate um “ribuliço” grande dentro do peito quando vem na lembrança as conversas alumiadas pelas lamparinas e lampiões das casas depois que o motor da luz dá seus três sinais de fim da energia elétrica naquele dia e o rádio vai sendo desligado e só volta a alegrar pela manhã do dia seguinte quando a bateria, que sendo carregada no tunga estivesse a plena carga.
E aí, num tem jeito, é lembrar a montagem das lapinhas nas mais diversas casas, cada uma com seu toque especial e trazendo personagens que lembram o nascimento de Cristo naquela pobre manjedoura que, nas lapinhas, é riquíssima na maioria das vezes com seus enfeites brilhando a luz das velas que ficam acesas com todo cuidado possível por quase a noite inteira.
Dá gosto lembrar as conversas reservadas dos pais preparando a compra que Papai Noel vai trazer no dia do Natal. Carrinhos e bonecas são expostos nas prateleiras com os mais diversos preços. Há aquelas mais sofisticadas, de porcelana ou gesso, e há outras de plástico, um recente material que foi agregado a fabricação de muitas outras coisas e que ficam mais baratas. Mas bom mesmo era uma boneca de milho, mesmo fora de época. Eu conheci quem guardava a palha e o cabelo secos para fabricar uma boneca e dar de presentes as netas, mantendo uma tradição de anos quando antes presenteava as filhas.
Agora me dê uma licencinha porque eu vou matar as saudades do aboio de Antonio da Ladeira e dos brincantes do Boi de Reis que já pediu licença ao dono da casa e começa a brincar dando seus “rabos de arraias”, levantando a poeira e deixando o colorido das vestes se espalharam ao som dos chocalhos de Mateus e da uma rabeca que chora a vida e morte do boi querido.