CAMINHOS DO TEMPO
Jane Coutinho – Servidora aposentada do INSS Há um “silêncio que chega com os anos”, e ele não é feito apenas da ausência de ruídos, mas da transição suave entre o que éramos e o que nos tornamos.

Jane Coutinho - Servidora aposentada do INSS
Há um "silêncio que chega com os anos", e ele não é feito apenas da ausência de ruídos, mas da transição suave entre o que éramos e o que nos tornamos. Aos 60 anos, você começa a sentir a sutileza do distanciamento.
A sala que antes pulsava com suas ideias agora parece cheia de vozes que não pedem mais sua opinião. Não é uma rejeição, é o ritmo da vida. É quando aprendemos que nossa contribuição não está no presente imediato, mas nos rastros que deixamos nos corações e mentes ao longo do caminho.
Aos 65 anos, você percebe que o mundo corporativo, outrora tão vital, é um fluxo incessante. Ele segue, indiferente ao que você fez ou deixou de fazer. Não é uma derrota, é a libertação. Esse é o momento de olhar para si mesmo, despir-se do ego e vestir a serenidade. Não se trata mais de provar, mas de ensinar, de compartilhar, de ser mentor. A verdadeira realização não é a que se exibe, mas a que inspira.
Aos 70 anos, a sociedade parece lhe esquecer, mas será mesmo?
Talvez seja apenas um convite para reavaliar o que realmente importa. Os jovens não o reconhecerão pelo que você foi, e isso é uma bênção disfarçada: você pode agora ser apenas quem você é. Sem máscaras, sem títulos, apenas a essência.
Os velhos amigos, aqueles que não perguntam quem você era, mas "como você está”, tornam-se joias preciosas, diamantes que brilham no crepúsculo da vida.
E então, aos 80 ou 90anos, é a família que, na sua correria, se afasta um pouco mais.
Mas é aí que a sabedoria nos abraça com força. Entendemos que amor não é posse; é liberdade.
Seus filhos, seus netos, seguem suas vidas, como você seguiu a sua. A distância física não diminui o afeto, mas ensina que o amor verdadeiro é generoso, não exigente.
Quando a terra finalmente chamar por você, não há motivo para medo. É a última dança de um ciclo natural, o encerramento de um capítulo escrito com suor, lágrimas, risos e memórias.
Mas o que fica, o que realmente nunca será eliminado, são as marcas que deixamos nas almas que tocamos.
Portanto, enquanto há fôlego, energia, enquanto o coração bate firme, viva intensamente.
Abrace os encontros, ria alto, desfrute os prazeres simples e complexos da vida. Cultive suas amizades como quem cuida de um jardim. Porque, no final, o que resta não são as conquistas, nem os títulos, nem os aplausos. O que resta são os laços, os momentos partilhados, a luz que espalhamos.
Seja luz, seja presença, e você será eterno.
Dedico aos meus AMIGOS DE SEMPRE que entendem que o tempo não apaga, mas apenas transforma...

Essa crônica realista e romântica me emocionou quando hoje, aos 86 anos, me sinto muito amada mas, muitas vezes, invisível quando vou ao médico(a) acompanhada e o mesmo(a) se dirige à minha companhia para explicar o devido receituário. Fico triste com essa realidade.