Uma Comissão Teológica

julho 2, 2025

Pe.

Pe. Matias Soares - Pároco da paróquia de Santo Afonso - Natal-RN 

A teologia é a ciência que tem por objeto o estudo da Revelação de Deus. É Ele o assunto desta ciência (cf. S. Tomás. Sum. Teol. Q.1, Art. 7). A Igreja tem nessa disciplina um instrumento necessário à sua ação, enquanto sacramento de salvação; já que por meio dela o mistério do Reino de Deus é testemunhado e anunciado ao mundo, com suas alegrias, dores e esperanças. A teologia oferece um programa da Igreja cristã: “os discursos teológicos exercem uma responsabilidade para uma comunidade crente cuja fé eles querem interpretar e transmitir, eles comprometem aqueles que os pronunciam como ‘homens de Igreja’ mais do que como pensadores individuais.

Esse programa, enfim, se cumpre numa multiplicidade sempre historicamente determinada de práticas discursivas e textuais: assim, é somente na exposição dessa multiplicidade e de sua história que a teologia manifesta exatamente seus traços essenciais” (cf. Jean-Yves Lacoste, “Dicionário de Teologia, Pág. 1707). A teologia, desta forma, ganha uma força à ação eclesial irrenunciável, considerando a sua inserção na história e o seu modo de interpretá-la a partir da Divina Revelação.

A Arquidiocese de Natal está vivendo o seu primeiro Sínodo. Assim como o tema e a prática da sinodalidade precisam ser o estilo da Igreja para este terceiro milênio, que é, por sua vez, “uma época de mudança e uma mudança de época”, como ensinava o Papa Francisco; há a necessidade de criarmos meios que potencializem e qualifiquem o nosso processo de evangelização.

Pesquisando sobre o que é a Comissão Teológica, com seus objetivos e finalidades, é notório que ela também é um reflexo das inovações do Concílio Vaticano II, levado a termo pelo Papa Paulo VI, que atendeu a um desejo manifestado pelo Sínodo dos Bispos e instituiu a Comissão Teológica Internacional.

Em seis de agosto de mil novecentos e oitenta e dois, o Papa João Paulo II, com a carta apostólica em forma de Motu Proprio - TREDECIM ANNI - aprova os estatutos da Comissão, que foi criada “para dar ativa colaboração à Santa Sé e principalmente à Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé”. A carta apostólica apresenta as fundamentações eclesiológicas para a instituição daquele colegiado de especialistas em disciplinas teológicas, que devem colocar seus carismas à disposição “para o vigoroso auxílio... para o desempenho da missão confiada por Cristo aos Apóstolos com estas mesmas palavras: Ide, pois, ensinai a todas as nações”.

O Pontífice ainda afirma que “estes membros podem contribuir para que, conforme a norma da fé revelada por Cristo e transmitida pela Igreja, as interrogações que hoje se põem recebam respostas mais profundas e mais adequadas”.

A partir destes princípios postos pelo Papa João Paulo II, e como estamos em fase de vivência do nosso primeiro Sínodo, rememorando um projeto antigo de Dom Heitor de Araújo Sales, que desejava formar uma equipe de ministros ordenados e outros membros do povo de Deus, que pudessem ajudar na formação e no diálogo com a cultura contemporânea.

Consonante com esta bem aventurada possibilidade, faz-se audacioso repropor, levando em conta o clima sinodal, que tenhamos em nossa Igreja Particular uma Comissão Teológica. Na linha do que foi exposto anteriormente, ela teria a missão de assessorar o Pastor Próprio da Igreja Local, em assuntos e temáticas que exijam maiores diligências teológicas e das ciências correlatas, já que a metodologia hodierna nos interpela à interdisciplinaridade, no seu ministério de ser mestre e pastor do povo santo de Deus.

Essa Comissão deve ser constituída por mestres e doutores  nas ciências teológicas e ter possíveis subcomissões para trabalhos específicos, sempre com e sob a autoridade do pastor próprio da Igreja Particular.

A nossa Igreja arquidiocesana necessita de instrumentos para que a sua atuação no mundo seja concretizada tendo em vista as várias dimensões e desafios da ação evangelizadora. O Concílio Vaticano II é o nosso referencial teórico e pastoral, que com o Papa Francisco ganhou novo impulso e realizações. Demandas novas estão batendo às nossas portas, como o desafio da inteligência artificial, colocada pelo Papa Leão XIV como a marca revolucionária dos nossos tempos.

Quando falamos de uma “Igreja em Saída” ainda temos que inteligir com mais discernimento o que isso significa e quais suas consequências. Não trata-se de movimentos retrópicos a um passado de cristandade. É a urgência de nos colocarmos em situação de presença testemunhal e corajosa em contextos nos quais o Evangelho pode ser reconhecido como verdade que liberta e salva.

A Comissão Teológica arquidiocesana deverá ter a vocação de “servidora do anúncio” desta Boa Notícia, que tem suas ‘sementes’ na cultura, que é sempre fenômeno do humano. Para isso, temos que ter uma concepção clara deste Ser, a fim de que possamos promover, também pelas ciências teológicas, um “novo humanismo”.

Sendo assim, uma das propostas que podem ser efetivadas e um fruto deste nosso Sínodo, assim como foi intuição em tempos de outrora, tendo em vista a nossa conjuntura eclesial, as nossas limitações, mas, também, sonhos e projetos para o bem maior de nossa amada Igreja Local, que já protagonizou tanto em favor do desenvolvimento humano e integral do povo fiel de Deus, em nosso estado, seria salutar que tivemos a instituição desta Comissão Teológica, que sendo servidora da Verdade, possa ser mais um canal de evangelização e auxílio, simples e humilde, para todos que desejarem e precisem “lançar as redes para águas mais profundas” (cf. Lc 5, 1-11).

Não podemos temer, nem renegar a racionalidade. Na linha do que fora posto pelo Concílio, acerca de uma teologia que tenha serventia pastoral, encarnada e situada historicamente, a nossa Arquidiocese é chamada a ter um olhar mais ousado e inserido, também teologicamente, em nossa realidade, com sua “ecologia integral” (cf. LS, cap. IV). Assim o seja!

Uma resposta para “Uma Comissão Teológica”

  1. Aldair Evangelista Dantas disse:

    Belíssimo e profundo texto. Parabéns, Pe Matias. Uma inspiração divina e necessária para a Igreja local, em meio a uma nova sociedade digital e seus augorítimos.

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