O maior dos protagonistas
Alex Medeiros – Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) Texto publicado na Tribuna do Norte A teledramaturgia brasileira, bem como as artes num todo, está de luto desde o feriado de Corpus Christi com a morte do icônico ator Francisco Cuoco.

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) Texto publicado na Tribuna do Norte
A teledramaturgia brasileira, bem como as artes num todo, está de luto desde o feriado de Corpus Christi com a morte do icônico ator Francisco Cuoco. Ele foi um dos nomes mais emblemáticos da arte cênica brasileira, com uma brilhante trajetória que se confunde com a história da televisão no Brasil. Nascido em 1933, ele começou a carreira no teatro, mas foi nas telenovelas que alcançou consagração nacional, especialmente nos tempos áureos entre 1960 e 1980.
Cuoco foi o primeiro ator encarnado num personagem de novela que eu vi na infância, posto que a magia da televisão da vizinha e a beleza loira da filha atraíram-me à casa, onde adultos acompanhavam a novela Legião dos Esquecidos, da TV Excelsior, no ar entre maio de 1968 e março de 1969. A menina com nome de santa sentava ao meu lado no muro do jardim, contemplando a TV. Vimos surgir o par romântico Cuoco e Regina Duarte.
Ele havia participado de sete novelas antes de encarnar o Dr. Fernando em Redenção. Começou a filmar depois de estrelar em Almas de Pedra, também de 1966, e já em 1968 emendou como Felipe em Legião dos Esquecidos.
Naqueles anos, a Excelsior foi berço de uma teledramaturgia mais moderna e sofisticada, brigando em pé de igualdade com a TV Tupi, a precursora das novelas nacionais. E a boa pinta de Cuoco foi a face dessa transformação.
Quando a puberdade chegou na aurora dos anos 1970, voltei a encontrar o artista na TV Globo, na trama de Selva de Pedras, a novela que mexeu com o país e consolidou a grandeza cênica e o ar de galã de Francisco Cuoco.
A TV carioca foi o espaço ideal para catapultar sua carreira, dividindo com Tarcísio Meira o protagonismo das novelas, sendo Cuoco o ator queridinho da grande autora Janete Clair, que fez dele a encarnação de galã e anti-herói.
Em Selva de Pedras ele voltou a contracenar com Regina Duarte, ambos envolvendo o país numa batalha de vaidades e traições que levou pela primeira vez uma novela a atingir índices espetaculares beirando 100% de audiência.
Entre 1971, com o Cafona, e 1977, com O Astro, o talento de Cuoco dominou a preferência popular dos telespectadores e ajudou a alimentar o lazer da minha geração com as figurinhas dos álbuns. Ele estava nos cromos e nas capas.
Ele estava em O Semideus e Carinhoso (1973), Cuca Legal e Pecado Capital (1975), Saramandaia e Duas Vidas (1976). Como Carlão em Pecado Capital tem momento especial da nossa dramaturgia: foi a melhor novela entre todas.
Durante o dia o país discutia o triângulo amoroso de Carlão, Lucinha (Betty Faria) e Salviano (Lima Duarte) e à noite se dividia entre a paixão louca de Carlão e Lucinha e o relacionamento romântico de Salviano e Lucinha.
Como Herculano Quintanilha, em O Astro (também de Janete Clair), Cuoco viveu o charlatão que usava de truques de ilusionismo para se vender como vidente. O texto inteligente da autora juntou esoterismo, fé e crítica social.
Quando os anos 1980 começaram, já estava ungido na vontade do povo à condição de um dos maiores astros na história da TV no Brasil. Brilhou em Sétimo Sentido (1982), O Outro (1987), O Salvador da Pátria e Tieta (1989).
Como poucos, Francisco Cuoco teve a habilidade de se alternar entre o drama, a picardia e o humor fino. Foi gigantesco tanto como mocinho apaixonado quanto como cafajeste machista. Sua sólida carreira é um pilar a sustentar o ambiente da nossa teledramaturgia.
