Viva Odair José
Alex Medeiros – Jornalista e escrito (@alexmedeiros1959) – Texto publicado na Tribuna do Norte Em setembro de 1972, o colunista Paulo Macedo publicou na sua coluna do Diário de Natal uma foto com um novo artista popular visitando o estúdio da Radio Poti.
Alex Medeiros - Jornalista e escrito (@alexmedeiros1959) - Texto publicado na Tribuna do Norte
Em setembro de 1972, o colunista Paulo Macedo publicou na sua coluna do Diário de Natal uma foto com um novo artista popular visitando o estúdio da Radio Poti. Era o cantor Odair José ao lado do radialista Macrino Gomes. Em março de 1973, a colunista Gilka Serzedello dizia em sua coluna da Tribuna da Imprensa que um cantor gravou uma música intitulada “Pare de tomar a pílula”, que estava tocando pouco por boicote dos fabricantes de anticoncepcionais.
O cantor e compositor goiano, que hoje faz 76 anos, é um dos maiores ícones da chamada MPB do B, a música popular brasileira brega, nomenclatura para as canções românticas e lacrimosas que explodiram no gosto do povo na fronteira das décadas de 1960 e 1970, ali nos estertores da Jovem Guarda e invadindo as raias da Tropicália. Odair e seus homólogos dominavam o rádio.
Aquela canção sabotada pela fábrica de pílulas nem tinha tal nome, foi batizada como “Uma vida só”, e jamais tocou pouco. Bateu nos ouvidos e na boca dos brasileiros e catapultou ainda mais as vendas dos discos do cantor.
Aliás, dois meses depois da nota de Gilka, Odair já estava brilhando no Phono-73, o festival da gravadora Phonogram, ao lado de Caetano, Gil, Chico, Erasmo, Ronnie Von, Nara Leão, Fagner, Maria Bethânia, Toquinho, Vinícius.
Tinha que ser muito bom e não apenas brega para dividir com um elenco daquele o majestoso palco do Anhembi, que recebeu também Elis Regina, Jair Rodrigues, Gal Costa, Ivan Lins, Simonal, MPB-4, Wanderléa e Luiz Melodia.
E tinha mais do que sucesso em vendas de discos a porção em comum de Odair com tantos nomes da nossa elite musical. Ele também compunha a lista negra do regime militar em sua caça às mensagens subversivas nas letras.
Na verdade, superar o chilique comercial da fábrica de comprimidos foi bem mais fácil do que encarar a censura a uma canção que mexia com comportamento feminino, sexualidade e penetrava na sagrada maternidade.
Enquanto Chico Buarque e Geraldo Vandré enfrentavam a tesoura federal em composições de cunho ideológico, Odair José cutucava o moralismo com temáticas que faziam parte da realidade social do Brasil profundo e suburbano.
Antes de ser censurado, ele já havia provocado a massa de uma forma emotiva narrando a paixão por uma prostituta. Nem os mais sisudos pais de família resistiram em cantarolar “eu vou tirar você desse lugar” (a meretriz na zona).
A canção de 1972 não demorou a despertar em Caetano Veloso a compreensão da força musical e afetiva da obra. Num show em 1973 ele a cantou quando a plateia gritou o bis. E se surpreendeu com a receptividade.
Quem também sacou o potencial de audiência num encontro do baiano com o goiano foi um executivo da Phonogram que sugeriu o dueto no palco do grande evento Phono-73. Desde lá, Caetano passou a adotar muitas canções bregas.
Por coincidência, naquele fértil 1973, Odair e Caetano estiveram em Natal. O irmão de Bethânia chamou o Alecrim de “poema barroco”. Nas rádios do país, o brega bombou com Waldick Soriano, Evaldo Braga, Nelson Ned, Sergio Reis, Chrystian, Fernando Mendes e Odair José com nada menos que 5 sucessos.