Velório I
Haroldo Varela Quando a hora chega… – Oi, não, não poderei, estou em um velório.

Haroldo Varela
Quando a hora chega...
- Oi, não, não poderei, estou em um velório.
- De quem, do José?
- Sim José, meu marido...
- Como? Fale alto, não estou escutando bem, muito barulho... -
- O padre está rezando a missa. Foi hoje cedo, infarto, o enterro será agora, depois da missa. Mas amanhã podemos sair sim, faz tempo que não vou ao shopping. Obrigado! Beijo, aguardo sua ligação.

Confesso que velório não é um bom programa, se eu pudesse não iria nem no meu. Mas sejamos realistas, um dia você vai escutar a gravação do GPS "você chegou ao seu destino", é inevitável. Apesar da seriedade do tema, e do momento de tristeza, acontecem cenas hilárias.
Vamos começar pela falta do que dizer: os comentários são absurdos... " - Parece que está dormindo". "- Vejam como ele está sereno"."- Era uma pessoa tão boa". "-Descansou", (preferiria ficar vivo e cansado).
Sou da opinião que é melhor escapar fedendo do que morrer cheiroso... Viúva que se preza tem que dar show, caso contrário não vale, o público não perdoa. Mas, velório também não deixa de ser um ponto de encontro, tem até cafezinho. Você revê antigos amigos em comum, e até aquele amigo que mora fora.
Difícil mesmo, é para os amigos da mesma faixa etária do finado, e aquela interrogação: "- Quem será o próximo?
Os elogios ao falecido são de praxe, parece até que estão recomendando para o além, dando boas referências.
Tenho um conhecido que adora um velório, mas não é qualquer um não. Ele sempre faz algum negócio, fecha um contrato, vende um seguro, faz um contato e assim, vai sobrevivendo.
Pois é, enquanto uns morrem, outros vendem flores. Vou dar uma paradinha, não fica bem eu ficar digitando no celular, vai começar a missa.
Até o próximo velório...
