Velório I

setembro 17, 2023

Haroldo Varela Quando a hora chega… – Oi, não, não  poderei, estou em um velório.

Haroldo Varela

Quando a hora chega...

- Oi, não, não  poderei, estou em um velório.

- De quem, do José?

- Sim José, meu marido...

- Como? Fale alto, não estou escutando bem, muito barulho... -

- O padre está rezando a missa. Foi hoje cedo, infarto, o enterro será agora, depois da missa. Mas  amanhã podemos sair sim, faz tempo que não  vou ao shopping. Obrigado! Beijo, aguardo sua ligação.

Confesso que velório não é um bom programa, se eu pudesse não iria nem no meu. Mas sejamos realistas, um dia você vai escutar a gravação do GPS "você chegou ao seu destino", é  inevitável.   Apesar da seriedade do tema, e do momento de tristeza, acontecem cenas hilárias.

Vamos começar  pela falta  do que dizer: os comentários são  absurdos...  " - Parece que está dormindo". "- Vejam como ele está  sereno"."- Era uma pessoa tão  boa". "-Descansou", (preferiria ficar vivo e cansado).

Sou da opinião que é melhor escapar fedendo do que morrer cheiroso...  Viúva  que se preza tem que dar show, caso contrário não  vale, o público não  perdoa. Mas, velório também não deixa de ser um ponto de encontro, tem até cafezinho.  Você revê antigos amigos em comum, e até aquele amigo que mora fora. 

Difícil mesmo, é para os amigos da mesma faixa etária do finado, e aquela interrogação: "- Quem será o próximo?

Os elogios ao falecido são de praxe, parece até  que estão recomendando para o além, dando boas referências.  

Tenho um conhecido que adora um velório, mas não é qualquer um não. Ele sempre faz algum negócio, fecha um contrato, vende um seguro, faz um contato e assim, vai sobrevivendo. 

Pois é, enquanto uns morrem, outros vendem flores. Vou dar uma paradinha, não fica bem eu ficar digitando no celular, vai começar a missa.

Até o próximo velório...

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