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dezembro 13, 2020

O nosso quase tudo

Manoel Bezerra – Fotógrafo, Pesquisador e Bacharel e Licenciado em História pela UFRN Em uma lauda não dá para homenagear o amigo/irmão quase cunhado, THADEU DE SOUSA BRANDÃO, assim mesmo em maiúsculo.

O professor Thadeu de Souza Brandão era professor Doutor em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFESA) e faleceu no dia 11 de novembro de 2020

Manoel Bezerra – Fotógrafo, Pesquisador e Bacharel e Licenciado em História pela UFRN

Em uma lauda não dá para homenagear o amigo/irmão quase cunhado, THADEU DE SOUSA BRANDÃO, assim mesmo em maiúsculo.

Era o ano de 1996, quando em uma tarde fui conhecer o novo amigo de Kelly Cristina. 

Era uma quinta-feira de verão, fomos ao Cavalo Marinho. Ele foi logo recitando Fernando Pessoa. Querendo sempre impressionar. 

Era muito amado e muito odiado. Não existia meio termo. Sempre vivia com intensidade tudo que aparecia na vida. Conhecedor como pouco da obra de Câmara Cascudo. Brilhou na Semana Cascudiana, realizada pelo Departamento de História, à frente, vários “medalhões” da cidade do Natal, que se sentem herdeiros de Cascudo. Ele os colocou no bolso.

Quando levei para conhecer minha família, foi adotado. Era a coisa que ele mais queria, ter uma família. Quando dormia lá em casa descia e ia para cozinha conversar com mamãe. Na época, estava fazendo o trabalho de conclusão do curso de Ciências Sociais e trabalhava, se não me engano a Festa de Santana, de Caicó. Que depois viraria Dissertação de Mestrado.

Guardo até hoje uma das suas cartas de amor. Em uma das reflexões sobre essas cartas chegamos à conclusão que as destinatárias teriam que comprar um dicionário para entender o que estava escrito. 

A cada cidade que visitava um amor novo arranjava, foi assim em Caicó, Acari, Nova Cruz, Serra Caiada... se tornou um discípulo de Max Weber, influência de um professor, como gostava de dizer sou Weberiano. 

Aos poucos fomos conhecendo sua família. Sua mãe, acho que fui o primeiro a conhecer, morava na casa de uma irmã, no bairro da Candelária. Uma imagem muito forte que até hoje não sai da minha mente. Tempos depois conheceria seu pai, ‘Seu’ Agenor.

 Ele comprou um computador modelo Pentium que tinha passado por outro amigo/irmão André Luiz. Fui deixar na casa em que morava, na rua Padre João Maria, nº 129, se não me engano. Lá conheci os outros meio-irmãos que ele foi transformando a vida deles através da educação. 

Tempos depois, conheceria o seu primo Jean. Na outra rua, seu pai tinha uma madeireira. Entre as muitas aventuras as idas à Cobra Choca, para tomar o elixir da verdade - a famosa catuaba. Em uma das idas, tomou todas e adormeceu na mesa quando acordou um Cd seu estava na mão de um outro cliente. Aos gritos, como era de costume, gritou: “devolva o meu Cd”. A pessoa assustada, respondeu: “senhor, tenha calma, foi seu amigo que emprestou”. 

O celular dele era um Star Tac, da Motorola, que sofria as consequências dos seus arroubos de fúria, quando jogava no chão ou batia na parede.

Após vários romances, sempre apareciam às espertas. Teve uma que levou a bolsa do Mestrado, durante um mês. Em uma das idas ao motel com uma pretensa esposa. Seu lado romântico falou mais alto. Comprou uma bandeja de morangos e uma lata de leite condensado e, com a sensibilidade de urso, entregou a bandeja de morangos para ela e bebeu o leite condensado. Nem precisa adivinhar o resultado.

 Outra comprou alguns pares de sandálias.  Batíamos o ponto toda sexta feira no shopping Via Direta. Era sagrado o chope e o tira-gosto de calabresa com cebola. Os garçons até hoje nos encontram e nos chamam pelo nome e perguntam pelo quarteto: André, Thadeu, Smally (Esse chegou depois) e eu. 

Durante o Mestrado conheceu a mulher com quem iria constituir uma família. Tive que dar um parecer técnico sobre o novo romance e ela, até hoje, lembra desse encontro. Foi um amor com toda intensidade brandoniana. Quando se deram conta estavam casados e morando em um pequeno kit net, nas proximidades do Campus da UFRN.

Era a versão “Eduardo e Mônica”. Quando veio o herdeiro, foi uma festa. Depois foi morar em Mossoró. Lá, foi ocupando espaço na Tv, nos jornais e nas emissoras de rádios, com seus comentários políticos e sobre  o cotidiano do “País de Mossoró”.

Com a distância, os encontros passaram a ser mais raros. Não tem como esquecer em um dos encontros, o suposto ‘sequestro’ de Sheila. Ao chegarmos, estava a polícia procurando por ela, e ele louco com o carro na garagem. Enquanto isso, Sheila encontrava-se no supermercado, ao lado da sua casa, sem saber o que ocorria.

 Brandonianas também eram suas aventuras na cozinha.  Eram receitas que ele intitulava como suas. A sua geladeira era um caso a parte. Não tinha espaço para nada. Segundo um amigo em comum, ele esperava um ataque nuclear, tinha comida para uns seis meses.

Thadeu partiu na quarta-feira, 11 de novembro de 2020. A lua, no céu, era quarto minguante. Deixará saudades nos corações e nas mentes de quem teve o prazer de sua amizade.

Ps1: O quase cunhado foi numa Semana Santa em Currais Novos com minha irmã Daguia

Ps 2: Thadeu de Souza Brandão foi professor Doutor em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFESA) e um dos coordenadores do Observatório da Violência Letal  Intencional (OBVIO), formado por estudiosos com foco na interdisciplinidade criminal.

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