Franklin Jorge - Jornalista e Escritor

Minha Avó teve a boa sorte de ter, não professores comuns e corriqueiros, mas verdadeiros Mestres que a induziram a aprimorar o seu talento natural, através a aquisição e ampliação de conhecimentos em um âmbito então valorizado e base de uma cultura que com o tempo desapareceria, o Humanismo, que por gerações e séculos fundamentou e deu consistência à valores, hoje, inexistentes, pois vivemos em uma época que encarece o medíocre e a vulgaridade, transformadas em um hábito comum e parte congênita de tudo o que caracteriza o tempo em que vivemos

Recentemente, ao deter-me no sumário do livro "Agora Soberana Potiguar" - que presta homenagem à memória de 38 Mestres que emprestaram a sua alma e deram vida ao Atheneu Norte rio-grandense, deparei-me com alguns de seus professores, na antiga e respeitável Escola Normal de Natal, onde ela estudou e da qual se desligou um mês antes de sua formatura, para tratar uma tuberculose de origem nervosa.

Ali estavam alguns de seus antigos professores, frequentemente evocados por sua memória hospitaleira, não como alguns meros repassadores de matérias didáticas, mas como educadores autênticos que desafiavam seus discípulos - como se costumava designar então os alunos - a superá-los.

Clementino Câmara, Francisco Ivo Cavamcanti, João Tibúrcio, Luís da Câmara Cascudo, Waldemar de Almeida. Hostilio Dantas, José Saturnino Paiva, entre outros nomes aureolados pela chama do saber, que os faziam exemplares e notáveis na memória coletiva.

Saturnino, espirituoso e irônico, deixou uma crônica que o distinguia por sua verve. Tinha um método peculiar e único de ensinar a Língua Portuguesa, usando de exemplos que despertavam o interesse de seus alunos e os fazia empregar corretamente as normas. Sobre a importância da vírgula, quando lecionava no Atheneu, deu este exemplo jocoso e elucidativo:

-Quando eu era moço e recém-casado, minha mulher me acordava todos os dias, dizendo: Severino, Seis e meia; levante-se... Agora, que estou velho, ela me acorda, dizendo: Severino Seis e meia, levante-se...

Educadora vocacionada e inata, instruiu-me segundo princípios hauridos de seus Mestres, como o italiano Tommaso Babbini, seu professor de canto que aprimorara a sua voz de contralto para que pudesse se tornar uma cantora lírica, segundo as normas estritas de um aprendizado tirânico e disciplinado.

As vezes, lembro-me da insistência com que me advertia a observar o exemplo dos verdadeiros Mestres. Frequentemente repetia, ao estimular em mim a superação de meus próprios limites:

- Não aspire ser um elefante entre formigas. Mas, um elefante entre elefantes.