Um santuário para Mipibu? Algumas ponderações

novembro 3, 2024

Por Padre José Lenilson de Morais – Pároco da paróquia de Sant’Ana e São Joaquim – São José de Mipibu/RN          A construção de imagens gigantescas tem aumentado no Brasil e mundo afora.

Por Padre José Lenilson de Morais - Pároco da paróquia de Sant’Ana e São Joaquim - São José de Mipibu/RN

         A construção de imagens gigantescas tem aumentado no Brasil e mundo afora. Talvez alguém considere um retorno a um estilo de “Cristandade” ou uma mistura perigosa entre religiosidade e política.

No entanto, se olharmos para as culturas mais antigas, como a budista ou hinduísta, vamos encontrar imagens de figuras “divinas” ou de homens e mulheres espirituais espalhadas por vários países asiáticos e africanos. Há imagens de Buda esculpidas de modo impressionante em montanhas, como por exemplo O Grande Buda de Leshan, na China, com 71 metros de altura.

No cristianismo católico temos também templos e esculturas impressionantes como a Basílica de São Pedro, em Roma, e o “Cristo Redentor”, no Rio de Janeiro. No nordeste brasileiro podemos vislumbrar a famosa estátua do Padre Cícero, no Juazeiro cearense, e o Santuário de Santa Rita, em Santa Cruz/RN. Só para citar dois.

            Nesse contexto, no último dia 11 de outubro foi divulgada, nas redes sociais, a visita de políticos e técnicos a um local elevado da comunidade do Ribeiro, às margens da BR 101, sendo anunciado o estudo para elaboração do projeto de construção de um santuário aos padroeiros da cidade de São José de Mipibu, Sant’Ana e São Joaquim.

      A partir dessa divulgação muitos questionamentos surgiram pedindo um posicionamento da Paróquia de Sant’Ana e São Joaquim. Assim sendo, durante a homilia da Missa por ocasião dos 179 anos de Emancipação Política de São José de Mipibu, celebrada do dia 16 de outubro, ressaltei alguns pontos que ora escrevo para o conhecimento de todos:

Padre José Lenilson de Morais - Foto: Nísia Digital

O SONHO DO SANTUÁRIO - Essa ideia surge de tempos em tempos, consistindo em um desejo antigo do Sr. Fábio Dantas, ex-vice-governador do RN. Há mais de 5 anos houve uma conversa informal conosco sobre esse projeto, mas não algo elaborado, nem mesmo um projeto arquitetônico.  Apenas ideias e planos que, agora, parecem tomar forma.

A POSIÇÃO DA PARÓQUIA - A princípio, a Paróquia não se coloca em posição contrária. Sendo algo sério, bem pensado e transparente, a Paróquia de Sant’Ana e São Joaquim, sem dúvida, participará dessa ideia. Contudo, a declaração de “Santuário” não compete a esfera civil. Em se tratando de um Estado Democrático de Direito as competências precisam ser respeitadas. Um Santuário Religioso é de competência diocesana. Neste caso, para a construção de um santuário no território de nossa paróquia é necessário e insubstituível o conhecimento e aprovação da Arquidiocese de Natal, por meio da autoridade eclesiástica competente - o Arcebispo de Natal, Dom João Santos Cardoso.

A DEVOÇÃO - Questiona-se sobre a devoção aos Santos Padroeiros. Há uma devoção suficiente que justifique um Santuário? A Paróquia de Sant’Ana e São Joaquim é uma porção do Povo de Deus eminentemente eucarística e cristocêntrica. Isso é uma benção, pois é de Jesus Cristo, e só d’Ele, que emana toda espiritualidade autêntica, toda “graça e redenção”. Assim, a devoção aos padroeiros existe sempre associada ao Mistério do Verbo Encarnado. Afinal, Jesus é o neto amado da Sant’Ana e São Joaquim. Do ponto de vista prático, a própria existência de um santuário fomenta, promove e amplia a devoção aos santos do lugar. É assim em todos os santuários católicos do mundo.

OS BENEFÍCIOS - Os benefícios para o Município são inúmeros e vão desde a promoção do turismo à geração de emprego e renda, desde que o Santuário seja planejado com outros aspectos de desenvolvimento do Município e região como: melhorias das estradas; investimentos na educação – em nível universitário ou técnico –; aperfeiçoamento da agricultura familiar; execução de projetos sociais para desenvolvimento e autolibertação das comunidades mais carentes; aperfeiçoamento da segurança; e o indispensável cuidado com a “Casa Comum”, ou seja, não é possível pensar num “santuário de pedras” sem pensar na proteção do “santuário vivo”. Quanto a isso, também, devemos pensar na natureza tão ameaçada e destruída em São José de Mipibu, terra riquíssima em solo e mananciais, mas que ainda cuida muito pouco deles. Os rios, riachos e olheiros carecem de acompanhamento e fiscalização permanente. Tenho dito insistentemente que São José de Mipibu, se não cuidar de suas fontes, em um futuro não muito distante, sofrerá com a carência de água potável.

A LOCALIZAÇÃO - Não há o que questionar. Se construído, será o santuário mais bem localizado de todo o Nordeste, uma vez que a BR 101 liga a maioria do Estados do Nordeste e uma parte significativa do Brasil. Disse, por ocasião da missa do dia 16 de outubro: “Os maiores divulgadores serão os caminhoneiros e as demais pessoas que, usando a rodovia federal, em qualquer sentido, contemplarão as imagens de Sant’Ana, São Joaquim e da Virgem Maria (nos braços de Ana) e divulgarão por onde passarem.

OS RISCOS E CUIDADOS - Os riscos existem e, se uma cidade não for bem preparada, um santuário atrai riscos e desafios para sua logística, sobretudo, o social, nas áreas de transporte e de acolhimento. Tudo isso deve debatido, também, com a iniciativa privada. Deve-se ter um olhar especial com a questão social, pois é natural a chegada de pessoas de outras cidades em situação de vulnerabilidade. Este ponto precisa ser bem pensado, planejado e executado para além dos governos. Deve ser algo permanente.

A AMPLIAÇÃO DA VISÃO E ELABORAÇÃO - Do ponto anterior decorre a imperativa necessidade de ampliar a discussão, incluindo a participação direta de todas as secretarias municipais. Sem um plano amplo e que vá além de um ou outro grupo político, o santuário pode ser um marco físico de uma ou outra gestão, mas não ajudará no pleno desenvolvimento de um povo.

O DIÁLOGO PERMANENTE -Nos tempos atuais, o diálogo é fundamental. Nenhum projeto será bem-sucedido se faltar um diálogo permanente, sério, sincero e aberto com a Igreja (Arquidiocese e Paróquia) e com toda sociedade civil. Um santuário deve estar casado com a honestidade, transparência, justiça e empenho para o pleno bem comum. O que é de Deus deve ser bênção para todos ou, ao menos, para o maior número de pessoas possível, caso contrário, não será um santuário, será apenas um “monte de pedras” sem vida. Jesus quer a vida do seu povo. Sant’Ana e São Joaquim intercedam para que a vida, em todos os aspectos e etapas, seja cuidada, protegida e amada. Só assim um santuário poderá atingir seus plenos objetivos espirituais, culturais e sociais.

Uma resposta para “Um santuário para Mipibu? Algumas ponderações”

  1. Santiago Nunes Dos Santos Filho disse:

    A ideia pode ser boa desde que seja observado esses pontos citados pelo Padre Lenilson. Um estudo além desse cuidado com o meio ambiente e a observação da água…