Um presente de memórias
João Hortêncio Sobrinho – Professor de Geografia , na cidade de Pedro Velho/RN Existem pessoas que são, por natureza, desligadas de muitos fatos da vida cotidiana, guardando em suas mentes, apenas, aquilo que considera relevante, a exemplo de algumas celebrações, tragédias, acontecidos de sua vida familiar e aí se encerra a lista.
João Hortêncio Sobrinho - Professor de Geografia , na cidade de Pedro Velho/RN
Existem pessoas que são, por natureza, desligadas de muitos fatos da vida cotidiana, guardando em suas mentes, apenas, aquilo que considera relevante, a exemplo de algumas celebrações, tragédias, acontecidos de sua vida familiar e aí se encerra a lista. Outros, fazem do seu dia a dia o extraordinário e dá relevância a quase toda sua vivência, retendo na mente grande parcela do que vivem.
Creio que me encaixo nessa categoria, pois, para mim, desde a infância, os fatos se sucedem e a maioria deles tem singular importância, podendo virar roteiro de filmes ou franco material para livros, caso fosse possível de acontecer.
E foi justamente que, pegando um desses recortes de tempo, me dispus a colocar no papel estes registros, escolhendo uma fração da minha vida estudantil, particularizando o meu tempo de escola no Curso Ginasial, na cidade de Pedro Velho/RN.
Na verdade, ele teve início em 1977 e permaneci na mesma turma (A) por dois anos, haja vista que fiquei reprovado em Matemática. Em 1979, repeti a 6ª série e desta feita com uma turma até então estranha para mim. Hoje, consulto os espaços mais recônditos da minha mente para relembrar do que vivi até dezembro de 1981, quando conclui o curso.
Foi com surpresa e uma certa dose de interrogações que fui, aos poucos, me agregando aos novos colegas.
No início, me chamou a atenção uma “garotinha” por demais falante e sapeca, cantando na sala de aula alguns versos de uma música de Benito de Paula: “Toda manhã pela manhã, abra a janela, faça sua lei, dê viva ao sol, ele é nosso rei...” Era Ana Lúcia Gomes – mais conhecida como Ana de Dona Maria Gorda. Pouco tempo depois Ana já era destaque da nossa turma.
No que se refere ao corpo docente e administrativo, tenho boas recordações da professora de Língua Portuguesa, do 5º e 6º anos, Dona Maria Helena. Sabia transmitir com segurança a matéria e sempre com domínio da turma; exemplo semelhante me fez recordar de Naia quando nos ensinou Ensino Religioso. Além da bela caligrafia e clareza de ideias, entoava belos hinos com conteúdo humanístico/religioso.
Se o tempo passa veloz, ele não foi suficiente para levar com rapidez minhas lembranças também dos colegas, recordando agora os que vieram comigo (da 6ª série) “retidos” em Matemática: Cláudia Suely, Carlos Antônio, Toinho Freire, Simone Martins, Eliene Lima e Edna Gerônimo. Fomos juntos preencher a sala com os novatos do 6º ano.
Como é gostoso rememorar a nossa “peregrinação” fora do prédio da Escola Dr. José Targino, haja vista a falta de sala de aula para nos acolher. Aqui, cito a nossa breve passagem pelo prédio onde funcionava o “antigo motor”.
A presença de Maria de Jesus (irmã Fui) e Adeilda se transforma, agora, numa saudosa recordação.
Em outra ocasião estudamos no Centro Social Padre Leôncio, utilizando suas salas de aulas, e me vem à mente as aulas de Português, ministrada pela professora Dona Anita Gomes, com seu jeito formal e clareza em suas explicações; das aulas de inglês, com Nininha, a nos ensinar cores, números e lições básicas do verbo To Be.
Igualmente, rememoro a breve passagem do professor Manoel Elias, possuidor de uma forma rígida de ser, bem como sua segurança em ensinar Matemática.
Não posso deixar de comentar alguns momentos do nosso intervalo, vividos no quintal do Centro, próximo ao cacimbão (coberto!) e Ana (sempre Ana) a imitar Zita – personagem da novela “Como salvar meu casamento”, da extinta TV Tupy, cantando: “As curvas da estrada de Santos”. Ana fazia despertar meu lado risonho e bobo. Fato que me custava o dinheiro do lanche para fazê-la apresentar um show à parte, com seu humor característico, aliado a sua vocação de artista, fazendo-nos gargalhar a valer, quase nos tirando o fôlego!!!
Para ter ideia de como eu curtia essa excelente atmosfera, passei a registrar diversas vezes, numa espécie de agenda (tenho até hoje) os dias em que Ana “aprontava,” nos fazendo rir quase que histeria, incontrolavelmente!!!!
Outro momento, aconteceu na Igreja Batista Cristã. Nela, outros professores nos marcaram com seus ensinamentos, como exemplo: Sônia Fonseca (meiga, educada e bela) lecionando Ensino Religioso; Eliud Batista, ensinando Ciências e nos fazendo aprender na prática os tipos de raízes. Importante frisar, que o canteiro da rua de frente a Igreja (nossa sala de aula), foi uma vez fonte de pesquisa a nos servir de exemplares de plantas, a fim de que pudéssemos reconhecer os diversos tipos de raízes. Quem se lembra??
Neste contexto, recordo outros amigos, aliás, um grupo deles. Como é prazeroso retroceder na memória e lembrar as meninas de Carnaúba... Ana Estelita, extrovertida e risonha, Ana Adeilma, com seu jeito calmo, pacato, a nos observar, e Gerlane, simples, simpática, de ideais nobres e também sempre disponível para me emprestar os discos de vinil (LP), em especial, aqueles com temas de novelas: O amor é nosso, Plumas e Paetês (internacional) e Baila Comigo.
Um outro (coletânea) com destaque para as músicas: Foi Deus quem fez você (Amelinha), A massa (Raimundo Sodré) e o hit Porto solidão (Jessé) que nos embalou por meses -, sempre presente, entre nós, na voz de nossa amiga Hozana de Porteiras. Ainda desta localidade, cito com carinho a pequena notável, a apimentada Piedade (amiga inseparável de Simone e Suely) com seus totós característicos e a alegria sempre estampada.
A professora de Língua Portuguesa nesse ano foi Dona Marlene Teixeira, lembro-me bem! E recordo da minha empolgação nos dias de suas avaliações-, numa delas, realizada em 17 de abril de 1979, continha a leitura e interpretação do texto “A Porta”, sendo complementada por questões de relacionar colunas, utilizando classes de palavras. Minha nota? 5,0. Mas somada com a nota do trabalho individual totalizou 8,0.
Na disciplina de Geografia me recordo da professora Fátima Pessoa, com sua didática tão clara e um modo gostoso de nos ensinar. Sabiam que ela reforçou em mim o gosto por esta disciplina? É... tirar nota menor que 9,0 na citada matéria era para mim algo impensável.
E assim, neste ambiente de boas amizades e de saudável convivência, hoje me vem – além de recordações de imagens e cores -, os ecos das meninas a jogarem queimada nos intervalos ou aula vaga:
- “Combina, Norma!” Gritava, a plenos pulmões, Maria Gorete – irmã de Pedro Régis, na época quase jornalista, e eu a querer saber em detalhes como era ter um irmão jornalista – profissão com a qual um dia sonhei!
É quase impossível deixar de rememorar a hora do intervalo, quando todos, numa efervescência adolescente, íamos em segundos, da calçada ao quintal do prédio da igreja, nossa escola temporária.
Difícil esquecer (acredito) da “escritora” Luzia Verônica a inspirar Ana (Ana, de novo!) e a mim, na arte de filosofar (risos). Vocês se lembram das frases na janela da casa de Dona Anália? Aproveitando esse episódio, lembro-me também de Gildenir – um tanto introspectiva, meio tímida e sempre amiga de Severina (Tivinha), de fala suave, tão vergonhosa! Ambas, as meninas, do Alecrim.
Aqui, paro um pouco e chego a seguinte conclusão: foi tudo tão breve! Tanto quanto a nossa juventude. E passou... Contudo permaneceu considerável parcela dos valores e das diversas lições aprendidas com os nossos mestres, a exemplo do professor Genar Bezerril – buscando sempre contextualizar as suas aulas de História com a nossa vivência, e seus exemplos, divertidos e lúdicos.
Vocês recordam da forma de tornar os testes de História mais interessantes, fugindo do habitual? Eu lembro, sim. Ele usava cartões da loteria esportiva para, dentre as colunas (1, do meio e 2) darmos a resposta correta. Ainda recordo da aula de História Geral (A Guerra de Troia), quando o professor Genar nos expôs slides, deixando-nos “encantados” com a beleza exibida na tela (parede).
Sendo este o formato encontrado, a fim de nos mostrar novas metodologias na relação ensino aprendizagem, e acreditem: nem sentíamos falta de computadores, (obrigatórios na contemporaneidade), afinal, naquela época eles faziam parte apenas dos filmes de ficção científica. Porém, aprendemos de verdade aquelas lições...
As aulas de Economia primária foram ministradas por Ana Lúcia Bezerril. Além dela, também estudamos a citada matéria com a professora Terezinha, na 8ª série. Ana Lúcia ainda dividiu com o professor Valdemar Paiva a tarefa de nos ensinar Matemática. Ela, com seu modo expansivo e sempre alegre, me fez aprender equação de 1º grau; já o Sr. Valdemar, com sua paciência e mansidão, me levou a aprender monômios e polinômios. Milagreeee!!! Meus amigos, cá pra nós... Garanto que eles nunca desconfiaram da minha inapetência para raciocinar utilizando números... Pois, acreditem, precariamente eu dominava as quatro operações. É Importante dizer que Ana Lúcia lecionou, ainda, Educação Moral e Cívica, matéria que teve Dona Ester, e depois, Masé, como professoras.
Lembrar de Educação Artística nos remete à professora Bernadete Viana. Ela sempre nos mostrando que era possível trabalhar esta matéria de forma séria e responsável, bem como o seu valor para a nossa educação. Em uma das suas tarefas, recordo-me bem, tive que andar de Cuité até o Mucuri para comprar uma panela de barro, a fim de decorá-la com papéis de revistas; noutra vez, me socorri de minha mãe para desenhar numa pedra a figura de um personagem de revistas em quadrinho-, o que demonstra também minha pouca habilidade para com as Artes (risos...).
Citando outros amigos, recordo-me da tranquilidade de Áurea Emília e de Ademilde Bento, do jeito angelical de Simone Martins e sua vaidade no retoque do brilho labial; de Cláudia Suely, com sua alegria e jeito sério, e da sempre apaixonada e emotiva Ibéria Kelly; da forma ligeiramente tímida de Edna Gerônimo, e de Marluce Barros, nas suas conversas em meio a gargalhadas, comentando sobre a grandeza do “Pau Grande” (Samaumeira), as extravagâncias de certo “senhor” da Rua 7, e ainda da forma afetada e esquisita de um determinado rapaz que queria ser moça, também morador dessa rua. Completando este trio, Marilene emendava os diálogos opinando: “Ei, acho que vou ganhar uma medalha, nem que seja a de Moisés”!
Impossível não se lembrar de Luzia Verônica ( branca como a neve), e que até hoje recorda a frase de meu pai, José Hortencio, quando da ocasião da entrega das medalhas: “-Eis aqui o pai do João!”
Na verdade, caros colegas, estes são momentos pontuais, reminiscências, pedaços de nossas vidas, que eu atentamente ouvia, via, guardando-os comigo, dados a sua importância para mim.
Durante nosso percurso no Ginásio Dr. José Targino, tivemos a oportunidade de termos alguns diretores no seu comando e que, mesmo breve, destaco: o Padre Luiz Teixeira, com seu jeito formal, disciplinado e intelectual de ser. Agradeço-lhe por ter me incentivado a gostar de ler, disponibilizando, na casa paroquial, as leituras quase que diárias do jornal Diário de Natal e da Veja, revista semanal.
Em outra ocasião, Dr. Arízio Fernandes o sucedeu, imprimindo um ar de pragmatismo e racionalidade, próprio de quem lida com a objetividade da ciência médica. Em sua gestão, bimestralmente eram escolhidos três alunos de cada turma, aqueles com as melhores notas, assíduos às aulas e com comportamentos exemplares para serem condecorados, com medalhas de Honra ao Mérito. Da nossa turma se destacaram: Edilson, Áurea, Norma, eu, Luciana, dentre outros. Este formato criava uma disputa saudável, motivando-nos a crescer no âmbito escolar com vistas para a escola da vida.
Chegando em 1981, último ano do curso, quase toda a turma foi aprovada. Agora éramos concluintes! Viva!!! Era o término de um ciclo...
E, para a minha surpresa, sou transferido para a turma B. Confesso que de início senti bastante, uma vez já estava familiarizado com todos da “minha turma”. Mas, tais mudanças foram necessárias para o crescimento pessoal, o experimentar de mais outro ambiente, outras interações.
Mudar de turma me fez conhecer novos amigos, e desta maneira fez expandir meus elos de relacionamentos, somando amizades àquelas já feitas em anos anteriores.
Mudaram também alguns professores, a exemplo de Inglês (Maria José), Ciências (Lígia), Geografia (D. Ester) e História (Lourdes Trigueiro). Aprender inglês com Masé foi bastante agradável, pois, nos trouxe a oportunidade de lidar com músicas, contextualizando-as com a língua estrangeira.
Ciências nos despertou para uma realidade mais ampla, abrindo novos horizontes e nos preparando para lidarmos com fórmulas e teoremas, em Química e Física, nos anos seguintes do Segundo Grau. A professora Lígia nos transmitia algo “mais”, num primeiro momento um bocado complexo, contudo, instigante e necessário.
D. Ester sempre demonstrou segurança com a disciplina de Geografia e com sua forma simpática e exposições claras, trabalhava assuntos referentes à Europa, incluindo ainda elaboração de mapas políticos – o que para mim, era só êxtase! Eu e a Geografia, sempre parceiros, perceberam?
Com Lurdinha, tivemos a experiência de ter uma professora, pois, até então tínhamos o professor Genar Bezerril como único responsável pela cadeira de História. Neste novo contexto, passamos a conhecer assuntos e temas ligados ao Renascimento e a importância das grandes revoluções ocorridas na Europa no século XX.
Falar dos amigos da nova turma ficou fácil, pois, fui muito bem acolhido por todos, e assim acabei ganhando mais (uma turma de) amigos, os quais vieram somar-se aos da turma A – afinal, sempre valorizei a soma e a multiplicação desta entidade que tanto respeito e estimo: os amigos.
E, a partir deste momento, lembro com estima indescritível e considerações efetivas: das gargalhadas de Eliete Lima e Beta; do jeito frenético da sempre eletrizante Edna Tavares; do modo recatado do trio: Francisca Melo, Alzenir Galvão e de Vilanildo Máximo; da nobreza de alma de Hélio Lemos; da simpatia de Ramos e sua inseparável ligação com Lala; das boas gargalhadas e dos protestos de Lala; da sempre compenetrada e boa amiga, Alice Lúcio; do samba no pé e das imitações das baianas dos circos, feitas por Maria das Neves (Tina Charles); do ar de leveza com a vida e das risadas estrondosas de Maria de Lourdes (DINHA) e sua frase preferida: “Gente, eu tô empanzinada de tanto escrever!”.
E ainda: do silêncio e introspecção quase freudiana de Socorro Medeiros; do alto astral e alegria de viver de Evânia; da meiguice e simplicidade de Maria Ferreira; da forma pacata em aceitar as brincadeiras (de todos), de Maria Helena; do gesto sempre interrogativo e reticente de Selma Nogueira; de todas ás vezes que Ana Lúcia (Bô Francineide) me fez rir- pois rir é, para mim, está sempre próximo de Deus; de Selma Oliveira, parecendo tímida apenas nas aulas; da disponibilidade de tempo de José Ramos (Ziziu) para irmos ao Correio nas aulas vagas, juntos com Lilo e Edilson; do andar paciente e do charme de Maria Fernandes (Vera); da forma comunicativa e brincalhona de Marleide; (Gogó!!); das sempre amigas Marilene e Marluce Barros; da habilidade em desenhar figuras e objetos com significados infanto-juvenis de José Carlos; das peraltices do trio: Euzimar (Peu), Willian e Orlandinho; do sorriso charmoso de Rosélia; da sempre questionadora Vilma Lúcia e da minha amizade quase familiar pelo casal de irmãos: Júlia Paula e Alberto Magno.
Lembro-me ainda dos servidores porteiros: Sr. Oliveira e Sr. Willam, que nos recebia na escola abrindo-nos, além dos portões, oportunidades de crescermos para a vida; de Geralda Nunes (Princesa) por seus préstimos enquanto coordenadora e por nos repreender em momentos necessários; de Maria das Graças (Maria de Tio Tonho), pela ternura de uma mãe e pelos pastéis, salgadinhos e dindins a saciarem nossa fome de adolescentes; da secretária Maria Helena, por sua dedicação e compromissos sinceros à causa da educação;
Dos diretores: Padre Luiz Teixeira e Dr. Arízio Fernandes, por terem colaborado na caminhada da nossa educação e por administrarem com ética e firmeza a nossa escola.
Vocês foram parte indispensável da minha trajetória de vida; portanto, sou mais completo, e consequentemente mais feliz. O que aqui está posto constitui um “presente” em forma de memórias para todos.
Estimado amigo,sempre prazeroso ler seus textos e conhecer mais da história de Pedro Velho através de suas memórias. Abraço.