TEMOS PAPA, E DAÍ?

maio 18, 2025

NILO Emerenciano – Arquiteto e Escritor Temos novo papa e foi um processo rápido.

NILO Emerenciano - Arquiteto e Escritor

Temos novo papa e foi um processo rápido. Nada nem de perto parecido com o conclave que durou 34 meses, entre novembro de 1268 e setembro de 1271, quando foi necessário emparedar os cardeais e mantê-los a pão e água sob ameaça de só libertá-los quando houvessem escolhido o pontífice. O   Papa Gregório X foi finalmente eleito. Eram outros tempos.

Mas o que mais me chamou a atenção nisso tudo foi saber que havia uma cotação nas casas de apostas. Tipo cavalos, lutas de box ou jogos de futebol. Tal cardeal era mais cotado do que outro. O Papa Leão XIV foi um azarão, ou zebra, na linguagem dos boleiros e apostadores. Imaginem só. Apostar em cardeais, quem diria. Já pensaram se tem algum Bruno Henrique ou Lucas Paquetá entre eles?

Visitei um amigo há alguns dias. Ele tinha um pequeno comércio que tocava com muita luta. Mas fui surpreendido. Seu trabalho agora é junto ao computador recebendo apostadores. E essa clientela aposta em tudo. Acreditem, tudo mesmo. Bicho, futebol, campeonatos série A, B, C e o escambau. Premier League, campeonato inglês, italiano e espanhol e onde tiver uma bola rolando. E tem mais: apostam se tem ou não gols no primeiro ou segundo tempo, cartões amarelos, vermelhos, escanteios, mão na bola, bola na mão, o corte do cabelo do Gabigol, os faniquitos de Abel Ferreira, por aí.

Se ainda funcionasse o antigo estádio Senador João Câmara, nas Rocas, palco de jogos do Palmeiras e Racing, os jogos com certeza estariam nessas coisas de apostas. E até o Atlético de Regomoleiro entraria nisso. Perguntei se aquilo era legal. – Você quer acabar comigo?, meu amigo respondeu.

Foi aí que comecei a entender essa coisa de Bets que a gente vê em todo lugar. Na TV, principalmente. O nosso estádio, antiga Arena das Dunas, depois Arena Marinho Chagas, agora é Casa de Apostas Arena das Dunas. Casa de Apostas? Pois é. O maior patrocinador do Flamengo é a PixBet. A Vbet, outra casa de apostas, patrocina o Botafogo. A SuperBet banca o Fluminense. Outra casa de apostas, a OleyBet, aposta suas fichas no Vasco da Gama. O glorioso Santos, de Pelé, tem uma marca de apostas esportivas, a 7K, como patrocinadora. O São Paulo estabeleceu contrato com a SuperBet. O Palmeiras, com o SportingBet. E por aí. Onde estamos, afinal? É tudo um grande cassino? O futebol virou Las Vegas?

Conheci um cara que era viciado em jogo. Jogava baralho, dominó, palitinho, roleta. Apostava em tudo que aparecesse. Ia aos jogos do antigo Castelão não para ver o jogo, mas para apostar no ABC ou América, Alecrim ou quem quer que estivesse jogando. Sabia o lugar que os apostadores se reuniam. Conhecia as casas clandestinas que mantinham roletas, que ele chamava 36, em funcionamento. Agora imaginem, o apostador apostar contra a casa, que dispõe de 36 números, achando que tem alguma chance. Ainda afirmava com orgulho: - Dívida de jogo é sagrada. Nesse pensamento vi os credores levarem de dentro de sua casa o fogão, a TV e outras coisas que conseguiram arrebanhar. A esposa só chorava.

Assisti na TV Cabugi, uma repórter entrevistando um dono dessas máquinas caça-níqueis espalhadas pelos subúrbios da cidade. Depois do cara explicar o funcionamento das geringonças que dão ampla vantagem para os donos, a jovem perguntou, ingênua: - Então o apostador sempre perde? O entrevistado respondeu perguntando se ela achava que ele ia investir sua grana na fabricação e manutenção das máquinas para perder. Mas não é óbvio? Bem, para quem gosta de apostas, não.

Mas falava do novo Papa. Perguntaram-me o que eu achava. Não sei, respondi. Não sou católico então não me diz respeito. Mas a julgar pela cara parece ser um bom sujeito. E tomador de cerveja, se as fotos que rolam nas redes não são fake. Nada a estranhar. Cardeais bebem e fumam. Quem viu o filme Dois Papas? As eminências tomam um vinho leso. E não apenas durante as missas.

A verdade é que pouca influência o Vaticano exerce hoje na geopolítica. Foi Napoleão quem perguntou, irônico, quantas divisões tinha o Papa. Ou seja, era irrelevante. Resta fazer homilias se posicionando contra a invasão da Ucrânia, do massacre em Gaza, e de outras questões, tais como divórcio ou relacionamento gay. Mas isso não muda rigorosamente nada. Ou muda? Será que os católicos deixam de fazer isso ou aquilo por conta das restrições da vetusta igreja?

E o pobre Papa ainda sofre especulações se será ou não a besta do Apocalipse, já pensaram que horror?

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