Suposto ‘padrão’ citado por Bolsonaro não indica fraude eleitoral; presidente admite não ter provas

julho 30, 2021

O presidente afirmou que a “manipulação de votos” na urna “não é uma certeza”; Ele concentrou suas críticas a Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral; Bolsonaro atacou o STF: “mente” ao dizer que o comprovante é um retrocesso e “que é a volta do voto em papel”.

Presidente Jair Bolsonaro Foto: Rede Brasil Atual
  • O presidente afirmou que a "manipulação de votos" na urna "não é uma certeza";
  • Ele concentrou suas críticas a Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral;
  • Bolsonaro atacou o STF: "mente" ao dizer que o comprovante é um retrocesso e "que é a volta do voto em papel".

O presidente Jair Bolsonaro usou sua live semanal desta quinta-feira (29) para fazer uma apresentação questionando a lisura das últimas eleições e apontando o que considera ser "fortíssimos indícios" de fraudes nas urnas eletrônicas.

No entanto, apesar de ter no passado prometido apresentar provas dessas fraudes, ele reconheceu que não existe essa comprovação.

"Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas. São indícios. Um crime se desvenda com vários indícios. Vamos apresentar vários indícios aqui", disse.

"Os que me acusam de não apresentar provas, eu devolvo: apresente provas de que ele (sistema eleitoral) não é fraudável", afirmou em outro momento.

A apresentação reuniu uma série de vídeos antigos que circulam na internet apontando supostas fraudes nunca confirmadas.

Um deles mostra uma pretensa análise matemática da evolução da apuração minuto a minuto no segundo turno de 2014 para tentar provar que a contagem foi manipulada para seguir um padrão que favoreceria a reeleição da então presidente Dilma Rousseff (PT) contra o candidato derrotado, Aécio Neves (PSDB).

A apresentação reuniu uma série de vídeos antigos que circulam na internet apontando supostas fraudes nunca confirmadas.

Um deles mostra uma pretensa análise matemática da evolução da apuração minuto a minuto no segundo turno de 2014 para tentar provar que a contagem foi manipulada para seguir um padrão que favoreceria a reeleição da então presidente Dilma Rousseff (PT) contra o candidato derrotado, Aécio Neves (PSDB).

Bolsonaro anunciou que o vídeo será encaminhado à Polícia Federal (PF) para que seja produzido um laudo sobre as denúncias.

"Em 2014, por ocasião do 2º turno, o TSE disponibilizou apuração das eleições minuto a minuto. E pessoas especialistas no assunto, de matemática, probabilidade e estatística buscaram saber se existia um padrão", disse Bolsonaro.

"Por que as curvas (da evolução dos votos) de Aécio e Dilma, Aécio começou lá em cima e Dilma lá em baixo, e elas foram se aproximando. Quando se cruzaram estabeleceu-se um padrão dali para frente. E não tem padrão em eleições", continuou.

"Então um dado complexo que chegou ao nosso conhecimento, nós aqui achamos que procedia a informação, e vai para a Polícia Federal, que eu espero que em poucas semanas dê um lado se procede ou não isso aí", cobrou o presidente.

O vídeo citado por Bolsonaro foi produzido e divulgado por Naomi Yamaguchi, que tentou ser eleita deputada federal em 2018 pelo PSL e é irmã da médica Nise Yamaguchi, apoiadora de Bolsonaro conhecida por defender o uso da cloroquina no tratamento do covid-19, apesar de o remédio não ter eficácia comprovada contra a doença.

Nele, ele entrevista um homem anônimo que analisa a evolução da contagem dos votos minuto a minuto, identificando o que seria um supostamente um padrão estatisticamente impossível de ocorrer naturalmente. A argumentação exposta na gravação, porém, é contestada pelo TSE e por especialistas em segurança de dados e estatística, mostrou reportagem da BBC News Brasil publicada antes da apresentação.

O entrevistado de Yamaguchi diz no vídeo que achou estranho o fato de Aécio Neves ter começado a apuração com vantagem sobre Dilma, mas a petista ter conseguido virar. Ele conta, então, que buscou uma forma de provar a fraude a partir de uma análise da evolução da contagem de votos minuto a minuto, divulgada pelo TSE. "Se eu analisar esses números e descobrir um padrão, eu comprovo que esses números foram frutos de uma fórmula matemática, de um algoritmo", disse.

A partir daí, ele afirmou ter analisado a variação do incremento de votos de Dilma e Aécio em cada minuto e encontrou um padrão que seria praticamente impossível estatisticamente: por 241 minutos seguidos, os dois candidatos teriam se alternando na liderança da variação do ganho de votos.

"Aqui nós temos (a alternância) Dilma, Aécio, Dilma, Aécio, Dilma, Aécio, Dilma, Aécio, Dilma, Aécio. Quantas vezes, Naomi? 241 vezes Dilma, Aécio (se alternando)", sustentou o entrevistado de Yamaguchi.

"Aqui eu encontrei o padrão que eu procurava. E isso aqui não é o resultado de uma eleição natural, aonde se abrem urnas de vários pontos do país e você tem minuto a minuto uma variação imprevisível. Aqui, é totalmente previsível. E eu concluo com isso que somente uma fórmula poderia produzir este minuto a minuto que a gente enxergou em 2014", disse ainda o homem.

Ao analisar os dados brutos da apuração minuto a minuto, a BBC News Brasil não encontrou um padrão de alternância entre os incrementos de votos de Dilma e Aécio em 2014 durante os 333 minutos que duraram a contagem.

Os números oficiais do TSE indicam, na verdade, que Aécio liderou sozinho o ganho de votos nos minutos iniciais. Depois, Dilma apresentou maior incremento de votos na maior parte do tempo, com o tucano recebendo mais votos em alguns momentos pontuais.

Isso ocorreu porque naquele ano a apuração da região Sul e de parte do Sudeste, onde o tucano foi melhor, começou antes do que no Norte e Nordeste, onde Dilma teve mais votos.

TSE rebate falas de Bolsonaro em live

O TSE enviou à imprensa informações que contestam os questionamentos contra a confiabilidade da urna eletrônica apresentados na live do presidente.

Em uma dessas acusações contra o sistema eleitoral, Bolsonaro apresentou vídeos antigos de pessoas comuns dizendo que não conseguiram votar no candidato que queriam nas urnas. Essas pessoas afirmavam que digitavam o número de seu candidato, mas a foto correspondente ao escolhido não era exibida na tela da urna.

Segundo o TSE, esses casos se tratam de pessoas que se confundiram sobre a ordem dos candidatos, tentando votar, por exemplo, no cargo de presidente, quando a tela solicitava o voto para governador.

"Dessa forma, ao ser digitado o pretendido número do candidato à presidência, a urna alertou que o voto seria nulo, visto que não havia candidato a governador correspondente àquele número", explica o Tribunal.

Bolsonaro também acusou o TSE de fazer a apuração em uma "sala secreta". E insinuou que isso serviria para favorecer a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.

Ao rebater essas acusações, o Tribunal ressaltou que ao final da votação é impresso o Boletim da Urna que permite checar se os votos computados na urna eletrônica são os mesmos apurados na contagem eletrônica. Por isso, diz o TSE, não é possível manipular a votação em uma suposta "sala secreta".

"A apuração dos resultados é feita automaticamente pela urna eletrônica logo após o encerramento da votação. Nesse momento, a urna imprime, em cinco vias, o Boletim de Urna, que contém a quantidade de votos registrados na urna para cada candidato e partido, além dos votos nulos e em branco", diz o site do Tribunal. 

"Esse processo de apuração é realizado pela urna eletrônica antes da transmissão de resultados, que ocorre por uma rede de transmissão de dados criptografados. Ao chegarem ao TSE, a integridade e autenticidade dos dados são verificados e se inicia a totalização (isto é, a soma) dos resultados de cada uma das urnas eletrônicas, por supercomputador localizado fisicamente no tribunal. O resultado final divulgado pelo TSE sempre correspondeu à soma dos votos de cada um dos boletins de urna impressos em cada seção eleitoral do país", esclarece ainda o Tribunal.

Por Mariana Schreiber - @marischreiber - Da BBC News Brasil em Brasília

Uma resposta para “Suposto ‘padrão’ citado por Bolsonaro não indica fraude eleitoral; presidente admite não ter provas”

  1. Rosinaldo Luna disse:

    Sem emitir predilecoes políticas ou partidárias, esse cidadão é a pior coisa que a política criou. É vergonhoso saber que vivemos e perpetuados esse tipo de sistema político alienado e despreparado desde a colonização e que mesmo hoje, com tanta informação, continuamos amarrados pelos chifres esperando migalhas e ainda agradecendo os coices e chicotadas pensando nas migalhas que eventualmente nos são atiradas.