SÃO PAULO: UMA CIDADE SEM ENCANTOS

abril 6, 2025

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa São Paulo, a metrópole que pulsa, que não para que se orgulha de sua grandiosidade, é o espelho de um Brasil descompassado e desprovida de encantos.

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa

São Paulo, a metrópole que pulsa, que não para que se orgulha de sua grandiosidade, é o espelho de um Brasil descompassado e desprovida de encantos. Aquela, onde o concreto é mais forte que os sonhos, onde o céu se perde entre os arranha-céus e a neblina da poluição. São Paulo é uma cidade sem brilho, sem cor e onde a infinidade de prédio nos impede de ver o azul do céu.

Ao chegar, o visitante se depara logo na entrada, com uma saudação feita de sujeira e abandono. O rio Tietê, desfigurado pela violência humana e pelo desprezo, revela a miséria de um lugar que não tem mais força nem para esconder suas feridas. O cheiro do rio é de morte, de algo que já deveria ter sido enterrado, mas ainda insiste em permanecer à vista de todos. O Tietê é o reflexo dessa São Paulo doente, que vive à margem daquilo que deveria ser.

E as pessoas, apressadas, olham para o chão. Como se temessem olhar nos olhos de um outro ser humano, como se temessem ser tocadas pela miséria que se espalha pelas calçadas. Cada rosto parece uma máscara de pressa, de medo, de desconfiança. O ritmo da cidade é frenético, mas vazio. É como se todos se apressassem para um destino que nunca chega.

O tempo quase sempre chuvoso contribui para aumentar a sensação de um mundo cinza, sem esperança. A cidade parece ter perdido a cor, o brilho, como se as nuvens tivessem levado tudo isso embora.

São Paulo é imensa, mas, ao mesmo tempo, íntima. Cada rua guarda suas histórias, cada esquina carrega seus fantasmas. A desigualdade aqui é visível, gritante. De um lado, os palácios de vidro e aço: do outro, os rostos cansados de quem tenta sobreviver em um mundo que ignora sua existência.

É impossível não ver estirada no meio das ruas, porque é mais fácil desviar o olhar. A dor se espalha entre as vielas e os jardins de luxo, mas poucos se importam. O abismo social que separa os ricos dos pobres de Sampa, não é apenas uma questão de classe, mas uma barreira invisível que impede qualquer tipo de encontro, qualquer tentativa de compreensão.

No coração de São Paulo, a distância entre os seres humanos parece maior do que o próprio espaço que ocupam. Estamos todos tão próximos, mas ao mesmo tempo tão distantes. Cada um em sua luta, cada um em sua busca pela sobrevivência, enquanto a cidade, alheia a tudo isso, continua a sua marcha. É como se os ecos da cidade fizessem parte de um grito coletivo, uma súplica não atendida por quem deveria cuidar dela.

São Paulo é o reflexo de um país que se perdeu, onde os contrastes não se equilibram, onde a riqueza não se traduz em bem-estar para todos. Na cidade, a vida parece resistir, mas sem ânimo. Como se cada pessoa fosse um sobrevivente em um jogo sem regras, onde o mais forte ganha e o mais fraco é esquecido. Uma cidade de contrastes, de exclusões, de vidas interrompidas antes do tempo. Uma cidade que, ao contrário do que se diz, não é o coração do Brasil. São Paulo é, na verdade, um reflexo de sua alma fragmentada, onde as cicatrizes são mais visíveis do que os sonhos.

Talvez, em algum canto distante, ainda se escondam os vestígios de um Brasil que sonha com um futuro mais justo. Mas, em São Paulo, esse sonho parece distante, quase impossível de alcançar. Ali, o que predomina é o concreto e a solidão. A cidade é enorme, mas falta espaço para o humano.

Eu não conhecia São Paulo, a qual visitei durante minhas férias, no último mês de janeiro/2025, mas tive uma grande decepção. Ao entrar na cidade, eu esperava encontrar o lugar descrito por Caetano Veloso, quando canta Sampa. São Paulo é uma triste realidade: sombria, cinzenta, sujam feia. São Paulo é uma cidade feita de medo e onde as pessoas mais parecem zumbis. A cidade parece um doente em estado terminal.

Sampa pode ser uma grande referência no que se refere à história, gastronomia e cultura, economia. Porém, aos meus olhos é uma cidade completamente desprovida de encantos a qual espero jamais ter que voltar. São Paulo tem o poder de me deixar triste, mal-humorada, desanimada. Depois de conhecer a maior metrópole do País, ficou mais fácil compreender as razões pelas quais é tão complicado administrar o Brasil.

Uma resposta para “SÃO PAULO: UMA CIDADE SEM ENCANTOS”

  1. CLODOMIRO ALVES JR disse:

    Por isso Caetano Veloso é um grande poeta. Extrair beleza de onde aparentemente não existe!