Rir das tragédias que nos compõem
Mariana Rodrigues – Psicanalista e Advogada e cronista nas horas vagas “Existirmos a que será que se destina?” Eu adoro essa convocação que a cajuína de Caetano nos provoca.

Mariana Rodrigues – Psicanalista e Advogada e cronista nas horas vagas
"Existirmos a que será que se destina?" Eu adoro essa convocação que a cajuína de Caetano nos provoca. Responder ao destino da nossa existência é a pretensão mais propícia que um ser humano pode pretender. De onde viemos e o que vamos fazer pra chegar aonde não sabemos onde, requer de nós que conheçamos o roteiro da nossa tragédia particular.
Sempre me foi mais caro a comédia, porque eu sinto que já não se trata de dizer rindo o que castiga os costumes, mas de poder rir das tragédias que nos compõem. Diferente dos bobos da corte, que com uma certa covardia encoberta de verdades que mereciam ser ditas, falavam na mais requintada linguagem, a ironia, tudo que não podia ser dito abertamente; quando usamos a comédia pra falar daquilo que dói e incomoda, nos revestimos de uma coragem que liberta a dor, através de uma gargalhada.

É preciso que haja espaço pra chorar no tom de um adagio, até que cheguemos no allegro da partitura da nossa vida. Foi com Mozart que eu aprendi a rir da minha loucura e a fazer da vida pequenos bons impulsos de amor e graça.
Fácil não é, às vezes, parece que só eu sorrio das minhas piadas, mas, o que é sorrir sozinha perto das lágrimas solitárias que lavam a minha alma? Se eu conseguir, pelo menos uma vez na vida, compor algo que atravesse o outro numa sublime identificação, já vai ter valido a pena a minha existência.
Perfeito…uma eterna interrogação