
José Olavo– Bacharel em Administração e autor do livro de contos “Portas Vermelhas
Na década de 70, São José de Mipibu mantinha seus ares de pequena cidade do interior; pacata, clima agradável, privilegiada por sua proximidade de praias, lagoas e distando somente 40 km da capital.
As ruas do centro abrigavam o belo prédio da igreja católica, além de moradias, comércios, cinema, repartições, o tradicional mercado público e as “cigarreiras” logo em frente. Tudo embelezado por duas grandes praças, onde casais enamorados, indivíduos em bate-papos e passantes curtiam o luar e a brisa da noite.
Num dos prédios defronte à praça da igreja, funcionou a “Cooperativa Agropecuária”. Dado o declive, três batentes que antes serviam de acesso, eram utilizados como assento para reunião de transeuntes ao cair da tarde. Ali se reuniam estudantes, jogadores das equipes do Arsenal e Olho D’água, principais times de futebol da cidade, e qualquer um que circulando na praça se achegava para jogar conversa fora.

Esses encontros na calçada da “cooperativa” tornaram-se tradição. Todos na cidade os conheciam. Moradores mais tradicionais designaram o grupo de frequentadores do local de CIT – Companhia Inimiga do Trabalho, numa alusão a possíveis desocupados, avessos aos afazeres.
Sentei-me naqueles agradáveis batentes por diversas vezes. Eu que estudava e trabalhava já na adolescência, portanto, testemunho que a denominação preconceituosa não tinha razão de ser. O fato é que a CIT ficou famosa e, na sua maioria, a visão das pessoas tendia a enxergar ali os “malandros” do dia.
Desconheço se a “Companhia” ainda sobrevive ou se o tempo a arrefeceu. Enfim, naquele ambiente se congregavam pessoas de classes diversas e sem qualquer preconceito de cor, religião ou outro. O que predominava eram os papos e risadas comuns num ambiente tranquilo. ‘