Redescobrindo Cheyenne
Alex Medeiros – Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) – Texto publicado na Tribuna do Norte Num fim de tarde de setembro de 1985, tomei um ônibus em Cotia com destino à Avenida São João, levado por uma dica cultural divulgada na Rádio Capital por um cara que era campeão de notícias policiais, o radialista e advogado […].

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) - Texto publicado na Tribuna do Norte
Num fim de tarde de setembro de 1985, tomei um ônibus em Cotia com destino à Avenida São João, levado por uma dica cultural divulgada na Rádio Capital por um cara que era campeão de notícias policiais, o radialista e advogado Afanásio Jazadji, que um ano depois se elegeria deputado estadual.
Lembro que ele disse algo como “atenção aos fãs dos filmes de faroeste”, para logo depois anunciar que um clube de cinéfilos adeptos do bang bang estaria comemorando 30 anos do seriado Cheyenne com exibição no Cine Olido, à época um dos points do velho centro histórico da Paulicéia Desvairada.
Fui levado por um impulso movido a mais pura memória afetiva, carregado na saudade de casa e no passado da minha puberdade no bairro das Quintas a partir do final da década de 60, especificamente 1969 quando conheci o Cine São José.

Até aquele dia de 1985, eu jamais assistira o que vi numa das salas do Cine Olido, três episódios de Cheyenne da primeira temporada exibida nos EUA pelo canal ABC, em 1955. Mas minhas lembranças estavam na revista de HQ.
Já escrevi várias vezes que comecei a ler quadrinhos em 1967, quando residia em Santos Reis, especificamente as aventuras de super-heróis da DC e Marvel. No entanto, a chegada nas Quintas trouxe o faroeste escrito e filmado.
Na virada de 1969 para 1970, os primeiros amigos me conduziram ao Cine São José, onde além dos filmes e séries de bang bang, como Zorro e Durango Kid, me encantou o troca-troca de revistinhas na calçada, com muitas de faroeste.
E aí não deu outra, direcionei minhas leituras costumeiras dos quadrinhos para os muitos títulos com aventuras de mocinhos, soldados e índios. E em janeiro de 1970, papai chega em casa me trazendo a edição número 1 de Cheyenne.

Nunca esqueci o impacto daquela imagem do cowboy por trás de uma grande pedra, sacando um Colt, de cartucheira cheia de balas e numa roupa em tons dégradé de bege e marrom, coberto por um chapéu também na cor marrom.
No canto esquerdo inferior da capa, em letras pretas e discretas o nome do ator encarnando aquele herói do bang bang, “Clint Walker”. Comprei várias revistas Cheyenne, juntamente com outras muitas de mocinhos e bandoleiros.
Por anos eu acumulei títulos: Zorro, Cavaleiro Negro, Gunsmoke, Bonanza, Durango Kid, Bat Masterson, Tex, Roy Rogers, Cisco Kid, Rex Allen, Buck Jones, Bill Elliot, Flecha Ligeira, Black Diamond, Kid Colt, Paladino…

Mas a coleção de Cheyenne, que mantenho como tesouro das saudades, detém a simbologia daqueles dias de descoberta do Cine São José e de como aderi às revistinhas de faroeste através do gesto amoroso do meu velho pai.
E até aquela tarde na Avenida São João, distante sessenta minutos da minha casa, em Cotia e 2,3 mil quilômetros da casa dos meus pais, eu não sabia que a saudosa revistinha tinha uma versão televisiva estrelada pelo Clint Walker.
Hoje completando 70 anos, a série Cheyenne foi a primeira produção do gênero na TV com 1 hora de duração, numa parceria da ABC e a Warner cujo objetivo era brigar pela audiência com o próprio cinema e seus westerns.

Para desafiar a força do cinema, a nova mídia dos anos 1950 adentrava os lares dos EUA com uma série que apresentava um bom personagem dos quadrinhos dimensionado na anatomia de um novo ator descoberto por ninguém menos que Cecil B. DeMille, um gênio do próprio cinema. Mas isso é outra história que conto depois. A história de Clint Walker.
