Quem sou eu?

setembro 17, 2023

Tadeu Oliveira – Jornalista e Escritor Macauense Nas entrelinhas de Macau: Porta-retratos da natureza.

Tadeu Oliveira - Jornalista e Escritor Macauense

Nas entrelinhas de Macau: Porta-retratos da natureza.

Eu sou molduras de cristalizadores e serrotes de sal, sou porta-retratos da natureza.

Sou a sutileza verbal de Zé Vicente.

Sou microfone de Chico de Paula.

Sou o anjo azul de Jordão.

Sou o capitalismo da mecanização salineira.

Sou sol ardente, sou cansaço de marítimos e salineiros.

Eu sou a ação popular de Penha, talento de Marcos e o confessionário de Honório.

Sou a memória sindical de Floriano Bezerra.

Sou bandeira verde de Manoelzinho e Toinha, sou bandeira vermelha de Venâncio.

Eu sou drible e grito gol de Gonzaga, sou o gingado de Arigó, e o som de Paulinho de Macau.

Eu sou a arte de Francilúzio, sou tema do Sempre Alerta e a voz de Caeté.

Eu sou a janela aberta da casinha branca de Gilson Vieira.

Eu sou Canal 100 livre nos cinemas Moderno, São Luiz e Dois Irmãos.

Sou temática de conversa no Bar Rochedo.

Eu sou articulação política na bodega dos Borja, e linhagem no ateliê de dona Bastinha.

Eu sou cantorias de Pedro Sapateiro, sou freguês de fim de feira.

Eu sou o cheiro de torrefação de café Reis Magos.

Eu sou o “Passo da Ema” de Virgílio Dantas.

Sou azul, sou encarnado na dança de Colô Santana.

Eu sou fonte de água cristalina de Barreiras e do Porto do Carão.

Sou passageiro de Mário de Zé Badalo no expresso Cabral.

Sou barco fantasma com destino à ilha Santana.

Eu sou devoto de Nossa Senhora da Conceição, sou nativo dos navegantes.

Eu sou pedinte sem moradia, sem dinheiro e parentes distantes.

Sou intrigante das elites.

Sou pescador andante pelos becos do Porto do Roçado, sou poeira salgada no Valadão.

Sou marcado e riscado nas paredes do “Mata Sete”.

Eu sou devaneio noturno na “Coreia”, sou bêbedo em mesa na brisa do bar de João Grelô.

Sou guardião da Usina Velha e de enferrujadas embarcações.

Eu sou descarrego de bordo de trabalhadores portuários.

Sou a cultura popular de Arlete.

Eu sou o acolhimento de fé de Seu Dudu.

Sou acervo de João de Aquino.

Sou retrato 3x4 revelado em “Seu Santos”.

Sou bola 7 do bilhar central de Augusto Coutinho.

Sou por do sol no alagamar.

Sou vento leste na sombra do casarão de Gilberto Avelino.

Eu sou olhar de “Cega” para afinar seu violão. Sou luz na escuridão para Armando de Pintinha.

Eu sou o mestre da esperteza de Tributino.

Sou rede e linha de pesca, avoadores, siris, marisqueiras e artesãos de barcos.

Sou o moinho que orienta, simboliza e figura representativa da história.

Eu sou precursor da Bossa Nova.

Eu sou mel de engenho no carnaval e animador de trio elétrico na folia.

Sou as narrativas infiéis de Manguito.

Sou estandarte de Lila, alegoria de titico e o samba enredo de Marrocos.

Sou ativismo dos advogados Ivo Ferreira, Dutra e Gilberto.

Eu sou consumidor de brote seco e soda preta na bodega de Chico Cardoso.

Eu sou as palavras enamoradas nas entrelinhas dos cadernos das meninas (os) do Grupo Escolar Duque de Caxias.

Eu sou o cheiro de mangue, bailado de garças e a saudação do caranguejo chama maré.

Sou muito além da água de grau, peixe seco, carapeba, feijão do açu, sal, energia e arruaceiro na madrugada...

Sou sua gente... e quem mais posso ser?

OBS: Texto (provisório) para meu próximo livro sobre Macau, quase pronto.

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