PROFª LÚCIA LIMA Ousou ser mulher Cidadã

setembro 5, 2021

Vanda Franco – É professora As décadas de oitenta e noventa do século XX, no Brasil, foram marcadas por fatos e acontecimentos políticos que mobilizaram a sociedade brasileira em todas as regiões do país, clamando por mudanças.

Professora Lúcia Lima

Vanda Franco - É professora

As décadas de oitenta e noventa do século XX, no Brasil, foram marcadas por fatos e acontecimentos políticos que mobilizaram a sociedade brasileira em todas as regiões do país, clamando por mudanças. São José do Mipibu, no interior do Rio Grande do Norte, não ficou indiferente aos ventos arrebatadores desses sonhos, que moviam os movimentos estudantis e sindicais do país, na luta por Liberdade, democracia e direitos políticos, sociais, econômicos e cultural.

 A estudante universitária, do curso de Letras, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, professora Lúcia Lima, percebeu que a educação era o vetor de transformação para mudar as desigualdades sociais, política e cultural e para isso precisava mobilizar a comunidade. Defendia com rigor o bom uso da língua materna. Acreditava que valorizar a cultura era zelar pelos modos normativos e populares do falar a língua portuguesa.  Em sala de aula, guardiã das concordâncias das palavras variáveis e invariáveis e da sintonia dos tempos, modos, pessoas do discurso e suas regências imperiais. E sua fama de Professora primorosa, espalhou-se nos quatros cantos da cidade, juntamente com seu sorriso farto e sua sátira   ao estilo gregoriano, ao vislumbrar as injustiças e desvios das práticas políticas dos governantes e legisladores da sua cidade. Lúcia Lima, ousou ser mulher e cidadã. Militou em defesa dos direitos de ser, mesmos que as amarras de uma cultura conservadora tivessem correntes de elos de ferros pesados. Mas tentou quebrá-las. Deixando para as gerações pistas significativas para seguir traçando outras linhas e redesenhando novos caminhos e outros sonhos. A Educação foi sua maior batalha, sua arma mais poderosa e eficaz.  Para tanto nunca estava sem um livro na mão. A leitura, dizia ela: “É LIBERTAÇÃO e LIBERAÇÃO” ...

 A professora Lúcia Lima, conquistou prestígio pela competência, capacidade de articulação política, carisma e pelo espírito humanitário. Secretária de Educação do Município, mudou as concepções da prática do professor em sala de aula embasada pelas ideias filosóficas do pensador Paulo Freire. Sensível ao clamor das vozes dos grupos de jovens das pastorais da igreja, sindicatos, Centro de Educação e formação Popular -CEAP., professores e lideranças comunitárias juntou-se a essas ideias e deflagraram um acontecimento inusitado na história do município, a 1ª greve de professores, surpreendente para os hábitos costumeiros da cidadezinha pacata dos anos de abertura política do país.

 A greve da educação no município, extrapolou os limites da cidade e tomou dimensão estadual. Uma greve que perdurou mais de trinta dias com intensa concentração, passeatas pelas ruas da cidade, ecoando num som uníssono, o lema,” PROFESSOR ESTÁ NA RUA, PREFEITO A CULPA É SUA”. E o movimento conquistou mudanças, significativas, embora, toda a equipe de professores que estava no comando da greve, tenha sido demitida, 60, professores. Mas a participação da Secretaria  foi acontecimento político revolucionário e criou novo paradigma.

Quanto Diretora da Escola Estadual Francisco Barbosa, Lúcia Lima, foi incansável. Fez da escola uma extensão dos seus ideais. Envolvia pais, professores, equipes pedagógicas para oferecer educação de qualidade mesmo com todas as dificuldades que o sistema impunha.

Quando surgiu a oportunidade de galgar outros terrenos, foi aprovada no concurso do IFRN Mossoró, sentiu o coração partir-se em pedaços. Mas era necessário. Entretanto, nunca abandonou a cidade que amava e sempre aos finais de semana retornava e visitava os amigos mais afinados com suas ideias.

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Lúcia Lima, era singular. Nunca conseguia chegar na hora marcada aos encontros agendados. Por mais que se esforçasse sempre um empecilho se lhe atravessava o caminho. E esse detalhe a fazia mais excêntrica. Temos causos engraçadíssimos de seus corriqueiros “atrasos”. Por sempre estar em fino trato com sua elegância, no dia de prestar prova, presencial na ETFERN, em Natal, levou tanto tempo se arrumando que perdeu o horário do ônibus que a levaria a capital.

Certa de que iria perder o compromisso, última etapa para ser admitida no concurso, desesperada pega um táxi e durante o percurso, deixa o motorista quase louco, com ela pedindo que acelerasse para não perder a prova. O motorista acabou multado.

 Descabelada já com atraso considerável, entra na sala esbaforida e esbarra com uma banca de professores que a olham por cima das lentes dos óculos e veem aquela imagem de agonia e desespero da candidata, que não conseguem disfarçar um sorriso embutido e sorriem com a imagem da candidata ofegante e a desculpam pelo atraso. Ela se recompõe e ministra aula magnífica. Foi aprovada com louvor. Ali ficou confirmado sua querela de nunca chegar na hora marcada. Mas sempre marcou em tudo que fez. Para além das controvérsias, com honradez e fidelidade aos seus valores.

Há uma frase atribuída a Guimarães Rosa que diz que, as pessoas não morrem, ficam encantadas e que a gente morre é para provar que viveu. A mãe, filha, mulher, professora, militante não só provou que viveu, mas também viveu para nos mostrar que somos capazes de sonhar e transforar sonhos em realidade e ter esperanças em um mundo melhor. Que juntos podemos mudar o que não é próprio do SER feliz. Nos provou que a Educação é a alavanca que move o moinho das transformações. A cidade de São José de Mipibu lhe é grata pelo que ela fez em prol da Educação do Município. A mestra, tem seu brilho no espaço celestial e representa a mesma intensidade da estrela que brilhou aqui na terra. Que suas conquistas conservem a luz que você fez reluzir entre nós para as novas gerações. Porque o ser humano não morre. Se encanta. Permanece vivo e se eterniza no imaginário das pessoas pelas atitudes e benefícios que fez para os seus descendentes e comunidade em que viveu.

É necessidade imperiosa que a comunidade mipibuense reconheça o legado deixado pela professora Lúcia Lima, na luta pelo direito de todos ao acesso à educação de qualidade. São esses patrimônios inigualáveis e de fundamentais importância, construídos durante toda sua atuação como educadora, que o município deve reconhecer e homenageá-la para que sirvam de estímulos e motivem as novas gerações da cidade de São José de Mipibu a continuar a investir em educação e na cultura.

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 Onde quer que esteja, Lúcia estará feliz e gratificada em saber que a cidade de São José terá um Instituto Estadual de Educação Profissional, Tecnologia e Inovação (IERN). Para os jovens, uma conquista de valor imensurável. Pois como, ela, defendia, a escola é a porta da esperança para proporcionar uma oportunidade de mudança de vida para os jovens em condições vulneráveis.

Uma forma honrosa e digna de prestar homenagem àquela que dedicou sua vida em defesa da educação, seria conceder o nome do Instituto de Educação o nome da professora Lúcia Lima. Tenho certeza que a comunidade ficará orgulhosa e honrada.

7 respostas para “PROFª LÚCIA LIMA Ousou ser mulher Cidadã”

  1. Ana Ferreira disse:

    Faço “jus” a todos as palavras aqui registradas, tive o privilégio de ser aluna e a honra de dividirmos muitas alegrias e desfrutar de seus ensinamentos.

  2. Alba Lúcia de Lima Silva disse:

    Estou feliz e emocionada com essa homenagem mais do que justa, Lúcia Lima era minha diretora nos tempos de estudante e ela com sua calma, carisma educação inigualável me ensinou muita coisa sobre a vida. Aplausos para ela de pé 👏👏👏👏com alegria de ter conhecido e convivido com essa mulher guerreira e maravilhosa.😢😢😢

  3. Francisco das Chagas Silva Souza disse:

    Grande amiga e colega de trabalho. Lucia é inesquecível pela sua competência, rigor e algumas coisas engraçadas que lhe aconteceram. Tivemos uma grande perda com a sua ida.

  4. Marcos Oliveira disse:

    Tive o privilégio de conviver com Lúcia Lima durante o tempo que fora professora da ETFRN, CEFET-RN e IFRN, hoje Campus Mossoró. Sem dúvida, o texto reflete a grandeza da mulher, mãe e educadora engajada e verdadeiramente comprometida com os estudantes.
    Dar ao Instituto Estadual de Educação Profissional, Tecnologia e Inovação de São José é sinalização de justeza e reconhecimento dessa ilustre mipibuense, cujo legado extrapola os limites de sua terra natal.
    Parabéns pelo texto maravilhoso.
    Prof. Marcos Oliveira

  5. Erlon Vale disse:

    Tive o privilégio de ser aluno da professora Lúcia, orgulho de ter levado bons puxões de orelhas.
    Os alunos da ETFERN/Mossoró foram privilegiados, professora Lúcia será eternamente lembrada.

  6. Núbia Ferreira disse:

    Foi uma grande mulher, amiga, conselheira,uma professora muito inteligente,falava um português como ninguém, corretíssima. Muito dedicada na sua profissão.Foi minha cliente no meu salão, eu tinha um grande respeito e admiração por ela. Foi pra c uma grande amiga. ETERNAS SAUDADES.😭😭

  7. Didi Avelino disse:

    Lucia Lima, minha comadre, amiga querida, mulher especial, idealista e sonhadora, plantou e regou sementes que, inspiradas no mestre Paulo Freire, brotaram e floresceram junto à comunidade educacional que liderava.
    Saudades… quantas conversas deliciosas tínhamos, varando a noite, na casa da minha irmã Aninha, sua amiga e companheira de profissão.
    A propósito, é justo enaltecer um sentimento compartilhado por ambas: a paixão pela Educação e pela cidade à que dedicaram seu amor e melhores sonhos, São José de Mipibu.
    À ambas, a minha eterna homenagem !