Para as crianças dos anos 1990 a 2000
Bruna Torres- Jornalista e Escritora @autorabrunatorres Recentemente conheci uma pessoa que se definia como uma criança dos anos 90, e ele me perguntou se eu, também, era? Claro, só na alma, porque crianças já deixamos de ser há um certo tempo, infelizmente.

Bruna Torres- Jornalista e Escritora @autorabrunatorres
Recentemente conheci uma pessoa que se definia como uma criança dos anos 90, e ele me perguntou se eu, também, era? Claro, só na alma, porque crianças já deixamos de ser há um certo tempo, infelizmente.
A princípio, o termo soou como novidade, pensei em todas as coisas que possivelmente poderiam englobar esse universo. Durante o papo, a nostalgia me levou ao encontro com a minha kid dos anos 2000.
Durante a conversa, a "viagem no tempo" tinha um lugar determinado, imersa em lembranças. Lembrei-me de um lugar que fez parte da minha infância, ao lado dos meus primos - uma locadora de games -, na esquina da rua de minha casa, no conjunto Santarém, em Natal.
O saudosismo, claro, surge na percepção de que antigamente, não estávamos conectados o tempo todo, bastava apenas ligar e desligar o computador para nos desconectarmos do mundo virtual. Hoje em dia, os tempos são outros, o celular é como um membro do nosso corpo, sempre precisa estar ao nosso lado 24 horas por dia.
Mas, lembrando à época da infância, passa um filme na minha mente: jogar Xena no PlayStation 1 ou Crash, GTA. De ser a única menina que frequentava uma locadora repleta de garotos, numa época em que "ideologia de gênero" não existia. Não havia isso de, “coisa de menino” e “coisa de menina”...

Então, eu dividia meu tempo em estudar, brincar, assistir TV Globinho, ir à locadora ou à lan house, jogar corrida, jogos da Barbie e ouvir a música ‘Retrato’, cantada por Louro Santos na antiga interface do Youtube.

"Hoje eu chorei em meu quarto, ao vê seu retrato lindo, na parede É tanta saudade que no peito invade amor, grito seu nome, Tento disfarçar, mas não sei como fugir, sem você não dá, onde você se esconde? Chego do trabalho, tomo um banho e saio a noite, novamente, a te procurar, prometo te dar amor eternamente Quero te falar que eu já me decidi, com você vou ser feliz"
Era uma época de correr na rua, brincar, brincar muito mesmo, jogar no computador na casa das amigas, pois era muito caro na época e por isso não tinha esse equipamento eletrônico.
Eu sempre sai com meu primo para jogar na locadora. A noite, tínhamos um talento extra. Na residência de uma amiga, a garotada se reunia na sala para dançar RBD e Calypso e, ainda, montava os trajes, feitos com retalhos que a gente conseguia com uma senhora que vendia lençóis e doava os retalhos para fazer roupas para bonecas. Porém, os retalhos eram transformados no look, para imitar a cantora Joelma, da banda Calypso.

Essa pessoa que trouxe o resgate ao meu lado kid, me fez recordar de várias coisas... De um tempo que pareceu tão distante e irreal numa realidade de crianças que, hoje, estão com os rostos grudados na tela de um celular.
É irônico pensar que estou escrevendo por meio desta mesma tela, que eu também trabalho por ela, me conecto e conheço pessoas.
Duas pessoas com a alma de criança dos anos 1990 a 2000, uma das últimas gerações que lembram de como era ouvir música em Discma; colecionar cartões da Telemar; garrafinhas da Coca Cola; jogar bola e biloca na rua; brincar de salada mista ou dar umas beijocas nos paquerinhas, na pracinha que havia perto de casa (nunca consegui, vovó sempre percebia quando eu queria aprontar).
Tenho ótimas memórias dessa época e reconheço que tive sorte de poder brincar na rua, explorar a rua, correr, andar de bicicleta, cair, se sujar, imitar a dança dos famosos, brincar de patins dividindo o par de patins com meu primo.

Sobre a infância, eu tenho muitas coisas enraizadas, mas exploro as melhores partes dela, uma infância feliz, apesar dos pesares. Uma infância que a cada dia que passa se torna apenas um objeto de pesquisa, inspirações para livros e contos românticos. Uma época em que o MSN era ativo, os recados coloridos no Orkut, as músicas sobre amores grudando na mente (mesmo sem ainda ter vivenciado o primeiro amor).
Ah, tudo isso é tão saudoso e gostoso, que é um privilégio dizer: "Essas foram os melhores momentos da infância e de convivido com pessoas que já vivenciaram em partes, o que é uma infância onde a gente parecia ser, apenas, uma criança e nada mais.
Atualmente, as crianças não querem mais ser crianças, embora, ainda não imaginem o sabor delicioso que a infância bem vivida, deixa em nossas memórias afetivas.