Os lugares nos quais depositamos todo nosso amor
Bruna Torres – Jornalista e escritora Hoje me deu vontade de escrever sobre o amor, mas já faz um tempo que não sinto vontade de escrever sobre qualquer outra coisa.
Bruna Torres - Jornalista e escritora
Hoje me deu vontade de escrever sobre o amor, mas já faz um tempo que não sinto vontade de escrever sobre qualquer outra coisa. Parece cômico, alguém que iniciou sua carreira na literatura, não conseguir escrever sobre tal coisa, mas parei de me julgar por isso, aprendi que durante a vida iremos nos deparar com inúmeras formas de amor e de amar. Aceitar isso também é estar em uma constante evolução.
Venho percebendo que o amor parece estar nos simples detalhes daquilo que a gente, às vezes, não percebe. Não falo somente do amor romântico, mas há tantas formas de experimentar o amor, que às vezes nos esquecemos disso.
Eu amo observar os fins de tarde e a forma como os tons de laranja e rosa se misturam no céu, amo o jeitinho com que os olhos da minha filha se fecham quando ela sorri para mim, como se, naquele momento, tudo que enfrentei na vida fosse necessário para chegar até ela.
Amo estar com a minha família, todo mundo junto, brincando e contando fofoquinhas enquanto nossos filhos brincam e correm pela sala, o tempo parece fragmentado naquele pequeno espaço-tempo, como se fosse um lembrete de que já fomos nós brincando e correndo, sendo essa uma das nossas poucas preocupações ao dia. Mas percebo que crescer também nos custa muito e encontrar o amor se torna uma tarefa difícil, o que é ainda mais complicado quando enfrentamos a vida da forma que ela é.
Muitos de nós vemos o amor apenas em sua personificação, buscando a todo custo alguém que nos ame e aceite nossos defeitos e falhas, ansiando por um “amor para toda vida” sem ao menos ser o amor da própria. Eu já fui essa pessoa e sei o quanto me custou… Estou aprendendo a ressignificar o amor e quanto mais aprendo sobre ele, mais surpreendente ele parece, pois se concretiza além das palavras “eu te amo”.
Tem gente que nos ama sem falar essas palavras; no cuidado, no acalento, no brincar no chão da sala com os brinquedos espalhados sem ignorar o “mamãe, brinca comigo?” Tem gente que nos ama de graça, sem pedir nada em troca, que tenta nos desvendar e nos ler como se fôssemos uma edição especial em capa dura, enquanto outros nos tratam como livros vagabundos de um sebo qualquer.
Há tantas formas de amar que nós passaremos a vida inteira procurando-a, desvendando-a, sendo ainda mais felizes quando percebermos o amor em suas pequenas manifestações de afeto e carinho, somos tudo e nada ao mesmo tempo, somos ouro ou prata, somos hoje e ontem, mas quem nos ama de verdade nunca nos deixa para depois.
Eu amo amar os dias ensolarados, os memes engraçados e o papo furado com quem sei que possa contar. Eu amo ser ouvida e acolhida, apesar dos meus dias nublados. Amo sorrir novamente e reconhecer que quando deixei de me amar, ensinei aos outros que deveria ser tratada assim, mas hoje sei que por insensatez, isso quase me levou ao fim, embora, tinha apenas um ponto de partida para o reencontro de mim.
Convido-te a fazer o mesmo e, com muito apreço, olhar com carinho para dentro de si. Há várias formas de ser e ver o amor. Comece por você.