O TEMPO É UM GRANDE MESTRE

maio 4, 2025

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa Quando somos jovens, nos sentimos reis de um trono de ilusões.

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa

Quando somos jovens, nos sentimos reis de um trono de ilusões. Achamos que sabemos tudo, que o mundo é pequeno demais para nossos sonhos grandiosos. Estudar parece cansativo e uma perda de tempo. Conselhos soam como crítica, e paciência é uma virtude que deixamos para as pessoas mais velhas.

Guardamos mágoas como troféus. Sofremos como se cada dor fosse o fim do mundo. Somos implacáveis com os erros alheios e cegos aos nossos próprios tropeços. O perdão é uma virtude que mora longe demais para ser visitado. Acreditamos que estamos certos, sempre. E que a vida vai se curvar à nossa certeza juvenil.

Mas o tempo, esse mestre silencioso e persistente, vai nos moldando e mostrando que sabedoria não é arrogância, e que a verdadeira força está em reconhecer as próprias vulnerabilidades. Com a maturidade, olhamos para trás e enxergamos nossos erros através de uma lupa que nos permite enxergar com mais clareza do que gostaríamos. E assim percebemos o quanto fomos duros, não só com os outros, mas principalmente conosco.

O tempo também nos mostra que o silêncio de um abraço vale mais do que mil palavras ditas com orgulho. Que aquele pedido de desculpas que nunca fizemos, poderia ter mudado a trajetória de uma vida. E que a pressa de ter razão nos roubou a chance de compreender melhor o outro. Descobrimos que não há honra em vencer discussões, mas sim em manter relações.

É só com o passar dos anos que entendemos o valor da escuta atenta, do olhar gentil e do cuidado com quem nos cerca. A juventude tem pressa, mas a vida pede pausa. E, muitas vezes, é no intervalo entre um erro e outro que se esconde a verdadeira sabedoria. Mas a juventude não permite que vejamos estas verdades.

No fim das contas, não se trata de viver sem erros, mas de aprender com eles. E de transformar arrependimentos em caminhos novos. Porque a maior vitória da maturidade não é saber tudo — é saber que ainda temos muito a aprender, sempre.

Com o tempo, aprendemos que nem toda vitória precisa ser comemorada e nem toda derrota é o fim. Algumas perdas vêm para nos ensinar mais do que qualquer conquista. E, muitas vezes, aquilo que julgávamos indispensável se revela apenas uma etapa, não o destino. A vida, aos poucos, nos ensina a desapegar — de pessoas, de ideias fixas, de versões antigas de nós mesmos.

Percebemos também que a felicidade não mora em grandes feitos, mas nos detalhes esquecidos: um café quente numa manhã fria, uma conversa despretensiosa, um sorriso espontâneo, uma gota orvalho caindo sobre as flores... Quando somos jovens, queremos tudo ao mesmo tempo, com o tempo, aprendemos a saborear as coisas uma de cada vez. É como se os sentidos ganhassem mais profundidade, e a alma, mais espaço para respirar.

Com maturidade, também entendemos que ser forte não é nunca cair, mas saber levantar com mais serenidade. Afinal, a verdadeira coragem está em se abrir, em admitir fragilidades, em pedir ajuda quando for preciso. A juventude, às vezes, confunde resistência com dureza, enquanto a vida, por sua vez, mostra que flexibilidade é o que realmente nos mantém de pé.

Por fim, aprendemos que ninguém caminha sozinho por muito tempo. E que os vínculos que cultivamos com amor, respeito e paciência são os únicos tesouros que resistem ao tempo. A juventude corre para conquistar o mundo, mas é com os anos que entendemos: o verdadeiro mundo a conquistar é o nosso interior — e as relações que fazemos florescer ao longo do caminho.

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