O TEMPO DE AMIZADE

abril 6, 2025

José Luiz Ricchetti – Engenheiro e Empresário Houve um tempo em que eu acreditava que amizade era sinônimo de presença constante.

José Luiz Ricchetti - Engenheiro e Empresário

Houve um tempo em que eu acreditava que amizade era sinônimo de presença constante. Como se fosse possível medir afeto pelo número de mensagens trocadas por dia ou pelas horas gastas em conversas que não deixavam espaço para o silêncio. Eu, naquela inocência juvenil que tanto romantiza o afeto, achava que quem se afastava, esquecia.

Mas o tempo, sempre tão paciente em suas lições, me mostrou que amizade não se mede por frequência, e sim por profundidade. E que há amizades que florescem mesmo na ausência. Que sobrevivem às estações, aos hiatos, aos silêncios mais longos do que gostaríamos de admitir.

A amizade madura não pede justificativas. Ela entende o "não deu tempo", o "fiquei sumido", o "a vida me engoliu um pouco". E mesmo assim, permanece. Porque ela sabe que amor de verdade não se resume à presença física, mas à permanência silenciosa no coração.

É reconfortante saber que existem pessoas que a gente pode reencontrar depois de anos e, ainda assim, continuar a conversa como se o último café tivesse sido ontem. Gente que te olha no fundo dos olhos e reconhece a tua essência, mesmo que o rosto tenha ganhado rugas e os cabelos tenham ficado grisalhos.

Amizade madura é aquela que não exige explicações, mas oferece escuta. Que sabe rir das memórias e chorar junto nas perdas. Que não pesa na balança dos afetos, porque entende que em alguns ciclos da vida a gente dá, e em outros, só consegue receber.

É aquela que te manda uma mensagem do nada: "Sonhei com você, tá tudo bem?" - e você sorri, porque sabe que, mesmo à distância, alguém pensou em ti com carinho verdadeiro.

A amizade madura mora nas entrelinhas. No "pô, vacilou", mas também no "desculpa, eu tava mal". Ela não se apressa em julgar, mas também não se acovarda em dizer a verdade.

Ela não compete, não se impõe, não se mede. Ela existe. Como o vento que não se vê, mas refresca. Como a sombra da mangueira da infância: sempre lá, mesmo quando esquecemos de passar por ela.

Sim, a amizade madura é escolha. É aquela pessoa que poderia ter sido só mais um rosto perdido no cruzamento da vida, mas que, por algum motivo bonito e inexplicável, virou parte da nossa história.

E por isso, mesmo que os anos passem e os caminhos se desencontrem, quando nos revemos, é como se o tempo, esse velho sábio, apenas sorrisse e dissesse:

"Eu sabia que vocês ainda estavam aqui, um no coração do outro."

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