O TAJ MAHAL E AS LIÇÕES DA ÍNDIA
Por José Luiz Ricchetti Viajar à Índia era, para mim, mais do que uma questão profissional.

Por José Luiz Ricchetti
Viajar à Índia era, para mim, mais do que uma questão profissional. Após enfrentar graves problemas financeiros causados por antigos sócios, e sentir minha vida pessoal se desestruturar, decidi que precisava de algo mais. Um recomeço. Um reencontro comigo mesmo.
Antes de embarcar, busquei um guru indiano. Em poucas aulas, contei a ele minhas aflições. Ele me ouviu em silêncio e, ao final, me disse com firmeza serena:
— Aproveite a viagem. Você precisa se reencontrar.
Após quatro dias intensos em Nova Délhi, decidi visitar o Taj Mahal. O motorista, gentilmente cedido por um cliente, sugeriu irmos por uma estrada interna. Era um caminho mais longo, mas que prometia mostrar a Índia real.

O que vivi ali foi um espetáculo caótico: vacas deitadas no asfalto, caminhões na contramão, tuk-tuks lotados, poeira, lixo, macacos e buzinas incessantes. A viagem durou cinco horas — um verdadeiro filme de realismo fantástico visto da janela de uma Toyota SUV.
Cheguei a Agra exausto e descrente. No quarto do hotel, ainda agitado pela viagem, abri ao acaso um livreto que o guru havia me dado. As palavras de Gandhi saltaram como um sinal:
“Mantenha seus pensamentos positivos, porque eles se tornam seu destino.”
Na manhã seguinte, antes mesmo das sete, eu já aguardava ansioso no hall. Quando nos aproximamos do Taj, vi um velho ancião vendendo incensos e livros antigos sobre uma manta. Simples, de barba branca, vestindo um típico dhote, me saudou com um sorriso e o tradicional namastê. Acabou se oferecendo como meu guia — e, após alguma relutância, aceitei.
Ao cruzarmos o portal de arenito, fui tomado por uma visão inesquecível: o Taj Mahal reluzindo em mármore branco, refletido nos espelhos d’água, parecia flutuar. Era, como disse Tagore, “uma lágrima solitária no rosto do tempo.”

O ancião caminhava ao meu lado e narrava com doçura a história do monumento:
— O imperador Shah Jahan mandou construí-lo em memória de sua esposa favorita. Ela era seu grande amor, e o Taj Mahal é seu túmulo, à beira do rio Yamuna. Por isso, é conhecido como a maior prova de amor do mundo.
Ao fim da visita, lhe agradeci com uma boa gorjeta. Ele sorriu, fez reverências e, como quem oferece um segredo antigo, me presenteou com um pequeno pergaminho:
— Baba, aceite esta lenda sobre a sabedoria de Brahma.
Mais tarde, no restaurante do hotel, abri o papel. Era a história da “Divindade Perdida”:
No passado, os humanos tinham poderes divinos, mas os usaram mal. Brahma, então, decidiu escondê-los.
— No fundo do mar? No topo da montanha? — sugeriram os deuses.
— Não — disse Brahma. — Eles cavarão, mergulharão, escalarão.
— Vamos escondê-los dentro de seu próprio ser.
E assim foi feito.
Desde então, o ser humano busca fora aquilo que sempre esteve dentro.
Fechei o pergaminho com os olhos marejados. Uma lágrima escorreu, e naquele instante tudo fez sentido: a estrada caótica, o Taj resplandecente, o conselho do guru, as palavras de Gandhi, e agora a lenda de Brahma. Tudo convergia para uma única mensagem.

E assim como os raios do sol explodiam sobre o mármore do Taj Mahal, uma frase me atravessou a alma — talvez inspirada por Tagore, talvez soprada pelo próprio tempo:
“Uma lágrima solitária pode reencontrar, dentro do nosso próprio ser, os pensamentos positivos que transformarão nossos valores — e determinarão nosso destino no rosto do tempo.”
Namastê.