O sabor desconhecido
Bruna Torres -Jornalista e escritora Eu particularmente, gosto muito de comer coisas saborosas quando estou tendo um dia difícil, ou simplesmente quando bate a vontade, qualquer coisa com chocolate é capaz de mudar o meu dia.

Bruna Torres -Jornalista e escritora
Eu particularmente, gosto muito de comer coisas saborosas quando estou tendo um dia difícil, ou simplesmente quando bate a vontade, qualquer coisa com chocolate é capaz de mudar o meu dia.
Certa vez, dentre os meus péssimos hábitos de almoçar salgado, ou só um "engana bucho", deparei-me com uma prateleira da lanchonete repleta de doces e guloseimas dos mais variados tipos: brigadeiro, beijinho, bolo de pote, tortas e a atraente empada doce, que parecia estar rodeada de glitter e tons coloridos numa placa que eu só podia ver na mente com os dizeres "compre-me".
Enfim, eu terminei o salgado, bebi o suco, chamei aquilo de almoço e fui trabalhar.
O dia tinha sido tranquilo, mas a vontade de comer uma coisinha doce prevaleceu no fim da noite, retornei à loja, pensando em comer outro salgado para "enganar o bucho" para aguentar o longo trajeto até em casa, mas a sedutora empada ainda estava lá, uma tentação em dose dupla, metade chocolate, metade morango… Completamente fisgada pela guloseima, deixei para trás o salgado e cedi à tentação.

A empada doce era saborosa, mas surpreendi-me quando percebi que ela não era tão gostosa quanto parecia, na verdade, o creme de morango tinha um gosto forte que até amargava na boca.
Então, com a mente inquieta como sempre, notei que algumas experiências e pessoas são exatamente assim, por trás de uma casca, de uma aparência, elas não tão saborosas, não são tudo aquilo que aparentam, às vezes são tão frágeis quanto a massa daquela empada, que se desfaz na boca com a primeira mordida e outras têm uma mistura de sabor tão intensa que pode até causar estranheza, não ser tão interessante, ou de fato, tão saborosa assim.
Percebi também que às vezes as coisas são apenas frutos da nossa idealização, por desejo, curiosidade ou paixão, a idealização faz qualquer doce se transformar numa obra prima da culinária, até que se prove, até que se dê a primeira mordida para atestar.
Algumas pessoas são assim, colocamos elas em patamares tão altos que elas são aquele atraente doce na prateleira. Quem nunca comeu algo pela segunda vez e descobriu que o sabor não era tão bom quanto o da primeira? Às vezes muitos fatores podem mudar nossa perspectiva sobre algo, memória afetiva, o simples apego, a idealização ou até mesmo a romantização de algo que nem aconteceu de forma tão extraordinária assim, é só fruto da imaginação.

Que saibamos reconhecer e degustar as mais variadas experiências e guloseimas, mas tendo em mente também, que nós damos a elas a magnitude adequada à sua degustação – não estou falando apenas de comida.
Que saibamos reconhecer e degustar as mais variadas experiências e guloseimas, mas tendo em mente também, que nós damos a elas a magnitude adequada à sua degustação – não estou falando apenas de comida.
Esse parágrafo me pegou como não pensei, muitas vezes atribuímos sentidos, sabores e significados a coisas e alguéns que não devem e nem tem tanto a oferecer, muitas vezes são apenas o que são. Obrigada por proporcionar esse momento de reflexão e que saibamos procurar e aproveitar o real significado das coisas.