O Rio Grande e outros cinemas de Natal
Afrânio Pires Lemos – Texto publicado no blog do Cobra Bate-me certa saudade ao passar por sob a marquise do Cine Rio Grande, que em 1949 o senhor Otacílio Maia inaugurou, com festa e alegria para toda a cidade.

Afrânio Pires Lemos - Texto publicado no blog do Cobra
Bate-me certa saudade ao passar por sob a marquise do Cine Rio Grande, que em 1949 o senhor Otacílio Maia inaugurou, com festa e alegria para toda a cidade. E o filme inaugural, "Minha Rosa Silvestre", com Dennis Morgan, levou à nova catedral da diversão, quantidade de gente ansiosa para ver e sentir as novidades anunciadas.
Som estereofônico, cadeiras estofadas, capacidade para 1.200 pessoas, sessões contínuas, do melhor e do manual de filmes, máquinas novas, empreendimento ousado para uma capital que crescia, o suficiente apenas para não se tornar fraca ante às congêneres.
E a turma do Rex, que estava acostumada com a Sessão das Moças, às quartas-feiras e com as matinês de domingo, onde na calçada se trocava e vendia Gibi e Globo Juvenil, começou a se dividir. Por um instante, que se abandonava o Rex.
Xixico correu em socorro da sua fortaleza, e resolveu remodelações na estrutura frontal e cuidou de se importar melhores e mais filmes. E inesquecíveis, como promete.
Já disputávamos do São Luiz, inaugurado na Avenida Dois, com sucesso também notável, um sério contender do Rio Grande no mercado competitivo, era a briga para quem tinha a melhor promoção e cartaz. O São Luiz, no começo, atraía gente, principalmente aos domingos, nas matinês, com filmes da Paramount, Universal, Metro e Republic. E alguns alegres da Disney, que encantavam.
Mas, o Rio Grande não estava para prosas. Era grande, bonito, moderno, num ponto estratégico, no meio do burburinho do Centro, onde florescia a nova Natal, com o esvaziamento da Ribeira, que por sua vez ainda chorava o Politeama que, ali sim, foi desmantelado. Sucesso geral em tudo. Na mudança de hábitos, na compreensão do que ocorreria no mundo do cinema, um novo entretenimento que há muito estava em andamento, sem desrespeito algum para o teatro.
O Rio Grande, em sua pose de novo xodó, vivia festas, comoção. Inventou, inclusive, as transmissões de jogos, pois havia um telão dos bons. Os filmes terminavam geralmente em quatro a cinco horas e com as sessões contínuas, toda a rapaziada saía nas conversas e muitos ainda se dirigiam aos cafés nos vestíbulos novos do centro da cidade e aos outros. De braços dados com as outras, a se ver na esquina do Sobradinho de Dr. Antônio Soares até a outra esquina, na Felipe Camarão.
O Rio Grande teve influência na moda em Natal, como o Politeama, como o Rex e o São Luiz. Como o velho São Pedro, que em 1934 era o melhor cinema da cidade. Mas, o Rio Grande, bravo, com filmes que davam política e mercado, detentora da cadeia da Warner, a grande excursão dos melhores filmes, apreciada para a cidade toda.
Imbatível foi por dez, vinte anos. Depois veio a TV. E lentamente o Rio Grande foi se indo, junto, o Rex e o São Luiz; e depois, o Rio I e o II, 200 lugares, mais novo. Vai se sustentando como pode.
E se Otacílio Maia, que fez e desfez com gosto, tivesse agora Errol Flynn, num momento assim.
Com informações: Livro O Potiguar

Interessante esta matéria, e como as coisas mudaram.