O poder de um carro
Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa Observando o comportamento de alguns motoristas no trânsito de Natal, cheguei à conclusão de que um carro dá muito poder àquele que o conduz.
Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa
Observando o comportamento de alguns motoristas no trânsito de Natal, cheguei à conclusão de que um carro dá muito poder àquele que o conduz. O carro é realmente uma arma muito poderosa e perigosa na mão de algumas pessoas que guiam pelas ruas da Cidade do Sol, ou por este Brasil a fora. Dentro de um veículo, o indivíduo sente-se poderoso ao ponto de ser descortês, mal-educado, malcriado, enfim, completamente esquecido do que significa a palavra civilidade, em relação ao motorista do veículo ao seu lado.
Uma boa parte dos motoristas reveste-se de grande poder quando está ao volante do um carro, e desse modo, acredita que a pista por onde trafega está disponível somente para ele, que se sente no direito de ouvir o som do seu carro no volume que bem entender, como se os outros fossem obrigados a gostar do mesmo estilo musical que ele.
Assim, acaba por também sentir-se no direito de xingar a mãe do outro, furar a fila, parar em fila dupla, ultrapassar pela direita, não fazer uso da seta para indicar àquele que vem atrás qual a direção que vai tomar e o pior: estaciona o veículo nas vagas reservadas para os idosos e para os deficientes, sem a menor cerimônia. E, na maior “cara de pau”, quando é flagrado nesse desrespeito, afirma na maior desfaçatez: “é rapidinho e já vou sair”.
Não é difícil verificar que a qualquer momento, o tráfego pode ficar congestionado simplesmente por causa de uma briga de trânsito provocada pela falta de educação de algum motorista. Muitas destas brigas podem acabar em morte, quando a situação poderia ser solucionada com uma simples palavra, quase esquecida quando se trata de briga de trânsito: desculpe. Quase ninguém mais usa esta palavra no trânsito, porque dificilmente alguém assume seu erro quando se trata de dirigir um veículo.
Verifica-se que no trânsito, especialmente na cidade onde vivo, já não existe tolerância, paciência ou cordialidade entre as pessoas sempre tão apressadas, atrasadas e estressadas para o cumprimento das suas obrigações. Com a pressa desenfreada imposta pela vida moderna, as pessoas tornam-se deseducadas e grosseiras umas com as outras. E mais: uma boa parte acha isso natural.
O público masculino, que pela própria natureza já se sente “dono do mundo”, piora muito seu comportamento quando está ao volante de um carro. A situação ainda fica pior dependendo do tamanho do veículo: quanto maior for o carro, maior será o poder que seu condutor acredita possuir. Se o veículo for daqueles grandões importados, o sujeito que o dirige acha que é um deus e os outros devem curvar-se diante dele.
Desse modo, se uma mulher estiver no trânsito ao lado de um homem que conduz um veículo desses importados e bem grandes, pode preparar os ouvidos porque certamente vai ouvir pérolas do tipo: “lugar de mulher é na cozinha”. Ora bolas, o lugar da mulher é onde ela quiser e bem entender estar.
Importante lembrar que as mulheres, de acordo com estudos realizados, são consideradas melhores motoristas do que os homens. É por isto que as indústrias automobilísticas investem em veículos voltados exclusivamente para o público feminino. É por isto também, que as empresas de seguro oferecem descontos significativos às mulheres, porque elas envolvem-se menos em acidentes e quando se envolvem, os danos verificados nos automóveis são de menor gravidade.
Outra constatação triste é a falta de punição aos assassinos do trânsito. Quem tem a desdita de matar alguém no trânsito, seja por descuido, acidente, fatalidade, seja lá por que motivo for dificilmente irá para a cadeia. Aliás, vivo me perguntando para que existem tantas leis no Brasil? Afinal, fica claro que as mortes por acidentes de trânsito, na maioria das vezes, acabam sem punição ou são impostas penalidades pífias, que em nada reparam o dano provocado.