O PESO DO CONHECIMENTO

março 23, 2025

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa O sol se põe, e a cidade continua sua dança apressada, como sempre.

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga • Filósofa

O sol se põe, e a cidade continua sua dança apressada, como sempre. As ruas, iluminadas por lâmpadas frias e impessoais, transbordam de pessoas, mas são vazias de alma. No meio do caos, um pequeno grupo de indivíduos caminha com a cabeça erguida, mas, ao invés de se perder na multidão, carrega um fardo invisível sobre seus ombros — o conhecimento. Como uma sombra que não se desfaz, ele pesa nos ombros daqueles que conseguem enxergar além da superfície.

Arthur Schopenhauer, em sua amarga visão do mundo, nos lembra de que o conhecimento, longe de ser uma bênção, é uma condenação. Para ele, conhecer a verdade é, na realidade, um ato de sofrimento e de dor. E ele estava certo. No Brasil de hoje, onde a ignorância é quase uma forma de anestesia social, aqueles que buscam entender o que realmente está acontecendo não podem evitar sentir o peso da realidade.

Enquanto muitos se entretêm com novelas, memes e discursos fáceis, outros são confrontados com o abismo de um país em crise. Mas qual é a escolha? Fechar os olhos, como a maioria faz, ou ver e sofrer sabendo-se pequeno demais para fazer alguma coisa?

Aqueles que têm o privilégio — ou o fardo — de perceber o que está acontecendo no Brasil atual não encontram respostas fáceis. Somos bombardeados diariamente com informações superficiais, desinformação, e uma grande parte da população parece estar imersa em um estado de letargia que impede qualquer reflexão profunda. A política se tornou um espetáculo vazio, amorfo enquanto as questões sociais, que deveriam ser urgentes, se tornaram ruídos que ecoam em um vazio crescente.

Há quem diga que “não se deve misturar política com a vida cotidiana”. Mas essa é uma falácia cruel, que só ajuda a perpetuar o ciclo de apatia. O conhecimento não é só um luxo intelectual: é uma ferramenta de resistência. E resistir ao mundo tal como ele é, com suas injustiças e desigualdades escancaradas, é uma carga pesada demais para um ser humano carregar. Quem conhece a verdade não pode mais fingir que tudo está bem, enquanto a dor do coletivo grita.

E o que fazer com isso? A resposta não é fácil. O conhecimento, de fato, isolou muitos. Ele afastou quem preferia viver na ignorância confortável. Ao compreender o real estado das coisas, aqueles que despertaram para a verdadeira natureza da sociedade brasileira se veem presos entre a solidão de suas próprias reflexões e a frustração de um povo que se recusa a abrir os olhos.

Como Schopenhauer nos adverte, o conhecimento só traz dor — mas também é a única coisa que pode nos salvar. O Brasil, em sua indiferença, caminha como uma multidão que dorme sem perceber que o relógio está a contar os minutos até a catástrofe.

Enquanto uns se deliciam com distrações efêmeras, outros tentam carregar o peso do que sabem. Mas será que, ao final, o despertar valerá a pena? Ou estaremos todos condenados a viver com o peso de um conhecimento que não podemos compartilhar? O dilema é profundo, mas a resposta é simples: talvez, o maior fardo seja continuar sendo um espectador, sabendo de tudo e não podendo fazer nada.

E a dor persiste, como um eco nas ruas silenciosas de um país que ainda não despertou para a verdade. E no final, só nos resta a constatação de que o conhecimento se tornou um fardo pesado demais.

Uma resposta para “O PESO DO CONHECIMENTO”

  1. Realmente, o peso do conhecimento nos constrange na impossibilidade de não podermos fazer absolutamente nada!Num país de gritantes contrastes resta-nos assistir o desenrolar de tanta injustiça.