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outubro 10, 2021

O OURO DO MAR

Chagas Lopes– Editor do Jornal ONDA Vamos falar da Norte Pesca S/A que surgiu em nosso cenário na década de 1970, instalando-se em Natal na Rua Chile, 216 – Bairro da Ribeira, em meados de 1972, uma filial da matriz de Recife/PE.

Chagas Lopes- Editor do Jornal ONDA

Vamos falar da Norte Pesca S/A que surgiu em nosso cenário na década de 1970, instalando-se em Natal na Rua Chile, 216 - Bairro da Ribeira, em meados de 1972, uma filial da matriz de Recife/PE. No ano de 1976, ingresso na citada empresa para trabalhar no almoxarifado, nesse ambiente, tenho a sorte de conhecer pessoas, e fazer amizades com todos, também um ano de uma grande safra da lagosta. Conheço “mestres” da pesca, pescadores simples e até mesmo os armadores de embarcações, até padrinho de uma filha, consegui com as amizades.

Popularmente, “história de pescador” é sinônimo de exagero, lorota, vantagem, e mesmo mentira. Espero que este, demonstre que para além da gaiatice, existe uma história que modificou em muito o cenário do litoral natalense e brasileiro nas últimas décadas e que está viva na memória e no cotidiano de seus protagonistas.

O surgimento da indústria da pesca de lagosta no RN traz o impacto de uma nova atividade econômica e social no cotidiano de pescadores potiguares e de suas famílias. Isso foi alcançado, sobretudo, a partir da chegada da Norte Pesca S/A em Natal, os pescadores de comunidades litorâneas do interior do Estado do RN, particularmente os de Tibau do Sul e Barra de Maxaranguape.

- “Pesquisadores concordam em afirmar que a pesca da lagosta para fins comerciais teve início, no litoral do RN, em 1965, "utilizando típicas embarcações de pesca artesanal do nordeste brasileiro, de baixo rendimento e raio de ação muito limitado, que operavam usando covos (manzuás) e gérérés” –

 Tiveram a sorte de serem escolhidas como base de apoio a Norte Pesca S/A. Com esses profissionais que atuam nas áreas da pesca, a empresa ofereceu oportunidades de qualificação à comunidade que desejava se inserir no mercado de trabalho pesqueiro, com vistas a aumentar as receitas provenientes da atividade nos municípios. Com a chegada da base da Norte Pesca nesses dois municípios, surge as colônias de pescadores; em Tibau do Sul, instala-se a Z-12 e em Barra de Maxaranguape surge a Z-15.

“As Colônias de Pescadores surgiriam no século XX, em 1919, e, assim como os Distritos, tinham como objetivo segregar os pescadores para que servissem de reserva para Marinha de Guerra, mas traziam um novo aspecto: reuni-los para melhor controlá-los, atendendo aos interesses de quem detinha o poder econômico na pesca”.

Antônio Vicente, morador de Tibau do Sul, mais conhecido por “Sêo” Vicente foi, ao longo dos anos, um armador iniciante, consegue através do seu irmão, vereador da cidade, comprar um barco para, em sociedade, partirem para a pesca da lagosta. Empolgado com tanta fartura da pesca e o dinheiro entrando em seu bolso com mais frequência, resolve usufruir de forma não tanto normal. Gastar nas noitadas da Ribeira, no seu imaginário, o dinheiro nunca acabaria. “Sêo” Vicente juntamente com a tripulação do seu barco resolve conhecer a Boate Arpeje, situada no Edifício Galhardo, que ficava vizinho a Norte Pesca, no número 161, da Rua Chile.

- Segundo Gilmar de Siqueira Costa, um dos aspectos mais curiosos relacionados ao Edifício Galhardo é o fato de ter sediado durante muito tempo uma das mais famosas casas de meretrício do Nordeste – o Cabaré Arpeje. O autor aponta como sendo uma “casa de recursos vinculada à cultura da boemia e dos cabarés, geradora de toda uma série de mitologias e anedotas referentes a personagens destacados na vida social, no decorrer do seu tempo de atuação”.

Na Boate Arpeje, ele era tratado pelas prostitutas como um grande armador da pesca da lagosta, com os bolsos cheiros de dinheiro e uma concubina ao lado, as coisas ficam divertidas, e quando ele com voz rouca e pausada pede para encerrar as atividades para os próximos clientes da noite, e as despesas à partir daquela hora – 21h – era sua. As poucas pessoas que ainda estavam no recinto, ficaram surpresos com a proposta e despesa. Isso, porque elas não sabiam de quem se tratava, mas “Sêo” Vicente costumava gastar o seu dinheiro de modo diferente, não tinha orçamento nem objetivos para o futuro, sabia que no dia seguinte, tudo voltava ao normal.

Boate Arpeje, no bairro da Ribeira, em Natal/RN

Como não houve um sonho e um planejamento com o seu dinheiro, hoje ele reside em uma casinha no conjunto Nova Natal. Falando em traçar objetivos, vale a pena ressaltar que você deve começar aos poucos. Não adianta querer economizar 30% do salário se você já comprometeu boa parte da sua renda em prestações. O ideal é pagar as dívidas e ir guardando o quanto der, até o momento em que você conseguirá economizar o percentual desejado.

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