O mero mortal que se achava um deus e eu era ateísta

novembro 17, 2024

Bruna Torres- Jornalista e Escritora – @autorabrunatorres O título desta crônica já diz tudo, mas a narrativa é a mesma.

Bruna Torres- Jornalista e Escritora - @autorabrunatorres

O título desta crônica já diz tudo, mas a narrativa é a mesma. A sociedade cria monstros, faz do homem comum, um homem que se acha acima da média, diferente dos demais. A singularidade muito me impressiona. O que nos torna únicos? Por que muitos de nós querem tanto ser diferentes? O que faz um homem se achar diferente dos demais? Melhor, único, diferentão...

Percebi, entre áudios e conversas trocadas, que muitas mulheres fortalecem o ego masculino. Por carência, por dinheiro, por status, ou outros motivos. Alimentamos a ideia de um homem singular, ou um homem "diferente" e quando eles fazem o mínimo, o básico, são tidos como especiais, ou são tratados como tais.

A síndrome vira-lata do "red pill" vem se espalhando como um câncer, alastrando uma ideia de "homem provedor", "macho alfa" ou simplesmente "Homem", quando consegue além da superficialidade. Mas são, apenas, meninos inseguros tentando se sustentar em uma ideia que não os façam perceber: eles são todos iguais e descartáveis.

Disseminam o conceito de "bancar mulher", surgindo muitas questões, inclusive a ideia tola de cavalheirismo, homem tradicional, raiz... E aí, quando pensam que bancar mulher é pagar um Uber, um jantar ... para se gabar depois. Entende porque esses caras estão sempre sozinhos, caçando paixões e problemas.

E, ressalto, eles seguem um padrão. Eles separam mulheres em nichos, "para casar", "para comer", "difícil" e "fácil".

Entretanto, a máscara não demora muito a cair. Para as "difíceis", eles costumam fingir ser pacientes, diferentes dos outros, não são machistas. "Detestam" homens que falam de mulheres e as segmentam, postam vídeos que falam de grana, de masculinidade, do papel do homem. A mesma balela de sempre, eles anseiam a singularidade. Desejam acima de tudo, serem superiores, louváveis. Mas, quando rejeitados, eles mostram realmente quem são.

De forma intrínseca, também é culpa de nós mulheres, quando não nos valorizamos. Quando a dependência fala mais alto e nos coloca à mercê de migalhas de afeto masculino. Já estive nesse local, sofrível, e não foi fácil sair, emergir e descobrir o quanto eu valia.

A sociedade enraíza nas mulheres a necessidade de um homem em suas vidas, desde as brincadeiras da infância, atribuindo o papel de "papai" e "mamãe", aos romances que vendem homens ricos, bonitos e perfeitos, dispostos a destruir o mundo para nos salvar.

Mas, quando descobrirmos que não somos donzelas em perigo e temos a capacidade de dominar dragões sem descer do salto, a narrativa da indefesa, frágil e vulnerável, não os serve mais. Eles odeiam isso. Em contrapartida, a "mulher difícil", que se tornou difícil somente por não querê-lo, descobre que a rejeição fere o homem que se achava "perfeito demais" para não ser desejável. Para não ser escolhido.

Não tem outra forma de dizer isso. Uma mulher só é difícil para um homem, quando não quer ele. Simples assim. Não tiro o mérito da conquista, do charme, tudo que envolve esse universo. E não vou me aprofundar nisso, mas pessoas determinadas a ficarem juntas, farão de tudo para que isso aconteça. Porque desejam uma à outra de forma equivalente.

Enquanto isso, no mundo dos contos de fadas onde os homens acham que são deuses, cada vez mais as “princesas” estão escolhendo a si mesmas, antes de usar uma coroa delicada e frágil, tal qual a masculinidade de muitos “homens” por aí, sem H maiúsculo, eles são a junção de todos os diminutivos, que combinam com eles: pequenos demais para serem considerados homens de valor.

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