O lado negro do Capitão

março 9, 2025

Alex Medeiros – Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) – Texto publicado na Tribuna do Norte Alguém já disse, lá nos meus dias de juventude, que não é preciso ser nerd para gostar de histórias em quadrinhos.

Alex Medeiros - Jornalista e Escritor (@alexmedeiros1959) - Texto publicado na Tribuna do Norte

Alguém já disse, lá nos meus dias de juventude, que não é preciso ser nerd para gostar de histórias em quadrinhos. Parafraseando aquele comentário, digo agora que não é preciso forçar o cérebro para assistir aos filmes de super-heróis. Sábado passado, um dos aplicativos acoplados na minha TV piscou dando um sinal de que algo novo havia se incorporado às listas de filmes e séries que diariamente são atualizadas. Era o novo filme do Capitão América.

Desde que foi anunciado, o filme acendeu em mim o desconfiômetro de quem acompanha com liturgia de religiosidade a história dos principais personagens das editoras DC e Marvel, dedicando fidelidade à narrativa canônica desde os últimos anos da década de 1960, quando a primeira revistinha me veio às mãos para nunca mais deixar de ser uma paixão de consumo. Apesar das alterações no personagem, eu acreditava em algo bom no subtítulo de cunho literário.


Ora, nada mais pop do que a referência ao clássico de Aldous Huxley juntado a uma aventura do Capitão América, mesmo não sendo aquele super-herói clássico criado há quase 90 anos pela dupla Joe Simon e Jack Kirby, em 1941.


Obviamente que eu já esperava ver o uniforme e o escudo do capitão original, Steve Rogers, assumidos pelo seu velho parceiro Gavião Negro, Sam Wilson. E sabia também que Harrison Ford interpretaria um presidente da República.


Tenho lido elogios e críticas ao filme, numa escala de maior percentual às opiniões negativas. Em que pesem as alterações forçadas na influência política, eu não serei negativo para com uma aventura superior a alguns fracassos.


Sei que lá na frente a Marvel vai descobrir que não cola dar ao Gavião Negro a identidade branca do Capitão América. Ora, se era um improviso ideológico, então por que nomear o branco Joaquim Torres como novo Gavião Negro?


Bom, mas é divertido olhar aquele novo capitão jogando o escudo enquanto voa com as asas do super-herói na vida anterior do Sam Wilson. E um tanto hilário ver o chefe da Casa Branca afetado nos raios gama do incrível Hulk.


Parece que muitos fãs não perceberam algumas cenas dialogando com outros filmes do chamado Universo Marvel. Talvez pela fraca receptividade alcançada pelas novas franquias que invadiram recentemente o cinema e o streaming.


Também não é fácil ter tanta percepção assim, mesmo aos que transportaram portas da consciência nos livros, admiráveis ou não, dos mundos novos de escritores como Huxley, inspirador do título. Afinal, são mais de 30 tramas.


É mais um filme de entretenimento, em tomadas ágeis e diálogos em sua maioria curtos. Diria de nível médio, já que há os de alto nível como Vingadores Ultimato, Pantera Negra e alguns do Homem-Aranha. Dá para racionalizar.


Ninguém mais que eu, um velho admirador dos heróis da Era de Prata (vi inclusive muitos da Era de Ouro), poderia detonar as mudanças política e étnica. Mas me acostumei a ver personagens morrerem e logo voltarem.


Quem quiser entender o contexto e imaginar o porvir, é só assistir às produções anteriores da Marvel, como as séries Falcão Negro e Soldado Invernal, Jéssica Jones, Demolidor, Wanda e Visão. E não esquecer os filmes dos Vingadores.


Ao final da trama terminará concordando comigo e verá que viu um novo Capitão América, que com todas as modificações ainda está melhor que algumas aventuras pífias como Deadpool e Wolverine, Quantumania e Eternos.

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