O HOMEM QUE MORA EM MIM

abril 27, 2025

José Luiz Ricchetti Às vezes me sento diante do espelho – não o de vidro, mas o de dentro – e fico a observar o homem que mora em mim.

José Luiz Ricchetti

Às vezes me sento diante do espelho - não o de vidro, mas o de dentro - e fico a observar o homem que mora em mim.

Não falo daquele que escreve livros, participa de assembleias, organiza reuniões ou desarma fofocas em grupos de WhatsApp.

Falo do outro.

O que ainda escuta o sino da igrejinha de São Manuel ecoando na memória.

O que sente o cheiro do café coado da avó, misturado com o perfume do chão molhado depois da chuva de verão.

Sou um homem feito de pedaços.

Fragmentos de menino, de cronista, de executivo, de viajante.

Fui de gravata por décadas, mas nunca deixei de escrever com o coração na manga.

Conheci países distantes, culturas milenares, mas foi debaixo da mangueira da infância que aprendi o essencial:

As melhores respostas não estão nas palavras…, mas no silêncio entre elas.

Carrego comigo memórias como se fossem cartas que nunca enviei.

Algumas endereçadas a pessoas que já partiram, outras que nunca chegaram.

Mas todas impregnadas de sentimento - porque é isso que me move.

Sou o irmão de um Guilherme imaginário que me ensinou lições reais.

O avô da Nina sapeca, que me devolve, em cada sorriso, a coragem de sonhar.

E também o avô da Clara - de personalidade forte e olhar firme, mas que esconde, na doçura de um gesto, uma ternura que encanta e acalma.

Sou o marido da Alessandra, a mulher que me acompanha com olhos de amor e fé.

E o pai da Karina, que é como uma flor que plantei e agora colho, todos os dias, com orgulho.

Mas também sou pai do Gustavo, um empreendedor nato - senhor das startups, inquieto por natureza, agora mergulhado nos mares profundos da inteligência artificial.

E do Thiago, que por anos caçou talentos no mundo do direito e agora ousa cozinhar sonhos no “Mi Madre”, seu novo projeto de restaurante em Londres, onde o tempero principal é a coragem.

Às vezes me perguntam quem sou.

E eu respondo, sorrindo:

Sou um aprendiz do tempo.

Um cronista do cotidiano.

Um colecionador de sentimentos.

E um alquimista - daqueles que transforma lembrança em poesia, saudade em ternura, e vida… em história.

Porque, no fim das contas, tudo que escrevo não é sobre mim.

É sobre todos nós.

Porque quando um coração escreve com verdade, ele não escreve apenas com tinta.

Escreve com alma.

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