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maio 15, 2022

O fantástico Alcyone Dowsley 

Nei Leandro de Castro – escritor  Alcyone Dowsley foi um verdadeiro personagem de romance, com suas excentricidades, tiradas de humor, voz que alcançava decibéis de carros de propaganda.

Motel Tahity - Foto: Brechando


Nei Leandro de Castro - escritor 


Alcyone Dowsley foi um verdadeiro personagem de romance, com suas excentricidades, tiradas de humor, voz que alcançava decibéis de carros de propaganda. Estava sempre sorrindo, contando piadas, relatando causos. Ainda hoje, os donos de motéis de Natal preferem não revelar seus negócios. Alcyone, fundador do Motel Tahiti, fazia questão de alardear a sua condição de moteleiro e até criava campanhas de propaganda para o seu negócio, espalhando faixas por toda a cidade.

Motel Tahiti (1979) Foto: Natal Nostálgica

Trabalhei nessas campanhas e ele me disse, de antemão, que não ia me pagar pelo meu trabalho. Faria permuta... Eu morava vizinho ao Tahiti e, vez por outra, Alcyone chegava na minha casa com bandejas colossais de patolas de caranguejo e outros quitutes. Fazia parte das permutas, que sempre dividi com a mulher casada com quem eu namoro. 


A cozinha do Tahiti era uma maravilha. Certa noite, levei um amigo carioca que eu hospedava para jantar no motel. Alcyone gostou muito do meu amigo Cláudio e, quando Sandra e eu dissemos que íamos voltar pra casa, ele pediu para o amigo ficar mais um pouco com ele, esticando o bate-papo, entornando uns uísques e beliscando delícias.

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Foto: Brechando

Quando chegamos em casa, já tarde da noite, a mulher do meu amigo, ciumentíssima, ligou do Rio. Sandra, sonolenta, disse que ele estava no motel. Não deu tempo de explicar: a mulher bateu o telefone e no dia seguinte chegava a Natal, com a fúria dos ciumentos mórbidos. Por mais que todos procurassem explicar a visita ao motel, a mulher discutiu três dias e três noites com o marido e depois se separou.

Quando contei o caso a Alcyone, ele deu uma gargalhada e disse: “Eu fiz um grande bem ao nosso amigo Cláudio. Cascavel tem que viver sozinha e morrer de pedrada...” 

A partir de 1985, de volta ao Rio depois de uma temporada em Natal, perdi o contato com o meu amigo Alcyone. Soube, poucos anos mais tarde, que ele havia morrido, pelo agravamento do seu diabetes. Foram com ele um humor maravilhoso, uma risada de espantar menino, uma generosidade que ele servia em bandejas colossais.

Ficou uma saudade que me revisitou hoje e não está querendo ir embora.

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