Nova Iorque não é aqui
Nilo Emerenciano – Arquiteto e escritor Não, meu irmão, asseguro, você não está chegando em Nova Iorque e sim em Natal, cidade abençoada pelo sol, postada entre as dunas, o rio Potengi e o mar.
Nilo Emerenciano - Arquiteto e escritor
Não, meu irmão, asseguro, você não está chegando em Nova Iorque e sim em Natal, cidade abençoada pelo sol, postada entre as dunas, o rio Potengi e o mar. Do alto desses morros o farol de Mãe Luíza sinaliza para todos que o paraíso começa aqui, onde a estrela de Belém e os Três Reis Magos saúdam sua chegada.
Se você não sabe onde está vou informar: esta é a terra de Luís da Câmara Cascudo, o historiador oficial da cidade e para sempre seu enamorado; do poeta e pintor Newton Navarro, que dá nome àquela ponte que você vê ao longe, na boca da barra do rio Potengi. Ali também está a secular Fortaleza dos Reis Magos, em forma de estrela, chantada firmemente por seus fundadores no século XVI.
Do outro lado do rio, entre as dunas, fica a antiga vila de pescadores da Redinha, terra de dona Dalila e Geraldo Preto, criadores do petisco de gingas fritas com tapioca. Naquela capela de pedras negras esteve o frei Damião oficiando as suas missões. Por lá também passou o padre José Vizir, casando pescadores e batizando seus filhos. Dali ele seguia em lombo de jumento ao longo do litoral, percorrendo a Barra do Rio, Pitangui e alhures. Desse trapiche zarpa o barco que todos os anos carrega a Nossa Senhora dos Navegantes a percorrer em festa as águas tranquilas e generosas do Rio Potengi.
Esse burgo é especialmente consagrado, tenha certeza. Aqui aportou, por artes do destino, uma caixa contendo a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Dizem que na caixa, encalhada nas pedras, havia escrito: “Onde essa Santa chegar, nenhum mal acontecerá”. Palavras proféticas, pois excetuando os males pequenos e corriqueiros, de menor monta, nossa cidade navega tranquila nas águas generosas da paz.
Pois é, companheiro. Aqui viveram e exerceram seu ofício Otoniel Menezes, Deífilo Gurgel, Veríssimo de Melo, Hélio Galvão. Por essas ruas circularam tipos populares como Zé Areia, Severina Embaixatriz, o poeta Milton Siqueira, André da Rebeca e outros que alegraram a vida cotidiana da cidade. Naquela esquina existia o café São Luís, ponto de encontro de políticos e escritores. Padre Zé Luís e seu sobrinho Honório Almeida eram assíduos. Assim como o poeta Jarbas Martins e Racine Santos, dramaturgo. Seguindo essa viela estreita vamos sair no beco da Casa Rio, onde funcionou o bar de Nazir, senhor das meladinhas e cervejas geladas.
Um pouco mais à frente você vai se deparar com o Beco da Lama de população flutuante extremamente variada. Quem sabe vai conhecer Assis Marinho, Jotó, Volonté. Um pouco mais a esquerda fica a praça que homenageia nosso Santo Padre João Maria, taumaturgo que viveu para servir os pobres – são tantos, meu Deus, são tantos- da cidade. A gente acende uma vela, como é tradição, e segue caminho, pois um pouco mais na frente, nessa grande praça, foi onde a cidade começou. Aqui era a casa de Câmara e Cadeia, o pelourinho e a igreja pequena, que aos poucos foi crescendo e se tornando essa bela catedral antiga.
Se seguirmos por essa ladeira vamos ver a Santa Cruz da Bica, antigo limite da cidade, e mais abaixo o riacho do baldo, hoje quase invisível. Para lá e além é o Alecrim, território de Gutenberg Costa, onde ele reina e pontifica. Voltando para os lados da grande ladeira da Avenida Junqueira Aires você vai ver o solar onde morou Luís da Câmara Cascudo e hoje funciona o Instituto Ludovicus. Sábio, o mestre viveu a meio caminho entre os xarias e canguleiros. Sim, canguleiros, pois aqui a gente começa a entrar em terras da Ribeira, antigamente um grande alagadiço.
Esse edifício na esquina era o Grande Hotel, do Major Theodorico Bezerra. Hospedou gente ilustre e era point dos americanos durante a guerra. Paulinho Lira marcava presença ao piano do restaurante. O Grande Hotel reclama um autor que conte a sua rica história. Agora se persigne, pois estamos passando em frente à Igreja do Bom Jesus das Dores e vamos em penetrar em área antes profana. Isso mesmo, essa avenida Almino Afonso abrigava os cabarés da cidade, todos com nomes que remetiam a um passado glorioso: Magriffe, Boate Estrela Ideal, Boate Paris, Arpége, sendo boate, claro, um eufemismo.
Vamos ouvir as vozes das ruas e becos da cidade? Seus seresteiros a cantar Praieira e Ranchinho de Palha. Os poemas de Jorge Fernandes, de Auta de Souza, de dona Miriam Coeli e Zila Mamede. As canções de Glorinha Oliveira e os choros de Ademilde Fonseca.
É meu irmão, já deu pra perceber que Nova Iorque não é aqui. Mas entendo sua confusão. Esse símbolo do mau gosto que foi erguido na entrada da cidade absolutamente não tem nada a ver conosco. Caiu de paraquedas. É uma aberração e um insulto a todos nós. É um símbolo desse tempo em que predomina um grupo que cultua a ignorância e busca destruir a cultura, as artes, a educação, a economia, o bom senso. Mas tudo um dia (que esperamos venha breve), vai passar. E nesse dia nossos artistas e artesãos, nossos ícones e fazedores de cultura voltarão às ruas e, como na música, cada paralelepípedo da velha cidade vai cantar. Enquanto isso nos resta vaiar: buuuuú, para aquele horror.
Seja bem-vindo.
Entendo sua indignação e me solidarizo, mas entendo também que esse empreendimento trará muitos empregos para nossa população e se esse foi o preço, infelizmente , vamos ter que pagar! Mas sugiro aos nossos políticos, juntamente como nossos talentosos artistas, realizar um projeto para colocar um monumento tão expressivo ou superior ao símbolo da Havan!
Sub emprego né? Vendendo mercadoria de baixa qualidade produzida com o trabalho escravo. Isso é um ideal de prosperidade ?
Infelizmente tenho que concordar com você que muitos dos nossos potiguares terão sub emprego.Mas isso não é a realidade do nosso país? Quanto as outras colocações, não vou nem comentar, porque daria um longo texto ou um debate. E não é o caso, não é mesmo?
Infelizmente, temos de contar com pessoas como a mensageira. A cidade nao te importa, nao queres saber do que a cidade esta pagando para que esse “empresario” plantar esse “Havan” em Natal ou qq outro lugar que chega.
Muito interessante o relato. Bem real. Me solidarizo a indignação por este monumento absurdo.
Vejo muita polêmica sobre a estátua da liberdade da Havan. Tudo nessa vida passa. O que dizer sobre as centenas de placas luminosas e outdoors feiosos na AV. Roberto Freire? O “progresso” e tudo mais na vida tem um determinado preço. No fim das contas tudo não passa de ilusão. O que dizer de uma Ribeira e Cidade Alta abandonadas e decadentes? O que dizer da centenária coleção do jornal A República sendo comida por traças e cupins? O que dizer dos nossos monumentos históricos abandonados, caindo aos pedaços? O que dizer de tantos descaso e abandonos?
Até agora só vi criticas à HAVAN porque seu dono é bolsonarista declarado. Não sei se o dono do “BOGAALERTA” é petista…mas se for,vá tomar no boga! OBS: seja democrático E publique meus comentários.
Meu querido amigo Nilo, de antigas épocas onde andávamos em segurança Porto da essa bela Natal, sua escrita é poética e os arremete a um tempo que nossos filhos e netos só saberão pelos.cintadores de história. Mas entendendo a sua indignação Nova York não é aqui e com certeza não é, o símbolo da Havana não menospreza a nossa história, pois para a empresa com certeza representa como sendo símbolo de liberdade fazendo esta empresa levar riquezas aos seus servidores, frente de trabalho remunerado. Meu querido amigo nossos olhos devem ser ampliados para o bem maior, em vez da crítica porque não conversar com o Sr. Luciano Hang, para prestigiar o artista local sem ferir a história deste empresário que somente ele poderia explicar o porque deste símbolo. Conheci sua primeira loja em Brusque, Santa Catarina. Vamos adiante, pois em particular o símbolo em nada afetou meu cotidiano, além do entendimento que riqueza, gera riqueza. Abraços meu amigo!
Sou o Dedé
Viva, Dedé! Um abraço! Respeito, claro a sua opinião. Sei que ama a cidade tanto quanto eu…! Mas preferia, quem sabe, uma estátua do padre João Maria…rsss
Peço desculpas pelos erros ortográficos modificados automaticamente pelo corretor, mas espero que a leitura possa ser compreendida. Obrigado
Viva os empregos gerados 👏🏻👏🏻👏🏻Crescimento para o estado , coisas que os governantes não fazem !E ainda não cuidam dos locais citados , a ponte vive escura ….. violência em todos os pontos turísticos ….
Viva a Havan, que traz um pouco de oportunidade a uma cidade mal gerida e com altos índices de violência. Viva o empreendedor brasileiro, guerreiro, que insiste em gerar emprego e renda com uma atividade honesta. Viva minha cidade Natal querida que pode contar com uma das maiores empresas do país, que se orgulha de ser brasileira e que costuma ter equipes de uma energia diferenciada!!
Viva os empregos gerados.Os pontos turísticos citados ,todos abandonsdos (pelo descasos dos governantes). Muita violência…e vcs preocupados com uma estátua, símbolo da Havan.
Estou com vergonha alheia ao ver todos os dias o símbolo da submissão brasileira. É humilhante ver a traição dos oligarcas que entregaram nosso país para eles, nossos donos…
Nem eu nem os americanos, vêem mau gosto na estátua da liberdade. Isso é progresso amigo. Graças a DEUS que não é a estrela do PT
Recebi essa sua postagem de um amigo que tem muito bom gosto e é fã incondicional da cidade do Natal, como eu. E confesso, passeei por cada canto que vc descreveu. Lembrei da boate Magriffe, a única em Natal que mantinha uma orquestra na casa. Uma descrição tão primorosa e vc “CAGOU NO PAU” na sua finalização, ao criticar a estátua da liberdade, que é o símbolo das LOJAS HAVAN, do grande empresário LUCIANO HANG, empregador de milhares de pessoas nesse Brasil afora. Deixe de ser “galado”…Esqueça essa ideologia política, pense num BRASIL melhor!
#Bolsonaro2022reeleito
Incrível como a população de Natal aceita tudo goela abaixo! O argumento de que a loja trará empregos não é válido para manter essa estátua de pé na entrada da cidade, até porque em muitas cidades a Havan foi obrigada a remover a estátua e mesmo assim a loja continua funcionando. A presença da estátua é um desrespeito à história de Natal. Mas estamos falando da cidade que elegeu Álvaro Dias em primeiro turno, então… não é de se esperar muita coisa.
Gostaria de entender esse conflito: a loja é brasileira, mas tem um símbolo dos E.U.A?
Um empreendimento, para ter destaque no ambiente em que se encontra só precisa de um bom projeto e uma boa marca . Estátua da liberdade, ou até mesmo outra( do Cristo Redentor, do “Padim Ciço” ou qualquer outra pra marcar uma empresa é coisa retrógrada. E de muito mau gosto. Um projeto arrojado e uma logomarca expressiva já dariam conta do recado. A estátua em questão está por demais desproporcional , no seu tamanho,em relação ao espaço físico