José Luiz Ricchetti

Que todas as noites sejam noites de núpcias... esta frase ressoa no peito como uma prece, um desejo sussurrado ao vento. Porque há algo de mágico na promessa de um recomeço a cada anoitecer. Não seria esse o segredo para manter o encanto da vida? Vestir o dia de esperança e a noite de encantamento, como se sempre houvesse um véu a ser erguido, um olhar a ser descoberto, um riso a ser celebrado.

Na dança das horas, quantos de nós esquecemos o perfume dos instantes? O calendário apressa-se em virar páginas, como se o tempo fosse uma ampulheta ansiosa, e nós, meros viajantes distraídos, permitimos que a bagagem pese sobre nossas costas. Mas e se, por um momento, deixássemos que o querer vencesse o poder? Que o amor desarmasse os medos e a coragem custasse menos do que a covardia?

O espelho nem sempre nos dá razão. Ele reflete verdades que nem sempre queremos ver e mentiras que gostamos de acreditar. Mas que não nos roubem a poesia! Que o desamparo não tome conta de nós, que os outonos nos envolvam com seu ouro envelhecido, e que cada jantar seja celebrado como uma última ceia, cheia de significados e despedidas adiadas.

Que os bons bares nunca se fechem, pois são refúgio dos que precisam sonhar. Que os corações não saiam de moda, que os abraços permaneçam intensos e que a lua de mel nunca se ponha. Porque, no fim das contas, viver é saber que cada noite pode ser uma noite de núpcias e que, se tivermos sorte, a corda que nos sustenta jamais se romperá.

José Luiz Ricchetti – 10/03/25